Cinema para pensar
Cinema para pensar a cultura, as tradições, os caminhos para um mundo sustentável, os diálogos para promover soluções entre o dilema global x local, e a própria postura do cidadão frente aos desafios da alimentação contemporânea. Em oposição ao Fast cinema, o Slow Filme, realizado na cidade goiana de Pirenópolis, entre os dias 15 e 18 de setembro, propõe uma pausa para degustar imagens e sabores, explorando todos os sentidos.
A segunda edição do Festival Internacional de Cinema e Alimentação atraiu boa parte da população local e de visitantes, principalmente da cidade de Brasília. A pacata cidade histórica, fundada no século 16, ficou apinhada de novos olhares sobre a cultura alimentar de vários países como Irã, Índia, Itália, França, Líbia, EUA, Chile, Hungria, além do Brasil. A escolha do lugar permitiu um distanciamento da agitação urbana para mergulhar na realidade de outras sociedades e fazer conexões com o próprio modo de vida. Cumplicidade, empatia, engajamento e resistência são algumas das sensações despertadas ao assistir as sessões no charmoso Cine Pirineus, inaugurado em 1936.
Com curadoria do professor de cinema, crítico e cineasta Sérgio Moriconi, o festival tem a finalidade de revalorizar as culturas e identidades locais. A ideia surgiu com uma pesquisa para um documentário sobre o baru, a castanha do cerrado. O professor descobriu o festival italiano Slow Food on Film e trouxe a proposta para o Brasil. O evento é realizado pela Objeto sim Projetos Culturais e Prefeitura de Pirenópolis, em parceria com os convivia Slow Food Pirenópolis, Cerrado e Campo Lindo.
Concentração, palmas e boas risadas
Da seleção da filmografia ao assento, tudo foi calculado para proporcionar uma viagem ao expectador, que a todo tempo era instigado a sair da passividade. Nada de baldes de pipoca gigantes ou copos de 750ml de refrigerante para relaxar. No Slow Filme o clima era de concentração, mas o silencio era quebrado por salva de palmas espontâneas como no documentário "O Mineiro e o Queijo", de Helvécio Raton; ou risadas rasgadas na animação francesa O Dia do Santo Banquete e no brasileiro "Cerveja Falada".
Em sua primeira exibição pública, o filme de Ratton fala sobre as dificuldades se produzir e comercializar queijo de leite cru, como o do Serro e da Serra da Canastra, causou inquietação. "Foi uma acolhida calorosa. O público interagiu com o filme. Percebemos o grande interesse no assunto. O roteiro, que era cultural e histórico, ampliou o olhar para o enfoque econômico e social", explica o cineasta. Segundo ele, o cinema cumpre a função política e social, além da estética. "É uma linguagem que faz pensar, refletir, prestar atenção em situações desconhecidas. Ao trazer informação, a população tem a chance de modificar o mundo a sua volta. Afinal, somos o que comemos", completa.
Outra tradição celebrada no Slow Filme foi a cerveja artesanal com os documentários e "Histórias da Cerveja em Santa Catarina" e "Cerveja Falada". Este último é sobre a história de Rupprecht Loeffler, o mais antigo mestre cervejeiro do país. Falecido aos 93 anos, um ano depois da produção do filme, o filho de imigrantes alemães produziu durante toda a vida a Canoinha, seguindo as tradições da Alemanha. Mesmo com os dias avançados manteve-se um exímio apreciador de cervejas e recebia a fiel clientela em sua simpática lojinha, na cidade de Canoinhas, em Santa Catarina.
A segunda edição do Festival Internacional de Cinema e Alimentação atraiu boa parte da população local e de visitantes, principalmente da cidade de Brasília. A pacata cidade histórica, fundada no século 16, ficou apinhada de novos olhares sobre a cultura alimentar de vários países como Irã, Índia, Itália, França, Líbia, EUA, Chile, Hungria, além do Brasil. A escolha do lugar permitiu um distanciamento da agitação urbana para mergulhar na realidade de outras sociedades e fazer conexões com o próprio modo de vida. Cumplicidade, empatia, engajamento e resistência são algumas das sensações despertadas ao assistir as sessões no charmoso Cine Pirineus, inaugurado em 1936.
