sábado, 26 de maio de 2012


Tupi completa 100 anos, depois de parar até a Seleção - que se preparava em Caxambu, para a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966.

Do ‘Fantasma do Mineirão’ ao título de campeão da Série D do
Brasileirão: conheça os fatos interessantes do centenário do Galo Carijó

 Por Leonardo Simonini Juiz de Fora, MG

  Minas Gerais tem mais um clube de futebol que chega a 100 anos de vida. Neste sábado, 26 de maio de 2012, o Tupi Football Club, ou simplesmente Tupi, de Juiz de Fora, completa um século de fundação. Nesse período, além de títulos regionais, de melhor clube do interior do Estado e da recente conquista da Série D do Campeonato Brasileiro, em 2011, destaca-se um time que ficou conhecido como o “Fantasma do Mineirão”, repleto de jogadores formados na base do clube e que bateu América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro, no Mineirão, além de ter empatado com a Seleção Brasileira, de Pelé, Garrincha e companhia, campeã mundial.

Da esquerda para a direita: Cotoco, Isaias, Vistuim, Gabino e Toledo, Blozi, Sílvio, Branquinho, Jorginho e Zé do Correio (Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com) 
Uma das grandes formações do Tupi. Da esquerda para a direita: Cotoco, Isaias, Vistuim, Gabino e
Toledo, Blozi, Sílvio, Branquinho, Jorginho e Zé do Correio (Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com)

A trajetória desse time espetacular começa em 1965. O Galo Carijó, apelido da equipe juizforana, amargava a lanterna do Campeonato Regional, competição tradicional da Zona da Mata na época. Quem contou a história foram alguns dos principais personagens do clube nesses 100 anos: o meio-campo Toledo, considerado o maior ídolo do Tupi em todos os tempos; o ponta-direita João Pires, que tinha o futebol comparado ao de Mané Garrincha; e o técnico Geraldo Magela, sempre “convocado” quando o alvinegro passava por momentos delicados.
- Em 1965, o time terminou o primeiro turno em último lugar no Campeonato Regional. Fiz algumas mudanças, puxei muitos garotos da base e formei um time de jogadores que tinham o interesse de crescer. Ao todo, nossa equipe tinha nove jogadores formados na base. Sempre valorizei atletas da cidade, porque eles têm vergonha de perder e depois sair na rua. Por isso, corriam mais. Com esse time, ganhamos o segundo turno e, na final do Regional, batemos o Olimpic, de Barbacena - explicou o então técnico Geraldo Magela.
Geraldo Magela olha recortes do Tupi da década de 60 (Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com) 
Geraldo Magela vê recortes da década de 60
(Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com)
A partir daquela conquista, Magela e aquele grupo de jogadores começaram a escrever um dos capítulos mais marcantes na história do clube. No ano seguinte, em 1966, o Tupi convidou o Cruzeiro para um jogo festivo em Juiz de Fora, já que a Raposa havia ganhado o Campeonato Mineiro. Esse mesmo Cruzeiro bateria o Santos, de Pelé, na final da Taça Brasil.
- Sempre havia um amistoso do campeão daqui com o campeão da região de Belo Horizonte. E, em 1966, o campeão foi o Cruzeiro. O time tinha Dirceu Lopes, Tostão, Evaldo, Piazza, um timaço. Eles vieram jogar no campo do Tupi, e ganhamos por 3 a 2. Fiz os três gols do nosso time - relembra o meio-campo Toledo, que atuou até os 40 anos com a camisa do clube e nunca aceitou propostas para defender outra equipe.
- Chegamos a fazer 3 a 0, mas, como era um jogo festivo, fiz substituições, e acabou 3 a 2. Os jornais de Belo Horizonte disseram que choveu naquele dia, por isso tinha dado aquele resultado. Como se tivesse chovido só para o Tupi... - relembra o técnico da equipe.
Naquele dia, o Tupi jogou com Waldir (Hélio); Manoel, Murilo (Sabino), Dário e Walter; Mauro (Paulinho), França (Jorge Guimarães), João Pires e Toledo; Vicente e Eurico (Joel). Essa era a base que ganharia o apelido de “Fantasma do Mineirão”. Já a Raposa atuou com Tonho; Pedro Paulo, Vavá, Dilsinho e Neco; Piazza (Zé Carlos), Dirceu Lopes (Hilton Chaves), Natal e Evaldo; Tostão e Hilton Oliveira (Dalmar).
Depois da surpreendente vitória sobre o Cruzeiro, o Atlético-MG resolveu convidar o time Carijó para um amistoso no Mineirão. Seria a primeira vez da equipe de Juiz de Fora no maior estádio de Minas, inaugurado no ano anterior. E o convite, por sinal, tinha como objetivo provocar o arquirrival celeste, já que os atleticanos davam como certa a vitória, que serviria para ironizá-los.
- O Galo nos convidou para jogar no Mineirão, coisa que nunca tínhamos feito na vida. E isso foi para vingar o Cruzeiro, para fazer gozação com eles. Levamos um susto com o estádio, um monstro daqueles. Quando entramos em campo, vimos aquela torcida enorme. O Geraldo Magela, o maior técnico que já vi no futebol, viu que todos estavam nervosos, nos chamou de volta ao vestiário e colocou nossa cabeça no lugar. No fim, vencemos por 2 a 1, e eu marquei o gol da vitória - conta João Pires, ponta-direita rápido e habilidoso, peça fundamental no esquema montado por Magela.
Com vitórias sobre dois grandes de BH, coube ao América-MG a missão de tentar vingar os coirmãos. Novo amistoso foi marcado, e nova vitória juizforana.
- Depois das vitórias sobre Cruzeiro e Atlético-MG, o América-MG nos chamou. Na época, eles tinham mais força do que agora, e acabamos ganhando por 2 a 1 - relembra Magela.

