Contra extrema pobreza, pesquisador defende aumento do Bolsa Família
Diante das projeções
de menor crescimento da economia nos próximos anos em função da crise
financeira e do seu impacto sobre o emprego, o técnico não acredita que o
lucro com o trabalho será suficiente para a elevar a renda de
brasileiros extremamente pobres para mais de R$ 70.
Por isso, em vez de apenas complementar a renda do beneficiário do Bolsa Família, o economista
do Ipea defende que o programa considere o rendimento das famílias
abaixo da linha de pobreza igual a zero e lhes conceda um benefício fixo
de pelo menos R$ 70 mensais.
“Vamos supor que uma pessoa receba R$ 20 de bolsa para complementar o trabalho de R$ 50. Se em um determinado
momento perde o emprego ou tem uma renda menor, volta para a extrema
pobreza”, apontou Osório, explicando que há grande volatilidade de renda
entre os pobres.
Durante apresentação de pesquisa
sobre os desafios do Bolsa Família no 35º Encontro Anual da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), ontem
(27), o técnico também propôs o fim do limite de cinco filhos para recebimento de benefício pelo programa, que paga cerca de R$ 30 por criança.
“Esse
limite pune as crianças. É uma justificativa moral para a sociedade
porque as pessoas ainda acreditam que pobres se reproduzem como
coelhos”, disse. Segundo ele, nenhuma pesquisa conseguiu provar a
relação entre o recebimento da bolsa e a decisão das famílias de ter
mais filhos.
Ao
lado disso, o pesquisador também sugeriu a inclusão de cerca de 800 mil
famílias no programa, que não foram identificados justamente por
estarem em áreas remotas, de difícil acesso ou por serem novos núcleos
familiares, casais sem filhos ou cujos filhos já deixaram a casa.
Com
essas mudanças, com menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), nos
cálculos do economista, um orçamento de R$ 33 bilhões resolveria o
problema dos muito pobres no Brasil. Nos 8 anos de programa, o gasto
médio foi de 0,4% do PIB. O orçamento do Bolsa Família em 2011 é R$ 17
bilhões.
Para o representante do Ministério do Desenvolvimento
Social, Luis Henrique de Paiva, presente no debate sobre a pesquisa do
Ipea, um aumento no benefício é possível em parceria com os estados,
atendendo objetivos do Programa Brasil sem Miséria.
Segundo Paiva,
já foram firmadas parcerias com oito estados para complementar o valor
da bolsa: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rondônia, Acre, Rio
Grande do Sul, Distrito Federal e Amapá, sendo que esses dois últimos
vão disponibilizar até R$ 100 e até R$ 80 por família, respectivamente.
Por
meio da colaboração com órgãos que atuam em áreas rurais e reservas
extrativistas, onde se estima que vivam pessoas com o perfil do
programa, mas que não estejam cadastradas, Luis Henrique também disse
que há o intuito de incluir 320 mil famílias e fechar 2011 com 13,3
milhões de beneficiários.
O encontro da Anpocs reuniu cerca de 1,8 mil pessoas em Caxambu e termina hoje (28).
Fonte: Jornal do Brasil
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/10/28/contra-extrema-pobreza-pesquisador-defende-aumento-do-bolsa-familia/