A pequena São Lourenço, no Sul de Minas Gerais, tem como principal
atividade econômica o turismo. Há décadas, as fontes hidrominerais são o
grande atrativo da cidade, que nos últimos anos descobriu um novo
potencial: o sabor e o aroma de um café especial, apreciado
internacionalmenteNas lavouras do Sul do estado brotam cerca de 50% de
todo o café colhido em Minas, estado que lidera a produção brasileira.
Com as condições climáticas e geológicas favoráveis, o fruto virou
centro das atenções de um passeio para turistas que começa nas fazendas e
termina em uma típica mesa mineira. Depois de caminhar pelas lavouras,
apreciar a plantação do alto dos mirantes e entender a cadeira
produtiva, é hora de degustar o café.
Aos 29 anos, o empresário Helcio Júnior herdou dos bisavós o gosto
pela história e pelo cultivo do café. Na quarta geração de produtores,
ele serve em uma cafeteria de São Lourenço o café colhido em Carmo de
Minas, a nove quilômetros. "Aqui tem o melhor café do mundo, porque
temos as melhores águas e os melhores grãos", garante. Desde 1891, a
família dele produz café voltado para exportação. Eles vendem
principalmente para Japão, Estados Unidos e Inglaterra. Em 2007, Júnior e
o irmão abriram uma torrefação de café especial.
O café daqui tem acidez, doçura, corpo, não precisa de açúcar. O
nível de aceitação é ótimo. É tomado um pouco mais frio, para sentir
melhor o gosto". Segundo Júnior, o potencial turístico do café passou a
ser explorado recentemente. "Isso foi ditado pelo próprio mercado. A
gente recebe empresários estrangeiros que vem comprar o produto in
natura, que vem conhecer o nosso café. Os hoteleiros voltaram os olhos
para isso e o produto acabou inserido no conceito de turismo da região",
disse.
São Lourenço praticamente não tem área rural, porque se estruturou
como cidade polo do Circuito Turístico das Águas, investindo no setor
hoteleiro e no comércio. O grão bastante apreciado vem das fazendas do
entorno e se destaca em concursos com padrões internacionais, segundo a
Associação Brasileira de Cafés Especiais.
A carioca Paula Senra, de 29 anos, conhece a cidade desde os tempos
de colégio. "Na minha época de escola, era um hábito fazer excursão para
o Parque das Águas. Depois voltei quando estava grávida e fiz um
passeio muito agradável com meu marido", disse. A visita a negócio
aconteceu depois, com uma sócia. Elas têm uma cafeteria em um shopping
de Volta Redonda (RJ) e mudaram o tipo de café servido depois que
visitaram no início do ano as fazendas produtoras.
É um café que não amarga na boca, experimentei o café frutado e ele
realmente é doce, a gente sente o aroma do café, é sensível a diferença.
É um passeio muito agradável, muito bonito e, no final, tem um casarão
que é o Museu do Café, com máquinas antigas e fotos de família", disse
Paula. Para ela, o passeio deixou saudade. "Senti muito bem, consegui
descansar, tenho a sensação de querer voltar", falou.
As lavouras visitadas no passeio chamado Rota do Café estão dentro da
área da Serra da Mantiqueira em Minas Gerais e acabam de ganhar um selo
de indicação de procedência. O certificado é concedido pelo Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Para ter o selo, um dos
critérios é obter nota mínima de 80 pontos na degustação, em uma escala
que vai de zero a 100. A responsabilidade ambiental da lavoura também é
considerada.
A qualidade o café ampliou o potencial turístico, mas as fontes
hidrominerais não deixaram de ser o principal atrativo. O Parque das
Águas, no Centro de São Lourenço, lidera o roteiro tradicional. São nove
fontes de águas minerais, com propriedades terapêuticas e um balneário
com diversos tipos de práticas de relaxamento.
A área é protegida por matas, possui um lago, quadras de esporte e
restaurante. "Aqui é um lugar de bem-estar. A partir do momento que você
entra, encontra um local muito verde, com natureza muito bela e rica,
com árvores centenárias. O visitante vem para se sentir bem, para se
prevenir", disse a coordenadora do parque, Vera Vaz.
