Especialista defende perdão a milicianos e traficantes como medida para diminuir violência no Rio
Isabela Vieira
Enviada Especial
Enviada Especial
Caxambu (MG) - Há cerca de 30 anos estudando a violência urbana na
cidade do Rio de Janeiro, a antropóloga Alba Zaluar - cuja pesquisa com o
escritor Paulo Lins, no final da década de 1980 deu origem ao filme Cidade de Deus
(2002) - defendeu hoje (25) “o perdão” a traficantes e milicianos
cariocas, como forma de reduzir as taxas de homicídio na cidade.
Ao comentar o acordo
do governo do Rio com o Ministério da Defesa renovando a permanência de
1,6 mil militares nas favelas do Complexo do Alemão, na zona norte
da cidade, ontem (24), a coordenadora do Núcleo de Pesquisas da
Violência (Nupevi) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, disse que
o perdão pode ser uma medida mais eficaz que o esforço policial.
“Deviam ser pensadas formas de traficantes e milicianos desistirem e
serem postos em recuperação. Por que não o perdão?”, sugeriu Zaluar,
durante o 35º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais. Em Medelín, na Colômbia, disse a
antropóloga, a medida ajudou a baixar taxas de homicídio que chegava a
300 habitantes por 100 mil na década de 1990.
Segundo Alba Zaluar, a violência no Complexo do Alemão foi reduzida
com a ocupação militar, mas ainda há na comunidade traficantes armados
aterrorizando moradores. Para enfrentá-los, o que acredita ser possível
com a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), como
pretende Secretaria de Segurança, a decisão do governo do Rio pode
contribuir.
“Entendo que [as tropas] podem ser necessárias por causa do efetivo
policial fluminense limitado”, disse. A antropóloga explicou que se
policiais tiverem que ser transferidos para o Alemão, favelas de outras
áreas devem ficar “desguarnecidas” e os traficantes podem tentar
retomá-las. “O complexo não está sob controle. É uma área muito extensa,
cheia de morros e vielas”.
Para uma sala lotada, a pesquisadora ainda apresentou suas pesquisas
na última década, com destaque para os trabalhos sobre vitimização e
sobre a expansão das favelas controladas pelas milícias. Constam dos
dados que os grupos paramilitares estão hoje em 45,1% das favelas contra
10% em 2005.
Edição: Aécio Amado
Fonte: Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-10-25/especialista-defende-perdao-milicianos-e-traficantes-como-medida-para-diminuir-violencia-no-rio