Saga do Fantasma não parou no Mineirão
João Pires, ex-ponta-direita e ídolo do Tupi (Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com) 
João Pires, ex-ponta-direita e ídolo do Tupi
(Foto: Leonardo Simonini / Globoesporte.com)
Depois dos bons resultados em Belo Horizonte, o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, resolveu convidar o Tupi para um jogo-treino contra Pelé e companhia. A equipe se preparava em Caxambu, cidade do sul de Minas, para a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966.
- João Pires fez o gol do Tupi, e Feola pediu para prorrogar o treinamento. Já tinha uns 50 minutos. Aí, ele mudou o time todo, e eu não tinha como trocar, porque os reservas não eram tão entrosados. O Servílio fez o gol de empate da Seleção, e o amistoso terminou em 1 a 1 - recorda Geraldo.
Alguns dias depois, em novo amistoso com a Seleção, o Tupi acabou derrotado, em Três Rios, por 3 a 1, mas o placar poderia ter sido mais apertado, caso o atacante Joel não tivesse desperdiçado um pênalti no fim. Mas outro capítulo interessante com a equipe Canarinho aconteceu ainda em Caxambu.
- Quando acabou o jogo, estávamos no hotel, e teve um alvoroço, com rádio, televisão, todo mundo na porta. De repente, o Pelé desceu do carro e perguntou quem era aquele loirinho que tinha dado um trabalho danado no jogo. Me chamaram, e ele me deu uma foto. Ele falou que eu tinha dado trabalho. Pela foto, muitos dizem que era eu quem estava marcando o Pelé, mas eu digo que era ele que estava me marcando - diz, aos risos, Toledo.
Ídolo até como administrador de estádio

