Água que passarinho pode beber
A
água mineral Cambuquira gasosa voltou ao mercado depois de 10 anos sem
ser envasada e a notícia me fez viajar no tempo. Na minha infância,
água mineral era "luxo" reservado a ocasiões especiais. Viagem de
férias para Sete Lagoas dava direito a uma garrafa de mineral gasosa,
comprada nos bares da rodoviária, antes do embarque, para ser dividida
com o irmão.
Se
a memória não me falha, a Cambuquira era uma das favoritas de meu pai. A
garrafa de vidro era maior e mais larga que as outras, bem
característica. Ficávamos olhando o garçom usar o abridor de garrafas
para retirar a tampa e nos servir. Era para ser bebida devagar,
admirando as bolhas de gás no interior do copo Lagoinha.
Além
da Cambuquira, havia a Caxambu, a São Lourenço, a Araxá, a Lambari, a
Lindoya e outras tantas, todas acondicionadas em vidro. Gente de maior
poder aquisitivo recebia regularmente a água em casa, entregue em
grandes engradados de madeira, a exemplo do que se fazia com as cervejas
e os refrigerantes. A Cambuquira tinha garrafas de 1 litro, vidro
pesado, que a deixavam deliciosamente refrescante depois de um bom par
de horas na geladeira.
Com
o tempo, o vidro deu lugar ao plástico, em nome da consciência
ecológica, e isso levou embora boa parte do charme e do sabor da mineral
gasosa. Pode parecer preciosismo, mas o gosto é diferente. A São
Lourenço é uma das poucas que ainda usam vidro, em vendas exclusivas
para bares e restaurantes. A Ingá também lançou uma garrafa pequena de
vidro para sua mineral gasosa natural premium. Mas são exceções. O que
encontramos sempre é água mineral gaseificada artificialmente e em
embalagem plástica.
Agora,
felizmente, a Copasa investe no melhor e traz de volta o vidro para
envasar a Cambuquira gasosa. Segue tendência predominante na Europa,
onde as melhores águas gasosas naturais usam garrafa de vidro, como a
Perrier, a Panna, a Evian e a San Pellegrino, para ficar apenas nas mais
conhecidas. E, sem ufanismo, afirmo que a Cambuquira, a São Lourenço e a
Caxambu nada ficam a dever às estrangeiras. Só falta investir no
marketing e lhes devolver a nobreza do vidro.
Mas
seria bom que a Copasa também adotasse o vidro para a mineral gasosa
Caxambu, comercializada apenas em embalagens plásticas. As águas de
Minas merecem tratamento vip. Deixemos o plástico para as gaseificadas
artificialmente e de produção maciça. É sempre bom separar o joio do
trigo.
Por Álvaro Fraga
Fonte: A Doce Vida
http://www.dzai.com.br/alvarofrag/blog/adocevida?tv_pos_id=92561