Com curadoria do professor de cinema, crítico e cineasta Sérgio Moriconi, o festival tem a finalidade de revalorizar as culturas e identidades locais. A ideia surgiu com uma pesquisa para um documentário sobre o baru, a castanha do cerrado. O professor descobriu o festival italiano Slow Food on Film e trouxe a proposta para o Brasil. O evento é realizado pela Objeto sim Projetos Culturais e Prefeitura de Pirenópolis, em parceria com os convivia Slow Food Pirenópolis, Cerrado e Campo Lindo.
Concentração, palmas e boas risadas
Da seleção da filmografia ao assento, tudo foi calculado para proporcionar uma viagem ao expectador, que a todo tempo era instigado a sair da passividade. Nada de baldes de pipoca gigantes ou copos de 750ml de refrigerante para relaxar. No Slow Filme o clima era de concentração, mas o silencio era quebrado por salva de palmas espontâneas como no documentário "O Mineiro e o Queijo", de Helvécio Raton; ou risadas rasgadas na animação francesa O Dia do Santo Banquete e no brasileiro "Cerveja Falada".
Em sua primeira exibição pública, o filme de Ratton fala sobre as dificuldades se produzir e comercializar queijo de leite cru, como o do Serro e da Serra da Canastra, causou inquietação. "Foi uma acolhida calorosa. O público interagiu com o filme. Percebemos o grande interesse no assunto. O roteiro, que era cultural e histórico, ampliou o olhar para o enfoque econômico e social", explica o cineasta. Segundo ele, o cinema cumpre a função política e social, além da estética. "É uma linguagem que faz pensar, refletir, prestar atenção em situações desconhecidas. Ao trazer informação, a população tem a chance de modificar o mundo a sua volta. Afinal, somos o que comemos", completa.
Outra tradição celebrada no Slow Filme foi a cerveja artesanal com os documentários e "Histórias da Cerveja em Santa Catarina" e "Cerveja Falada". Este último é sobre a história de Rupprecht Loeffler, o mais antigo mestre cervejeiro do país. Falecido aos 93 anos, um ano depois da produção do filme, o filho de imigrantes alemães produziu durante toda a vida a Canoinha, seguindo as tradições da Alemanha. Mesmo com os dias avançados manteve-se um exímio apreciador de cervejas e recebia a fiel clientela em sua simpática lojinha, na cidade de Canoinhas, em Santa Catarina.
Um dos diretores, Luiz Henrique Cudo, esteve presente no evento e se supreendeu com a boa recepção. "Isso reforça a nossa intenção com o filme: transmitir o bom astral com o qual Seu Loeffler levava a vida com sua esposa, fazia cerveja e recebia seus clientes e visitantes. E também por perceber que a história de Seu Loeffler, sua paixão pela cerveja e dedicação aos valores familiares tocaram a platéia, pois são aspectos humanos universais, com os quais todos nós nos identificamos", justifica Cudo, que divide a direção com Guto Lima e Demétrio Panarotto.
Bom apetite ou boa sorte?
O documentário "Soluções locais para problemas globais" (França 2009) traz um panorama da situação caótica de produção e consumo de alimentos. O roteiro aborda as principais questões que envolvem agroindústria, governo, agricultores e consumidores. Com depoimentos de pessoas de países como Ucrânia, Índia, França e Brasil, o filme apresenta experiências de resistência à opressiva política global de abastecimento.
Temas como a ausência da mulher na agricultura, a fragmentação das famílias no campo e o cultivo de sementes transgênicas e o uso de agrotóxicos dão consistência às discussões. Entre os algumas falas ecoam como "É assim que se mata um país, quando as plantas não têm raiz"; "a agricultura era um trabalho feminino. O homem entrou com a lógica de dominar a terra"; Ao comer, ao invés de desejar bom apetite desejamos boa sorte"; e "Se os supermercados fechassem não saberíamos como nos alimentar". Françoise Cochaud, conselheira cultural da embaixada da França no Brasil, comenta que o Slow Filme promove um interesse mais "cidadão" por não se tratar de qualquer alimentação, mas uma reflexão sobre os modos de produção e consumo do alimento.
A tradição dos Pireneus também é destaque na mostra pelo segundo ano consecutivo. Nesta edição, "A Horta do Seu Geraldo", de Fernando Brito, representou a região. Decidido à voltar as origens e produzir organicamente, o agricultor Geraldo Veiga conseguiu reunir a família e prover seu sustento, resistindo às pressões econômicas e sociais. Gioconda Caputo, uma das idealizadoras, explica que o evento privilegia a participação da comunidade, que por sua vez se vê retratada nas telas de cinema. "Não queremos uma Pirenópolis que apenas nos hospede. Por isso, a cada edição abriremos o evento com um curta apresentando um personagem ou tema relevante para a cidade", afirma. O enfoque para 2012 será o Baru.
