terça-feira, 18 de outubro de 2011

Água que passarinho pode beber




A água mineral Cambuquira gasosa voltou ao mercado depois de 10 anos sem ser envasada e a notícia me fez viajar no tempo. Na minha infância, água mineral era "luxo" reservado a ocasiões especiais. Viagem de férias para Sete Lagoas dava direito a uma garrafa de mineral gasosa, comprada nos bares da rodoviária, antes do embarque, para ser dividida com o irmão.
Se a memória não me falha, a Cambuquira era uma das favoritas de meu pai. A garrafa de vidro era maior e mais larga que as outras, bem característica. Ficávamos olhando o garçom usar o abridor de garrafas para retirar a tampa e nos servir. Era para ser bebida devagar, admirando as bolhas de gás no interior do copo Lagoinha. 
Além da Cambuquira, havia a Caxambu, a São Lourenço, a Araxá, a Lambari, a Lindoya e outras tantas, todas acondicionadas em vidro. Gente de maior poder aquisitivo recebia regularmente a água em casa, entregue em grandes engradados de madeira, a exemplo do que se fazia com as cervejas e os refrigerantes. A Cambuquira tinha garrafas de 1 litro, vidro pesado, que a deixavam deliciosamente refrescante depois de um bom par de horas na geladeira.
Com o tempo, o vidro deu lugar ao plástico, em nome da consciência ecológica, e isso levou embora boa parte do charme e do sabor da mineral gasosa. Pode parecer preciosismo, mas o gosto é diferente. A São Lourenço é uma das poucas que ainda usam vidro, em vendas exclusivas para bares e restaurantes. A Ingá também lançou uma garrafa pequena de vidro para sua mineral gasosa natural premium. Mas são exceções. O que encontramos sempre é água mineral gaseificada artificialmente e em embalagem plástica.
Agora, felizmente, a Copasa investe no melhor e traz de volta o vidro para envasar a Cambuquira gasosa. Segue tendência predominante na Europa, onde as melhores águas gasosas naturais usam garrafa de vidro, como a Perrier, a Panna, a Evian e a San Pellegrino, para ficar apenas nas mais conhecidas. E, sem ufanismo, afirmo que a Cambuquira, a São Lourenço e a Caxambu nada ficam a dever às estrangeiras. Só falta investir no marketing e lhes devolver a nobreza do vidro.
Mas seria bom que a Copasa também adotasse o vidro para a mineral gasosa Caxambu, comercializada apenas em embalagens plásticas. As águas de Minas merecem tratamento vip. Deixemos o plástico para as gaseificadas artificialmente e de produção maciça. É sempre bom separar o joio do trigo.

Por Álvaro Fraga
Fonte: A Doce Vida 
http://www.dzai.com.br/alvarofrag/blog/adocevida?tv_pos_id=92561