O CELULAR, O CÉU E O
INFERNO
Paulo Roberto Guimarães
Moreira *
Existe uma metáfora que nos conta
o seguinte: um indivíduo vai para o inferno e lá encontra um banquete e cada um
tem um talher enorme amarrado ao braço. Resultado ninguém consegue comer. Achando
isto sem graça ele foi ao céu para ver como era. Lá chegando viu o mesmo
banquete só que cada um dava comida na boca do outro.
Essa metáfora também se aplica ao
celular. No inferno todo mundo lhe liga para lhe vender ou lhe pedir alguma
coisa. No céu todos ficam com o celular ligado para poder ajudar ao outro, para
prestar serviço.
Eu pertenço a um grupo de mutuo
ajuda. Certa vez eu liguei para oito pessoas do grupo e ninguém atendeu.
Chegando ao grupo eu disse: imagina que um de nós fosse seqüestrado e estivesse
no porta malas de um carro sendo levado para um matagal para ser morto. Bem, ligaríamos
para oito companheiros, será mesmo que são companheiros? Nenhum responde.
Segundo meus estudos de direito os oito companheiros poderão ser processados por
crime de omissão.
No Brasil essa situação é
catastrófica. Ligam à cobrar. Quem vai para a entrevista de emprego pede ao
patrão para pagar a passagem. No caso de não irem trabalhar não dão satisfação.
E se você ligar não atendem. É um país sem berço e sem educação. O pai faz o
filho e some. Como disse Paulo Francis isso não é um país, é um acampamento. A
maioria das pessoas não tem palavra. São deficientes de caráter.
É preciso muita paciência e
tolerância para viver no Brasil. E quem mora só aí é que é triste. Depender da
ajuda de alguém é um sufoco.
* Paulo Roberto Guimarães Moreira
é Paraplégico, Economista e Mestre em Filosofia pela PUC-Rio. Mora em Brasília
e conta com a ajuda de cuidadoras e auxiliares de enfermagem.