Toledo, ou Toledinho, como era conhecido o meio-campo, se orgulha de nunca ter aceitado vestir outra camisa, a não ser a do Tupi. Como jogador profissional, atuou dos 16 aos 40 anos, mas, depois da aposentadoria em campo, já fez de tudo no clube. Atualmente, é administrador do Municipal Mário Helênio, em Juiz de Fora. E nessa mesma função, em 1989, ele “participou” ativamente de uma partida contra o Atlético-MG.
Pelas lembranças de Toledo, o time precisava de um empate contra o Galo para não ser rebaixado. O Tupi vencia por 2 a 0, mas teve dois jogadores expulsos, e o Atlético-MG conseguiu a igualdade na etapa final. Em um dado momento, já no fim do jogo, o então administrador do estádio dividiu uma bola com Luisinho, o mesmo da Seleção Brasileira.
- Na minha época, o estádio não era como hoje, o campo era menor, e o banco de reservas ficava atrás do gol. Como eu era o administrador, ficava ali, para resolver qualquer problema. E naquele dia, contra o Atlético-MG, o Tupi precisava do empate para não cair para a Segunda Divisão. O Tupi fez 2 a 0, o árbitro deu dois pênaltis contra nosso time, e eles empataram. O juiz ainda expulsou dois jogadores nossos no fim. Aí, faltavam uns cinco minutos, e eu atrás do gol. Não sei o que deu na minha cabeça quando vi o Éder Aleixo e o Luisinho tabelando dentro da área. Entrei de sola em um deles e tirei a bola. Deu um tumulto danado, a polícia veio, mas o Tupi conseguiu segurar o empate que precisava.
O Tupi dos dias de hoje
Em 2011, o Tupi conquistou um dos maiores títulos de sua história, o de campeão brasileiro da Série D, o que lhe rendeu vaga na Série C deste ano. Um dos personagens dessa conquista relembra a emoção por entrar para a história do clube.
- Foi uma campanha maravilhosa, muitos não acreditavam quando iniciamos o trabalho. Mas com um grupo bem unido e com o trabalho bem feito do técnico Ricardo Drubiscky, conseguimos trazer o título para Juiz de Fora - conta o atacante Ademílson, grande ídolo da equipe atualmente.
Tupi, campeão brasileiro da Série D (Foto: Antônio Carneiro) 
Tupi, campeão brasileiro da Série D (Foto: Antônio Carneiro)
Para a Série C, recentemente adiada e sem data marcada para início, o Tupi tem se preparado, mas atravessa as mesmas dificuldades de qualquer equipe do interior. Mesmo assim, o presidente Áureo Fortuna mostra planos ousados.
- O orçamento do Tupi sempre foi simples, temos bom apoio, mas ainda não é o suficiente. Nossa fórmula para essa ascensão é sempre tomarmos decisões com base na opinião de um colegiado, onde pensamos, junto com a comissão técnica, quem deve sair ou ficar no elenco, as contratações e nosso planejamento. Nosso objetivo é alcançar a Série C, mas foi tão bom sermos campões.
Um obstáculo enfrentado pelo clube, no que diz respeito à arrecadação, está estritamente ligado ao seu quadro de sócios. O Tupi ostenta um patrimônio de R$ 30 milhões. O clube tem quase cinco mil associados, mas apenas 58 estão ativos e em dia com a taxa de manutenção.

- Temos ainda cerca de 1.400 sócios remidos que não contribuem com nada, e desses, cerca de 300 frequentam o clube. Felizmente o novo conselho detectou isso e vamos convidar todos os associados para uma reunião, porque clube nenhum sobrevive sem taxa de manutenção. Se isso continuar, em dez anos o Tupi pode decretar falência.
Uma das saídas para resolver o problema financeiro foi criar uma galeria com lojas, em uma parte obsoleta da sede social. De acordo com Fortuna, a medida impediu que todo o patrimônio do clube fosse a leilão. Além disso, o dinheiro obtido com o aluguel permite que o Tupi tenha equilíbrio entre receitas e despesas.
- Nosso objetivo é nos tornar a terceira força de Minas Gerais em pouco tempo - conclui o dirigente.

 Fonte: Globo Esporte

 http://globoesporte.globo.com/futebol/times/tupi/noticia/2012/05/brasil-afora-tupi-completa-100-anos-depois-de-parar-ate-selecao.html