sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sind-UTE/MG realiza VI Conferência Estadual de Educação

A VI Conferência Estadual de Educação, que aconteceu de 18 a 20 de fevereiro, no hotel Glória, em Caxambu, foi o maior evento promovido pelo Sind-UTE/MG nos últimos 10 anos – contou com a participação de cerca de 2.000 pessoas. Foto da mesa oficial de
abertura.


A VI Conferência Estadual de Educação, ocorrida em Caxambu, nos dias 18, 19 e 20 últimos foi o maior evento já realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Únicos da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) dos últimos 10 anos – em número de palestrantes e participantes (1.926 delegados/as), vindos de todas as regiões de MG. Ao encerrar os trabalhos da Conferência, a coordenadora geral do Sindicato, Beatriz Cerqueira, comemorou o sucesso do evento. “Saímos todos fortalecidos da Conferência – os diretores, os filiados, enfim, cresce o Sind-UTE/MG como um todo, e a categoria das redes estadual e municipais”, destacou.
A coordenadora explicou porque o Sindicato optou por realizar o evento. “Foi uma opção da direção do Sind-UTE/MG o investimento na Conferência para trazer e submeter as definições políticas e pedagógicas para a análise da categoria. Também representa um instrumento estratégico de organização e aglutinação da categoria rumo à campanha salarial, que será finalizada na nossa assembléia estadual nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, no pátio da ALMG”, afirmou Beatriz Cerqueira.
Mesas Temáticas
Vários temas pedagógicos foram definidos para discussão em grupos, que aconteceram paralelamente. Em cada um, profissionais de renome discorriam sobre o assunto. “Os desafios da Educação Básica”, contou com a participação da Samira Zaidan, professora adjunta da UFMG/FAE – Faculdade de Educação. Em sua fala destacou que nada de decisivo está sendo feito de um dia para outro. “Somos atores dessa história, vivemos um momento de transformação peculiar porque os sujeitos que discutimos e queremos formar são pessoas da nossa mente, queremos que eles sejam democráticos, solidários e a sociedade não é solidária, por isso, trata-se de uma construção social e individual”, explicou a doutora em Educação pela UFMG em 2001.
Outro grupo abordou o tema “Educação, Gênero e Sexualidade”, que teve como palestrantes o secretário de Direitos Humanos da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), José Carlos Bueno do Prado, o Zezinho, e a secretária de Relações Internacionais da CNTE, Fátima Aparecida da Silva. Ela informou que os cerca de 200 pessoas que participaram desse grupo revelaram angústia em trabalhar esta questão, que é cercada de valores éticos, religiosos, morais, mas por outro lado, é também de políticas públicas. Outra preocupação diz respeito ao preconceito em torno do assunto. “Apesar de termos avançado em políticas públicas – o governo federal implantou vários Programas -, o preconceito ainda permeia a questão como um todo. Mesmo diante dessa realidade percebi que a grande vontade dos professores em aprender novos termos, conceitos e um apelo à repetição da discussão do tema – este é o caminho que temos a seguir para vencermos os obstáculos”, afirmou Fátima Aparecida da Silva.
“Apesar de parecer que são muitos os recursos destinados à educação, eles ainda representam pouco frente aos desafios que temos que superar” – a avaliação é do secretário do Ministério da Educação, professor Francisco Chagas. Ele fala no grupo Financiamento e Educação. Segundo o professor os desafios da educação básica para o próximo período não são poucos, um deles diz respeito ao financiamento – apesar de termos atingido 5% do Produto Interno Bruto (PIB), precisamos ir além. Citou a valorização dos profissionais, que para ele consiste em salário, carreira e formação, e reforçou que o Piso Nacional, apesar de ser conquista, se desdobre na carreira e tenha ganho real. “Esperamos que a mobilização social e os órgãos de controle funcionem e garantam a implementação do Piso dentro do que foi determinado pela lei”, defendeu Chagas.
“Avaliação sistêmica e currículo”, que teve o professor Miguel Arroyo como palestrante foi discutido por outro grupo. Apesar de citar avanços e mudanças ocorridas nas questões do salário, carreira e direitos, cita como desafio a educação ser colocada no campo político dos direitos do cidadão. “Há uma questão que está pendente – se os/as trabalhadores/as da educação e suas organizações se reconhecem sujeitos de direito, nem sempre avançou a mesma consciência de que eles são sujeitos da garantia dos direitos dos educandos. Se nós somos sujeitos de direito é porque a educação é um direito – não só nosso, é um direito dos educandos, dos filhos dos trabalhadores populares que estão nessas escolas – nisso acho que falta avançar”, destacou.
