O Espetáculo da Antropofagia e/ou Amor?
Assisti ao filme “JOSÉ E PILAR” pela segunda vez. Chorei muito na primeira vez. Mas, como um bom mineiro, chorei desconfiado. Mas, os portugueses, também, estão desconfiados e boa parte do mundo. O filme conta a história do 1º Prêmio Nobel de Literatura de língua portuguesa e seu romance, de 20 anos, com Pilar Del Río. E é filmado na vida real. Pilar é um tipo parecido com Jaqueline Kennedy Onassis, tipo 2 do eneagrama. Aquela pessoa que se gratifica no próprio ato de dar. Adora dar presentes, dar tudo. E como diz o Alaor Passos, grande especialista de Eneagrama no Brasil: é a galinha do Eneagrama. Ela costuma se apaixonar pelas pessoas mais importantes do pedaço. E seja ele como for: feio ou bonito, jovem ou velho, são ou doente, seja como for, se ele é o mais importante, então, ele é o seu eleito. Esse tipo costuma ser alpinista social, em outras palavras, costuma dar o golpe do baú. Quantas vezes quantas forem necessárias. Mesmo que enterre seus pretendentes quantas vezes necessárias forem. Nem todas as pessoas desse tipo têm consciência de assim ser. O fato é que Pilar diz que não podemos deixar as emoções dominar a razão, a razão deve sempre estar no comando, custe o que custar. Lembro-me de uma frase típica de um tipo assim: - Você pensa que eu sou boba? Sim, são bobas. São bobas na medida em que usam o outro para seus fins. E, claro, isso tem um custo enorme para todos os envolvidos, a começar deles mesmos: o casal, depois filhos e outros mais. Todos perdem. Não há vitoriosos nessa falta de amor.
Mas, quem assiste ao filme e não faz esse tipo de questionamento pode achar que o amor é lindo. Lindo é o amor de Deus, totalmente desinteressado, mas esse “amor” humano, não é tão lindo assim. Pode até ser prático. Pode até ser funcional como no caso desse casal que rodou o mundo, várias e várias vezes, em infinitos trabalhos e homenagens. Bom para o ego, mas, trágico para a saúde, como foi no caso dele e talvez para a verdade ou um verdadeiro amor. O capitalismo antropofágico, que se alimenta do espetáculo, como diz a música “Blecaute”, vai comendo sua vítima, por todos os lados, saciando a fome antropofágica de uma platéia carente de estar junto dos famosos. É uma troca de um sangue por outro. Dinheiro já foi muito comparado com sangue a começar do grande médico e economista Quesnay. Em tom de brincadeira José Saramago diz, que agora, é a mulher dele quem manda no dinheiro dele como Presidenta da Fundação José Saramago. Golpe de mestre ou de mestra. Mas, só ela sabe se realmente existe amor em tudo isso. Mesmo que haja ela pode dizer: - Pensam que eu sou boba? Quanto às mulheres, ela não tem dúvida, tem certeza que são 100% mais inteligentes que os homens, além de ainda poderem fazer vários trabalhos ao mesmo tempo. Ela é uma feminista, não radical, mas, sectária. Fica cega quando o assunto é feminismo. A ponto de brigar com o marido.
Como diz Gael Garcia Bernal, que contracena na vida e no filme com Saramago, no México, Saramago é um artista. Portanto, representa também e muito bem. Saramago, mais velho que Pilar Del Río, talvez percebesse que estava sendo usado, mas estava usando também. O amor humano não é perfeito senão não seria humano. Claro que gostavam um do outro senão esse teatro seria insuportável, mas, a minha desconfiança continua.
Ela argumenta muito bem: - O que as pessoas querem? Querem que Saramago coloque um cobertor nas pernas? Por outro lado, a meu ver houve um exagero de viagens, que aqui relato como antropofagia. Mas, eles decidiam juntos se viajariam ou não. Ele não tinha a saúde que ela tinha. E morre aos 87 anos, produtivamente, o que é muito positivo.
Poucas vezes na vida eu queria estar enganado como quero agora e poder descobrir que a relação de José e Pilar era, de, digamos, muito mais amor que teatro. Como eu gostaria que assim fosse!
