QUE É ISSO MAESTRO? QUE É ISSO CORREIO BRAZILIENSE?
Paulo Roberto Guimarães Moreira *
O
Correio Braziliense teve a infelicidade de no sábado, 15 de outubro
passado, publicar um artigo ou crônica intitulada: “Abertura da Copa do
Mundo”, do compositor e maestro Jorge Antunes. Em 1990, Jorge Antunes e
eu fizemos parte de nossa campanha juntos: ele para deputado distrital e
eu para federal. Foram momentos engraçados. O maestro é um grande
gozador. Mas, agora ele escreve um artigo extremamente preconceituoso
onde mistura ratazanas, mulatas, passistas, pessoas com deficiências em
cadeira de rodas, o Pelé, a Dilma e a Gisele Bündchen para fazer um
quadro de horror. Ora, maestro, ora Correio Braziliense, os senhores não
têm algo melhor para fazer? Tanta coisa importante acontecendo no
mundo, no Brasil e em Brasília e os senhores em pleno sábado, em área
nobre do jornal disseminando racismo, preconceito? Que decepção? Pensei
em processar o Jorge Antunes por danos morais, mas, ele era meu amigo.
Como vou processar um amigo? Meu amigo, minha veia musical sempre foi um
pouco atrofiada, mas, se essa sua crônica fosse uma música, seria das
piores músicas que já ouvi. Do Correio Braziliense, que sou assinante há
décadas e do meu amigo Jorge Antunes eu esperava o contrário: a luta
pela melhoria da imagem dos grupos segregados. Nunca o contrário. Sei
que o preconceito está no inconsciente coletivo e como nos mostrou Freud
de repente emerge num ato falho. Mas, publicar ato falho é demais! Sei,
também, que o discurso politicamente correto, muitas vezes é chato,
mas, terei eu que enumerar os defeitos do maestro e do jornal para me
sentir melhor? Será papel de intelectuais e da mídia alardear
preconceitos ou seria o contrário? Não sei o que é pior se o preconceito
velado ou se escancarado?
* Paulo Roberto Guimarães Moreira é paraplégico, Economista e Mestre em Filosofia pela PUC-Rio.