Aconteceram outras mesas temáticas como “Educação e Relações étnico-raciais, que contou com a pedagoga Rosa Margarida de Carvalho Rocha, a presidente do SINTEGO, Ieda Leal de Sousa e o doutor em educação pela FAE/UFMG, José Eustáquio de Brito.
“Tempo e a condição docente” foi tema de outra mesa temática, que teve a professora da FAE/UFMG, Inez Teixeira como palestrante. Já o tema “Gestão Democrática” contou com a participação do diretor estadual do Sind-UTE/MG Betim, Luiz Fernando de Souza Oliveira e Mônica Maria de Souza. “Violência no espaço escolar: um desafio social”, tema polêmico foi abordado pelo professor da UFMG, Walter Ernesto Ude Marques, conselheiro tutelar de Betim, Washington Luiz Freitas Silva Moreira, a defensora pública Roberta de Mesquita Ribeiro e o promotor de justiça, Sérgio Fernando Harfouche.
Outros temas abordados foram: “Currículo, Ensino Médio, Juventude e Trabalho”, do qual participaram o mestre em educação pela UFMG Juarez Tarcísio Dayrel, além da secretária de Organização da CNTE e diretora estadual do Sind-UTE/MG, Marilda Abreu de Araújo e a doutora em educação Áurea Regina Damasceno; e “Saúde do Trabalhador e condições de trabalho”, tema que teve a explanação da psicóloga Margareth Diniz, da pedagoga Jussara Bueno de Queiroz Paschoalino e da fonoaudióloga Iara Barreto Bassi.
A mesa geral “A organização dos trabalhadores em educação” contou com o ex-ministro e professor Luiz Soares Dulci e o presidente da CNTE, Roberto Franklin Leão. O presidente Leão sugeriu uma reflexão sobre o processo de organização dos/as trabalhadores/as em educação – a importância de se trazer os jovens para o sindicalismo. “Precisamos evidenciar aos jovens o significado e a força da organização coletiva da categoria, o que pode fazer mudanças estruturantes na sociedade brasileira, na luta dos trabalhadores e na melhoria da qualidade da educação pública”, defendeu.
Por sua vez, Dulci, que é um dos fundadores da então UTE, ressaltou a importância da organização da categoria que, segundo ele nasceu nas greves de 1979, desde quando vem se fortalecendo. Citou o Piso como conquistas e afirmou que a lei prevê complemento do governo federal no caso de estados pobres ou com dificuldades financeiras. Apesar de reconhecer que existem vários desafios, se mostrou otimista. “Um alento financeiro para a educação é o pré-sal, que teve a criação de um Fundo Social aprovado pelo Congresso Nacional, sendo 50% destinados à educação no Brasil. Acredito que a medida representará uma verdadeira cruzada em prol da educação”, informou.
Cartilha: Igualdade faz a diferença
O secretário nacional de Formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), José Celestino, o Tino lançou, durante a Conferência, a cartilha Igualdade faz a diferença, publicação que traz uma verdadeira fustigação ao debate de uma questão muito importante para a nação brasileira. Tino citou duas questões fundamentais para se enfrentar o racismo – consciência e conhecimento, pontos priorizados na publicação. “È importante que as pessoas tomem consciência da importância da existência de um país realmente democrático, com democracia plena – um país onde não haja racismo, principalmente no Brasil, composto por 51% de negros e negras e que, historicamente, nega esse racismo”.
O cutista cita a lei 10.639, sancionada por Lula em julho de 2010, que veio para combate o racismo no interior da escola. Segundo ele é preciso que educadores, gestores, alunos conheçam a importância do povo africano, negro, na constituição da identidade nacional, da economia nacional e, nesse sentido, sabemos por pesquisas, já comprovadas, que muitas escolas se negam a implementar essa lei. Por isso a cartilha da CUT, como outras publicações, como da própria CNTE vem nesse sentido, de orientar diretrizes pedagógicas que devem ser trabalhadas para que todos conheçam a cultura negra, a luta dos negros no Brasil e a sua contribuição na história brasileira.
Políticos e autoridades
A abertura da VI Conferência Estadual de Educação, no dia 18 de fevereiro, no Hotel Glória, em Caxambu, evento realizado pelo Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) foi concorrido. A mesa de abertura contou com a participação da secretária de estado da Educação, Ana Lúcia Gazolla, deputados estadual, Rogério Correia, e federal Padre João, Secretária de Assuntos Internacional da CNTE, Fátima Aparecida Silva, representante da Internacional de Educação, Combertty Rodrigues, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin Leão, presidente da Central Única dos Trabalhadores de MG, Marco Antônio de Jesus, além de representantes do movimento sindical, presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Estadual, Fiscais e Agentes Fiscais de Tributos do Estado de Minas (Sindifisco/MG), Lindolfo Fernandes e o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais e dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (APUB/BH), José Siqueira. Todos saudaram os participantes, desejando avanço nas discussões e fortalecimento da categoria.
