DE QUE ADIANTA EDUCAÇÃO SEM MERCADO DE TRABALHO?
Por Esther Lucio Bittencourt
Em Caxambu, a migração de estudantes para outras cidades em busca de estudo universitário e emprego é elevadíssima |
Na obra O Mestre Ignorante, resenhada essa semana por Dade Amorim no Jornal Primeira Fonte, Jacotot e Rancière contam uma história de aprendizado em países desenvolvidos como a França e a Holanda, onde o povo lê livros. É um hábito cultural nos países de Primeiro Mundo a leitura, além do interesse pela cultura e o conhecimento. Já o Brasil é considerado um país em desenvolvimento, onde o índice de analfabetismo é ainda grande e o conhecimento perde para a fome e o apelo ao consumismo.
Os livros são caros, poucos falam de nossa realidade cultural. Mas a verdade é que o livro não é matéria de necessidade, sinal de status ou pode ser usado para adquirir QI no ato de conseguir o emprego. Neste caso, o QI quer dizer: quem indica.
Marta Arretche, pesquisadora sênior, professora livre-docente do Departamento de Ciência Política da USP e diretora do Centro de Estudos da Metrópole, fez parte do fórum sobre instituições políticas sob o Governo Lula, no 34º encontro anual da Anpocs, em Caxambu-MG. Falou sobre a importância do programa Bolsa Escola ter atingido 750 mil estudantes brasileiros, da abertura de 14 novas universidades e 100 novos Campi de ensino.
Com graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado no Departamento de Ciência Política do Massachussets Institute of Technology (EUA). Foi visiting fellow do Departament of Political and Social Sciences, do Instituto Universitário Europeu, em Florença, Marta afirmou que apesar da existência do programa Bolsa Escola "sabemos que não resolve preparar estudantes para um mercado de trabalho inexistente".
Aqui, em Caxambu/MG, temos como exemplo a migração de estudantes para outras cidades em busca de estudo universitário e emprego. São raras as famílias que não seguem essa cartilha. Nem os dois filhos do atual prefeito escapam dessa realidade: estudam e trabalham fora.
O censo do IBGE, concluído recentemente, comprovou que hoje o município conta com 21.706 moradores, um aumento de quase 700 pessoas se comparado aos dados de 2007.
Nenhum governante quer ver inchar as grandes metrópoles brasileiras, já sem infraestrutura para receber imigrantes do interior brasileiro em busca de educação e melhores oportunidades de emprego. A ordem é fixar os habitantes em seu centro de origem. Mas, para isto, é necessário que os governos criem condições para que os cidadãos possam encontrar sua plena realização em casa, ou seja, na cidade onde vivem.
A professora Marta Arretche falou sobre um projeto que demandará reformas para diminuir as desigualdades sociais que é a ampliação e regulamentação do mercado de trabalho e suas consequências para as aposentadorias: “Nós herdamos de políticas anteriores, basicamente de políticas do regime militar e que por sua vez são herdeiras da política do Getúlio Vargas, no que diz respeito ao mercado de trabalho e à previdência social, um sistema que tem desigualdades sociais muito grandes.
Basicamente temos três regimes de mercado de trabalho com suas consequências sobre o sistema previdenciário; a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas, onde o empregado goza de férias, 13º salário, vales transportes e alimentação, o empregador paga metade da previdência. Há outra categoria, os funcionários públicos taxados pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello, como os marajás deste mercado. Podemos pedir licença, entrar em crise, temos aposentadoria integral etc. Com relação aos trabalhadores CLT nós temos benefício que eles não têm. Uma desigualdade importante entre estes dois mercados de trabalho. Há um outro regime que não oferece nada para seus trabalhadores, amplamente desprotegidos. A previdência é paga por eles mesmos, não tem direito às férias remuneradas, etc.
Está na agenda de vários países, como a França, a Itália e a Holanda, a ruptura com este modelo de desigualdade, que segmenta as diversas categorias de cidadãos por distintos status profissionais. Esta reforma é chamada de conversão do vício em virtude visto que se propõe a acabar com as desigualdades. São os países de esquerda que mantém esta proposta visto sua capacidade de negociação com os sindicatos e reunir bancadas políticas favoráveis a seus projetos.
Em 2003, o presidente Luís Inácio Lula da Silva enviou ao parlamento a reforma previdenciária e do trabalho, mas ela não anda. Em 2007, o presidente enviou para o parlamento o PL 19 que tentaria criar a previdência complementar para os servidores públicos e ela não foi à votação. Dentre as reformas esta foi uma que pagou o preço do mensalão, dada as composições políticas que o presidente precisou fazer.
Hoje, comemoramos com relação às desigualdades trabalhistas entre os que têm carteira assinada e os que não têm; caiu de 4 para 1, de 3 para 1, segundo os dados da pesquisa de emprego e desemprego que se concentra nas regiões metropolitanas, explicada pelas auditorias do mercado de trabalho e pela expansão da economia.
Com isto, estou querendo dizer que reformas mais profundas na questão de desigualdade do sistema social brasileiro exigiria uma coalizão menos heterogênea que aquelas que os presidentes brasileiros têm tido dada a fragmentação do sistema partidário. Na verdade, a transformação das desigualdades tem se dado mais por transformações do mercado de trabalho do que por capacidade do presidente em aprovar uma reforma que reduziria a desigualdade do ponto de vista do desenho dos sistemas.”
