quinta-feira, 17 de junho de 2010

Crônicas de Caxambu

UM DIA INESQUECÍVEL!!!
    
Certo dia, levei minha filha à dermatologista. Essa receitou-lhe um filtro solar bem caro, e disse a mim ser muito eficiente. Resolvi então usar junto.
   Todos os dias de manhã, após o banho, passava o dito cujo no rosto. Em grande quantidade. Ficava brilhando como quem acabou de sair da academia, até pingava.
   Usava mais em mim, do que em minha filha, que nessa época era pequena e não deixava que eu passasse diariamente direito.
   Notei que minha vista ardia sempre, impedindo-me de enxergar direito. Mas continuei a usar assim mesmo. Minha pele ficou melhor, mais hidratada!
   Certo dia, fiquei sabendo que o sogro de uma de minhas melhores amigas havia falecido. Fui direto com meu digníssimo esposo, Márcio, ao velório.
   Arrumei-me muito rápido, porque fiquei sabendo quase em cima da hora, mas não me esqueci de usar bastante filtro solar e óculos de Sol, pois o calor à tarde estava exagerado.
   De um lado minha amiga, que perdeu o sogro deu-me o braço e do outro meu esposo segurou o outro.
   Fomos subindo a rua do cemitério seguindo o enterro do falecido.
   De repente, fui sentindo meus olhos arderem, meu óculos embaçarem, e eu me vi como uma ceguinha chorando; sem poder limpar nem os olhos, nem as lágrimas e muito menos os óculos; meus braços estavam ocupados. Quanto mais eu andava, mais os olhos ardiam e várias lágrimas escorriam. Escorriam tanto, que começaram a cair, como se eu estivesse em prantos.
   Eu olhava para as pessoas e mesmo enxergando muito pouco, era visível, que eu era a única que chorava. Nem o filho do morto e nem a nora choravam. A nora, apenas segurava firme em meu braço e do outro lado meu marido. Quanto mais se aproximava do cemitério, mais alívio eu sentia e mais vergonha também. As pessoas me observavam e meus olhos ardiam como pimenta! O Sol derretia o filtro solar cada vez mais. Pronto. Quando me vi, estava aos prantos! Como a hora demorava a passar! Que sufoco! Parecia que o cemitério nunca esteve tão longe!
   Enfim, chegamos ao tão almejado lugar. Os dois torturadores soltaram meus braços, mas já era tarde demais! Não dava para disfarçar! Todos me viram chorando.
   Tratei de puxar meu marido e fugir rapidinho! Queria distância do difunto e dos presentes.
   Realizaram o funeral e eu já estava bem longe! Não sei se pensaram mal de minha pessoa, mas sei que algo pensaram! Fui para casa direto. Lavei o rosto e nunca mais ousei a colocar em minha face o bendito filtro solar!
   Que situação difícil! Só eu sei os apuros que passei!

   SOLANGE DOS SANTOS BROCHADO
   PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA
   FILHA DO TENÓRIO.