sexta-feira, 19 de abril de 2013

Tremores em Montes Claros devem continuar, mas serão menores de 5.0 na Escala Richter

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O abalo de 3,7 graus na Escala Richter, registrado em Montes Claros na manhã de quinta-feira, foi mais um evento da sequência de tremores que vêm ocorrendo na cidade nos últimos três anos. Após o mais forte deles – de 4,2 de magnitude , ocorrido em 19 de maio de 2012, no início de junho passado, foram instaladas na cidade nove estações sismográficas da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), que passaram a monitorar os fenômenos, em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Em março último, foi divulgado relatório dos estudos, que confirmaram que a causa dos sismos é uma falha geológica de 3 quilômetros de extensão, situada a cerca 1,5 a 2 quilômetros de profundidade.

Conforme registros dos aparelhos da UnB e da USP, entre maio e dezembro de 2012, ocorreram 176 “eventos” no município, dos quais a metade “fenômenos naturais” (tremores) e outra metade detonações realizadas por pedreiras. O sismo da última quinta-feira não provocou danos, a não ser rachaduras em paredes de algumas casas. Mesmo assim, provocou muito susto na população. O Corpo de Bombeiros recebeu cerca de 200 ligações, quase todas de moradores que ficaram muitos assustados. As aulas em algumas escolas também foram prejudicadas. De acordo com a UNB, o abalo teve como epicentro a Vila Atlântida (próxima da falha geológica, apontada como causa dos fenômenos) e foi sentido em todas regiões da cidade e em municípios vizinhos. O fenômeno também teve grande repercussão nas redes sociais. 

Um questão foi levantada pelos moradores: porquê os tremores se intensificaram nos últimos anos? Como resposta, o chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, Lucas Vieira Barros, explica que os abalos são cíclicos, ou seja: podem ocorrer em determinada região por um determinado período e depois e são interrompidos. “Os sismos podem ocorrer em uma região durante três, quatro, cinco anos ou mais”, explica o especialista, lembrando que em Porto dos Gaúchos (Mato Grosso) teve uma sequência de tremores durante cerca de 10 anos, entre os anos 1990 e 2000. 

“Normalmente, há uma sismicidade que dura um certo período. Aí, começa novamente um lento e gradual acúmulo de energia no interior da terra, que pode demorar 10, 20, 50, 100 e até 1 mil anos para ser liberada novamente e provocar outros tremores”, afirmou Vieira Barros. O ambientalista José Ponciano Neto, de Montes Claros, disse acreditar que os tremores registrados na cidade estejam relacionados com intervenções no subsolo, como a abertura de poços tubulares e perfurações para pesquisas sobre ocorrência de gás natural. “Mas, não existe relação entre os fenômenos e as interferências do homem na natureza”, assegurou o chefe do Observatório da UnB.

Vieira Barros também afirmou em situações que são registrados pequenos tremores em sequência, podem ocorrer um abalo de maior intensidade. No entanto, pelas características do Brasil e da falha geológica de Montes Claros, praticamente está descartada a possibilidade de ocorrência de um tremor com intensidade acima de 5.0 graus na escala Richter, capaz de provocar grandes prejuízos. 

O chefe do Observatório Sismológico da UnB ressaltou que o tremor registrado ontem em Montes Claros, devido ao horário em que aconteceu – “em que muita gente ainda estava acordando” – acabou assustando mais as pessoas, apesar de não provocar danos.
O coordenador municipal de Defesa Civil de Montes Claros, Mattson Malveira, informou que fez vistorias em casas em diversos bairros. Porém, a Defesa Civil só interditou um quarto de uma casa no bairro Bela Vista, próximo da Vila Atlântida. “Na verdade, a casa já tinha sido atingida por outros tremores anteriormente”, explicou Malveira.

O autônomo Renato Barbosa, de 30 anos, ficou muito assustado e chamou os bombeiros para fazer uma vistoria em sua casa, que apresentaram trincas em uma parede. Os bombeiros constaram que as trincas eram antigas. “Mas, com o tremor de hoje (ontem), houve um deslocamento no gesso do teto da minha casa. Realmente, o susto que tivemos foi muito grande”, contou Renato, no momento do abalo de ontem, assistia televisão. 

O estudante Tiago da Silva, de 8 anos, é um dos 500 que estavam no local. "Meus colegas gritava, choravam e saíriam correndo. Senti muito medo, parecia que a escola ia cair", diz o menino.

No Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Nossa Senhora da Conceição, no bairro Santos Reis, muitas crianças não participaram das atividades, ontem de manhã, por causa do abalo sismo. “Estávamos fazendo a oração diária no momento do tremor. Uma telha caiu e quase atingiu uma criança”, relatou Fabrícia de Oliveira, professora da entidade, que atende 160 crianças. Segundo Fabrícia, assustados, muitos pais foram buscar os filhos logo após o abalo sísmico.


Luiz Ribeiro