O presidente da CUT, Marco Antônio de Jesus destacou a importância da unidade por acreditar que 2011 será um ano de muitas lutas e enfrentamentos. Por sua vez, o deputado estadual Rogério Correia reforçou apoio à categoria na Assembleia Legislativa. Já o deputado federal Padre João se colocou à disposição na Câmara Federal como canal de interlocução da categoria junto ao governo federal. Ele revelou satisfação em participar do evento e citou a CNTE e seus respectivos sindicatos como exemplo para a América Latina. O membro da subsede Caxambu, Cássio Hidio destacou que 2010 ficará na história da categoria como sendo um divisor de água, que passou o ensinamento da importância da unidade para o fortalecimento da categoria.
O presidente da CNTE, Roberto Franklin Leão, falou da postura combativa do Sind-UTE/MG, que desde a época da UTE ajudou a criar a Confederação. “Assim como a CNTE, o Sind-UTE/MG luta pela defesa da escola pública e pelo ensino de qualidade social.” Leão citou a importância da implantação do Piso Salarial Profissional Nacional e pediu empenho à secretária Gazolla para rever a questão junto ao governo mineiro. A secretaria se apresentou como professora e mostrou disposição em inaugurar uma nova fase, revelando empenho para avançar na educação, além de prometer transparência nas ações.
A coordenadora geral do Sind-UTE/MG, Beatriz Cerqueira afirmou, na oportunidade, que a VI Conferência Estadual de Educação é o maior evento do Sindicato nos últimos 10 anos.
Na sequência aconteceu a conferência de abertura com o dominicano e escritor Frei Betto, que abordou com clareza e firmeza, o tema Mídia e Educação. “É importante a escola levar para dentro das salas de aula imagens de TV, da Internet e defendeu que os adultos devem educar os alunos com um olhar crítico capaz de debater telejornais, propagandas, anúncios diversos, dentre outros assuntos. Esse trabalho começa com a formação de professores e a consciência de que a escola é um laboratório político”, frisou.
Homenagens e aprovações
Foram apreciadas em plenária as sugestões e ações propostas por cada um dos cinco grupos que discutiram diversos assuntos. Também foram aprovadas duas moções – uma em prol do povo do Egito na luta pela democracia e, a outra, que repudia o aumento do salário dos parlamentares e a pequena valoração do salário mínimo.
Os integrantes do departamento de Formação: Mônica Maria de Souza, José Luiz Rodrigues, Andresa Aparecida F. Rodrigues, Luiz Fernando de Souza Oliveira e Feliciana Saldanha receberam da coordenadora geral do Sind-UTE/MG uma homenagem simbólica em agradecimento pelo empenho e dedicação com que se debruçaram em janeiro, mês de férias para elaborarem a referida Conferência.
Beatriz Cerqueira também agradeceu a equipe da subsede Caxambu, cicerones do evento. A coordenadora daquela subsede, criada em 2009, Mauricéa Vanja Neves Rocha falou da alegria de ter contribuído para a realização da Conferência. “Ela resgatou a discussão pedagógica da nossa área e, ao mesmo tempo, o Sindicato mostrou que estamos organizados para fazermos uma campanha reivindicatória, por melhores salários, além de estarmos amadurecidos para discutir educação e seus problemas,” disse.
Luiz Fernando de Souza Oliveira relata com satisfação o resultado da Conferência. “O evento superou expectativas de público, veio ao encontro de anseios de todos que estão na escola. Foram discutidos temas e elaboradas propostos a respeito de questões que afligem muito os/as trabalhadores/as no chão das escolas. Tratou-se de uma construção, já que todas as linhas e forças políticas foram contempladas.”
O coordenador do departamento de Formação, José Luiz Rodrigues entende a Conferência como um marco para essa gestão. “O evento superou a realização de eventos dos últimos 10 anos, em número, na questão de educação básica ligada ao PNE, e a organização dos trabalhadores propriamente dita. A presença de representantes da CUT, CNTE, Internacional da Educação demonstra prestígio. A figura da secretária Gazolla significa o reconhecimento da importância da organização do Sind-UTE. Tudo isso aliado ao debate da luta salarial se traduz em força e vigor da nossa categoria, que prima pela livre organização dos trabalhadores nos seus espaços de trabalho.

Thiago Joel Estevam

Fonte:
http://www.noticiasdeitauna.com.br/2011/02/24/sind-utemg-realiza-vi-conferencia-estadual-de-educacao/