Portanto, enquanto os municípios não conseguirem atender a demanda de seus moradores para formação profissional e com empregos que possam ocupar e tocar a vida, as cidades continuarão inchando e enfrentando os mesmos problemas de hoje. Em todo o país, o índice de desemprego continuará crescendo, pois a cada ano novos profissionais são jogados num mercado de trabalho inexistente sem conseguir ressarcir sequer seus gastos com os estudos empreendidos para sua formação profissional. Este é um caso sério para ser pensado, pesquisado e solucionado. Mas quem o fará?
Marta Arretche: "sabemos que não resol- ve preparar estudantes para um mercado de trabalho inexistente |
Com graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado no Departamento de Ciência Política do Massachussets Institute of Technology (EUA). Foi visiting fellow do Departament of Political and Social Sciences, do Instituto Universitário Europeu, em Florença, Marta afirmou que apesar da existência do programa Bolsa Escola "sabemos que não resolve preparar estudantes para um mercado de trabalho inexistente".
Aqui, em Caxambu/MG, temos como exemplo a migração de estudantes para outras cidades em busca de estudo universitário e emprego. São raras as famílias que não seguem essa cartilha. Nem os dois filhos do atual prefeito escapam dessa realidade: estudam e trabalham fora.
O censo do IBGE, concluído recentemente, comprovou que hoje o município conta com 21.706 moradores, um aumento de quase 700 pessoas se comparado aos dados de 2007.
Nenhum governante quer ver inchar as grandes metrópoles brasileiras, já sem infraestrutura para receber imigrantes do interior brasileiro em busca de educação e melhores oportunidades de emprego. A ordem é fixar os habitantes em seu centro de origem. Mas, para isto, é necessário que os governos criem condições para que os cidadãos possam encontrar sua plena realização em casa, ou seja, na cidade onde vivem.
A professora Marta Arretche falou sobre um projeto que demandará reformas para diminuir as desigualdades sociais que é a ampliação e regulamentação do mercado de trabalho e suas consequências para as aposentadorias: “Nós herdamos de políticas anteriores, basicamente de políticas do regime militar e que por sua vez são herdeiras da política do Getúlio Vargas, no que diz respeito ao mercado de trabalho e à previdência social, um sistema que tem desigualdades sociais muito grandes.
Basicamente temos três regimes de mercado de trabalho com suas consequências sobre o sistema previdenciário; a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas, onde o empregado goza de férias, 13º salário, vales transportes e alimentação, o empregador paga metade da previdência. Há outra categoria, os funcionários públicos taxados pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello, como os marajás deste mercado. Podemos pedir licença, entrar em crise, temos aposentadoria integral etc. Com relação aos trabalhadores CLT nós temos benefício que eles não têm. Uma desigualdade importante entre estes dois mercados de trabalho. Há um outro regime que não oferece nada para seus trabalhadores, amplamente desprotegidos. A previdência é paga por eles mesmos, não tem direito às férias remuneradas, etc.
Está na agenda de vários países, como a França, a Itália e a Holanda, a ruptura com este modelo de desigualdade, que segmenta as diversas categorias de cidadãos por distintos status profissionais. Esta reforma é chamada de conversão do vício em virtude visto que se propõe a acabar com as desigualdades. São os países de esquerda que mantém esta proposta visto sua capacidade de negociação com os sindicatos e reunir bancadas políticas favoráveis a seus projetos.
Em 2003, o presidente Luís Inácio Lula da Silva enviou ao parlamento a reforma previdenciária e do trabalho, mas ela não anda. Em 2007, o presidente enviou para o parlamento o PL 19 que tentaria criar a previdência complementar para os servidores públicos e ela não foi à votação. Dentre as reformas esta foi uma que pagou o preço do mensalão, dada as composições políticas que o presidente precisou fazer.
Hoje, comemoramos com relação às desigualdades trabalhistas entre os que têm carteira assinada e os que não têm; caiu de 4 para 1, de 3 para 1, segundo os dados da pesquisa de emprego e desemprego que se concentra nas regiões metropolitanas, explicada pelas auditorias do mercado de trabalho e pela expansão da economia.
Com isto, estou querendo dizer que reformas mais profundas na questão de desigualdade do sistema social brasileiro exigiria uma coalizão menos heterogênea que aquelas que os presidentes brasileiros têm tido dada a fragmentação do sistema partidário. Na verdade, a transformação das desigualdades tem se dado mais por transformações do mercado de trabalho do que por capacidade do presidente em aprovar uma reforma que reduziria a desigualdade do ponto de vista do desenho dos sistemas.”
Portanto, enquanto os municípios não conseguirem atender a demanda de seus moradores para formação profissional e com empregos que possam ocupar e tocar a vida, as cidades continuarão inchando e enfrentando os mesmos problemas de hoje. Em todo o país, o índice de desemprego continuará crescendo, pois a cada ano novos profissionais são jogados num mercado de trabalho inexistente sem conseguir ressarcir sequer seus gastos com os estudos empreendidos para sua formação profissional. Este é um caso sério para ser pensado, pesquisado e solucionado. Mas quem o fará?
Fonte:
Jornal Primeira Fonte
http://www.primeirafonte.blogspot.com/