Brasília, 19 de janeiro de 2011
Paulo Roberto Guimarães Moreira
“JOSÉ E PILAR II”
Amor sem fé e fé sem amor
“Corra Lola corra” é o nome de um filme de uma menina que corria, mas o filme mudava suas decisões e sua corrida mudava, mas corria sempre.
Corra Pilar corra! O tempo de Saramago está acabando. Saramago só queria tempo e vida para viver o seu grande amor e Pilar queria o que? Correr, amar, viver ou morrer? Amor ou morbidez? Ou ambos?
Eu e Saramago nascemos no mesmo dia 16 de novembro. Claro que em anos diferentes. Mesmo assim, a astrologia diz que temos uma espécie de vidas paralelas. É curioso, Saramago tem amor e não tem fé em Deus eu tenho fé em Deus e não tenho amor por uma mulher. Meu mapa astral diz que durmo com a inimiga e a vida, em parte, me demonstra que isso é verdade. Faço parte de um grupo onde sai para mim com freqüência a seguinte cartinha de baralho: “Você desconfia que sua capacidade, para ir ao encontro à intimidade com outra pessoa está prejudicada ou não existe?” Saiu tanto que resolvi transcrever na minha agenda. Saramago teve coragem de viver esse amor teatro ou esse teatro amor. Como artista que é representou bem demais seu papel à altura de Pilar. Só que o ritmo, a meu ver foi acelerado pela idade dele. Talvez esse seja o preço de nos envolvermos com pessoas mais jovens. Tudo tem um preço. Talvez ele não tenha se incomodado com o ritmo. Mas, não foi o que mostrou o filme. O filme mostra, nitidamente, que ele foi consumido, antropofagicamente, pelo público do espetáculo, como diz claramente a música, que foi feita para ele: “Blecaute”. Com o consentimento, ou mesmo, a pedido, ou com a cumplicidade dele, que participa de um clipe da música. A letra é a seguinte:
“BLECAUTE”
“Parem as câmeras, parem... Preciso sair. Estou tão carregado como o céu que minhas lágrimas querem cair. Pausem as máquinas, pausem preu conseguir... Sorrir... Chega de foto, chega de fato. Tem meu espaço, já estou farto.
Bem vindo ao circo do espetáculo... Bem vindo ao circo do espetáculo...
Os leões estão ferozes. Rosnam tigres de papel e pipocam pelo céu flashes e cores. Palhaços, domadores, estilhaços de chicote. E um mágico misterioso faz sumir o seu coração.
Bem vindo ao circo do espetáculo... Bem vindo ao circo do espetáculo...
Todos te querem... Comer vivo. Guardar um vestígio, arrancar um pedaço, congelar o presente exibindo um dente... A sua carcaça. Tirem suas patas de elegante do meu castelo de cartas, pois no último instante do elefante só restam as patas.
Bem vindo ao circo do espetáculo... Bem vindo ao circo do espetáculo...”
Como costuma a acontecer. Enquanto assisto filmes, programas de TV, conversas, entre outras circunstâncias eu ministro Florais de Bach aos personagens. Saramago precisava de GENTIAN para a fé, CLEMATIS, para a indiferença e enfado: estava, quase sempre, com o “saco cheio” de tudo que acontecia ao seu redor. HOLLY, porque não aceitava o mundo como ele era. WILLOW para ver o mundo de forma mais positiva. VERVAIN para se dar conta do sagrado na vida. GORSE para esperança e força para agüentar o fardo pesado da vida. ELM para continuar lutando pelo mundo sem carregá-lo nas costas. BEECH para reduzir a intolerância.
Pilar deveria tomar: HOLLY para ficar mais doce com seu feminismo exacerbado. VINE pelo fanatismo do seu feminismo que parece uma religião fanática. IMPATIENS para não querer realizar tudo num só dia, mês ou ano. BEECH para reduzir o orgulho e a intolerância. AGRIMONY para se ver no espelho e enxergar seus defeitos de caráter. RESCUE para que essa visão não a perturbe e que restabeleça um equilíbrio eventualmente perdido.
Eu tomo Florais de Bach sempre, em quase todas as circunstâncias. Só não os tomo quando esqueço ou não me é possível tomá-los. E o único medo que tenho de morrer é de não poder levá-los comigo.
Bem, escrever duas crônicas à respeito de um casal, mesmo que a mote de criticá-los é uma forma de homenageá-los. Eis, pois, minha homenagem a eles.
Paulo Roberto Guimarães Moreira