Além da maratona de filmes, o festival conta com atividades paralelas. A visita à Chácara Mar e Guerra, do personagem Geraldo, foi um dos atrativos do roteiro. Outra passagem foi pela fazenda Custódio Santos, no povoado de Caxambu, onde três gerações permanecem na terra. Sob a liderança do patriarca Bié, filhas, netos, bisnetos e noras preservam suas origens. Depois das sessões do Cine Pireneus, o contato com experiências mais próximas confirmam a necessidade de empreender mudanças locais para atingir as esferas globais.
Gioconda defende a singularidade do projeto no Brasil. "Não é um evento de gastronomia. A proposta é fazer um Festival de Cinema com um conceito muito particular, e com degustações que tenham a ver com o tema de algum filme da mostra. É um Festival ainda pequeno, mas grande na sua proposta de exibir filmes que nos ajudem a pensar num mundo melhor para todos, através do alimento e da cultura", finaliza. Seja morador ou visitante o encontro com realidades distintas é ao mesmo o reencontro com as próprias raízes. A mesa posta na tela é uma ferramenta contundente para perseverar nos sabores autênticos.
*Carolina Amorim e Juliana Dias viajaram a convite do Slow Filme - Festival Internacional de Cinema e Alimentação.
Temas como a ausência da mulher na agricultura, a fragmentação das famílias no campo e o cultivo de sementes transgênicas e o uso de agrotóxicos dão consistência às discussões. Entre os algumas falas ecoam como "É assim que se mata um país, quando as plantas não têm raiz"; "a agricultura era um trabalho feminino. O homem entrou com a lógica de dominar a terra"; Ao comer, ao invés de desejar bom apetite desejamos boa sorte"; e "Se os supermercados fechassem não saberíamos como nos alimentar". Françoise Cochaud, conselheira cultural da embaixada da França no Brasil, comenta que o Slow Filme promove um interesse mais "cidadão" por não se tratar de qualquer alimentação, mas uma reflexão sobre os modos de produção e consumo do alimento.
A tradição dos Pireneus também é destaque na mostra pelo segundo ano consecutivo. Nesta edição, "A Horta do Seu Geraldo", de Fernando Brito, representou a região. Decidido à voltar as origens e produzir organicamente, o agricultor Geraldo Veiga conseguiu reunir a família e prover seu sustento, resistindo às pressões econômicas e sociais. Gioconda Caputo, uma das idealizadoras, explica que o evento privilegia a participação da comunidade, que por sua vez se vê retratada nas telas de cinema. "Não queremos uma Pirenópolis que apenas nos hospede. Por isso, a cada edição abriremos o evento com um curta apresentando um personagem ou tema relevante para a cidade", afirma. O enfoque para 2012 será o Baru.
Além da maratona de filmes, o festival conta com atividades paralelas. A visita à Chácara Mar e Guerra, do personagem Geraldo, foi um dos atrativos do roteiro. Outra passagem foi pela fazenda Custódio Santos, no povoado de Caxambu, onde três gerações permanecem na terra. Sob a liderança do patriarca Bié, filhas, netos, bisnetos e noras preservam suas origens. Depois das sessões do Cine Pireneus, o contato com experiências mais próximas confirmam a necessidade de empreender mudanças locais para atingir as esferas globais.
Gioconda defende a singularidade do projeto no Brasil. "Não é um evento de gastronomia. A proposta é fazer um Festival de Cinema com um conceito muito particular, e com degustações que tenham a ver com o tema de algum filme da mostra. É um Festival ainda pequeno, mas grande na sua proposta de exibir filmes que nos ajudem a pensar num mundo melhor para todos, através do alimento e da cultura", finaliza. Seja morador ou visitante o encontro com realidades distintas é ao mesmo o reencontro com as próprias raízes. A mesa posta na tela é uma ferramenta contundente para perseverar nos sabores autênticos.
*Carolina Amorim e Juliana Dias viajaram a convite do Slow Filme - Festival Internacional de Cinema e Alimentação.
Mais informações no site Malagueta
Fonte: SRZD
http://www.sidneyrezende.com/noticia/147717+cinema+para+pensarEis aí uma boa idéia para o desenvolvimento de um projeto apara a criação de um festival de cinema alternativo e original em Caxambu