Anualmente, cerca de 350 mil visitantes passam pelo parque e fazem
uso das águas minerais, ricas em ferro, magnésio, potássio, sódio e
lítio. De acordo com a coordenadora, cada fonte é indicada para um tipo
de tratamento preventivo. "A fonte Vichy de água alcalina é indicada
para problemas gástricos e renais. No mundo, outra fonte com a mesma
água só existe na França", cita.
Pelas propriedades terapêuticas, Vera explica que as águas de São
Lourenço são usadas em diversos tratamentos, como problemas hepáticos ou
dermatológicos, depressão, hipertensão, anemia, diabetes, sinusite,
cálculo renal. O visitante pode levar para casa a água das fontes. A
fama de ‘curativa' faz com que ela seja receitada na rede municipal de
saúde, segundo a coordenadora.
De acordo com o secretário Municipal de Esporte, Cultura e Turismo,
Sidney Cabizuca, São Lourenço recebe cerca de 25 mil turistas nos
feriados prolongados. Um dos períodos mais procurados é o réveillon.
"Estamos com 80% da rede hoteleira reservada. Com certeza, vamos chegar a
100% de ocupação. Vão ser dois shows em praça pública e queima de fogos
da prefeitura e dos hotéis", afirma. A partir do natal, uma pista de
patinação no gelo é instalada em praça pública. "É tradição há dez anos,
sempre no verão e na Praça Brasil, no coração turístico", disse.
Acostumada com a lotação, a cidade também já se organiza para o
carnaval. De acordo com o secretário, cerca de 30 mil pessoas participam
todos os anos do Bloco do Pijama, que completa 25 anos de folia de rua.
Para descansar e se divertir a preços mais cômodos, uma dica é
aproveitar a baixa temporada no começo de fevereiro.
Ao longo do ano, outras atrações como o festival de inverno, em
julho, e a festa do padroeiro, em agosto, movimentam a economia local.
"Antigamente, o turista era veranista. Mas como o verão é um período
muito chuvoso aqui, estamos investindo no turismo de inverno", conta o
secretário.
A temporada das férias é a mais movimentada para Márcio Carlos
Silvério, 45 anos. Ele nasceu em São Lourenço e, há 20 anos, pode ser
encontrado perto do Parque das Águas, onde oferece o passeio de
charrete. "O turista sempre nos procura, a maioria é do Rio de Janeiro".
Conhecedor de todos os cantos, ele segue um roteiro para apresentar a
cidade aos que vem de longe e revela uma preferência: a Quinta do Cedro,
uma fazenda com criação de avestruz.
Vem de outra fazenda a receita do doce com leite de cabra (veja
abaixo). A tradição doceira da cidade aliada à criação de caprinos está
presente na mesa de café colonial, que é motivo de orgulho para os
administradores Gilney Ribeiro Pinto e Tânia Resende Garcia. Além de
provar os quitutes, quem visita a fazenda pode amamentar os cabritinhos
em dois horários do dia. "É uma farra. Com três dias de vida eles são
amamentados com mamadeiras", conta o administrador.
O chamado turismo rural se firma como uma nova aposta, ao lado de
incursões pelas montanhas para a prática de balonismo. A cidade pode ser
vista de um voo panorâmico de balão. A viagem dura cerca de uma hora e
custa R$ 300 por pessoa. "É um voo seguro, que não pode ser feito em
dias chuvoso, nem com vento forte", diz o piloto Luiz Cláudio Maciel.
A cidade de São Lourenço tem população estimada de 42 mil habitantes
distribuídos numa extensão territorial de apenas 58 quilômetros
quadrados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). De acordo com a Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo,
oitenta e sete por cento da riqueza gerada na cidade está ligada ao
turismo. Outras atividades, como o comércio, a produção de doces e de
laticínios também se destacam. A cidade faz parte do Circuito Turístico
das Águas, que inclui também os municípios Caxambu, Lambari, Cambuquira,
Campanha, Soledade de Minas, Carmo de Minas, Heliodora, Baependi e
Conceição do Rio Verde.
Fonte: Midia News