domingo, 28 de julho de 2013

Bailarinas em balões e palhaços encantam o público em Caxambu
Festival Mundial do Circo reúne atrações nacionais e internacionais.
Da nostalgia à infância, público de todas a idades acompanhou evento


Samantha SilvaDo G1 Sul de Minas

Palhaços divertem as crianças no Centro de Caxambu (Foto: Samantha Silva / G1)Palhaços divertem as crianças no Centro de Caxambu (Foto: Samantha Silva / G1)
Fernanda Vidigal, coordenadora do Festival Mundial do Circo que acontece até este domingo (28) em Caxambu (MG), define o espetáculo circense como uma “ópera popular”. Bailarinas, palhaços, balões, música, crianças, adultos e idosos, tudo isso pode ser visto na cidade recentemente promovida a “capital mundial do circo”. O festival teve início no dia 23 de julho e traz na programação uma mistura de nostalgia com a reformulação do espetáculo circense, levando atrações gratuitas para todos os gostos.
Nas ruas de Caxambu, a dinâmica entre o velho circo e o novo espetáculo circense é percebida em cada atração. Em umas das praças do Centro da cidade, a Companhia Carroça dos Mamulengos  diverte um grupo de crianças que são convidadas a interpretar as brincadeiras junto com o palhaço. Ele chama um menino da platéia para ajudá-lo no número, que se levanta todo tímido e só fica mais à vontade depois do incentivo do palhaço: “Pra fazer teatro, tem que ser sem vergonha. Vamos lá!”
Depois de muitas ‘palhaçadas’, o número termina quando o menino, que se chama Fábio, coloca um pouquinho de água em um copo e o líquido se ‘multiplica’ e esparrama para todos os lados. As várias risadas que se seguem provam que não é preciso muita coisa pra fazer a alegria da criançada. O palhaço termina sua ‘lição’: “O palhaço sempre perde, e todos nós sempre perdemos e ganhamos. Isso é pra vocês aprenderem que depois do choro sempre vem o sorriso.”
Bailarina faz número com balão no Festival do Circo em Caxambu (Foto: Samantha Silva / G1)Bailarina faz número com balão no Festival do Circo em Caxambu (Foto: Samantha Silva / G1)
Em outra parte da cidade, um outro tipo de espetáculo atrai grande público de todas as idades. Um imenso balão amarelo e laranja colore o céu de Caxambu, enquanto bailarinas em uma coreografia abstrata brincam no ar dependuradas à grande estrutura. Como foi através dos tempos, no circo sempre há espaço para todos os artistas e suas formas de arte.
Novos tempos, velhos palhaços
Mentora do festival, Fernanda explica que o evento acontece desde 2001 em Belo Horizonte (MG) e já passou por cerca de 14 cidades, não deixando de lado a tradição itinerante do circo. Neste ano, os produtores conquistaram um edital do Governo do Estado que busca incentivar o turismo em cidades do interior de Minas Gerais.
A fórmula funciona. A taxa de ocupação nos hotéis da cidade aumentou em 40%, segundo informações do convention da cidade à produção do evento. “O público está mudando. Por mais que se associe o circo às crianças, muitos adultos e pais chegam pra mim e falam que agora podem mostrar para os filhos o circo que viam na infância e eles são boa parte do público”.
Fernando diz ainda que o circo está se renovando. O espetáculo está se profissionalizando. “Não se vê muito mais famílias tradicionais de artistas que vão passando a técnica de pai pra filho, mas de muitos artistas que se formaram em escolas para isso. O espetáculo também ganhou mais elementos estéticos, artistas que tocam seus instrumentos, e um roteiro que vai contando uma história, por exemplo”, completa.
Palhaço catalão Tortell Poltrona: "palhaço de nascimento" (Foto: Samantha Silva / G1)Palhaço catalão Tortell Poltrona: "palhaço de
nascimento" (Foto: Samantha Silva / G1)
Já Tortell Poltrona é o que poderia se chamar de “palhaço das antigas”. Nos picadeiros do mundo desde 1974, o palhaço catalão é uma das principais atrações do festival. Ele se define como “um palhaço de nascimento”, mas o personagem foi incorporado Jaume Bullich somente aos 19 anos. “Todos somos palhaços, a diferença é que eu ganho a vida fazendo isso”, acrescenta.
Tortell visita o Brasil com seus espetáculos há cerca de 15 anos e afirma que é um dos únicos países em que ele não se sente estrangeiro. “Sempre encontro alguém parecido comigo aqui. Eu gosto dessa multiculturalidade brasileira, tem muito a ver com o palhaço, que tem uma linguagem universal.”
A história do palhaço se mistura à história política da Espanha. Sua carreira começou com os resquícios da ditadura de Francisco Franco, derrubada em 1976. “Eu sou catalão e naquela época, a cultura catalã estava proibida. Portanto comecei contando as histórias e passando a cultura catalã à frente por meio de meus espetáculos, que poderia ser esquecida”, conta.
Em 1998, Bullich fundou a Ong Palhaços sem Fronteiras, que leva risos a refugiados de guerras mundo afora. Seu número no festival, “Postclássic”, é uma reunião de suas melhores criações. Quando questionado se tempos como estes, com a perda rápida da inocência das crianças, pode trazer o fim do circo, o artista afirma que o palhaço é eterno e faz as reflexões da humanidade. “O palhaço é um poeta cênico, um provocador de sensações. A mais comum é o riso, mas o trabalho do palhaço é a poesia de conceitos, onde podemos falar de amor, sexo, política de uma forma mais poética.”
Ele concorda com a ideia de que o circo tenha se renovado para se encaixar em novos tempos. “Hoje a tecnologia nos mostra muitas coisas. Houve uma época em que o circo era a única maneira de se ver animais diferentes, e hoje nós vemos por todos os lados através de diversos meios. Por um lado isso é bom, porque temos um conhecimento à disposição que antes era inacessível, mas também hoje comemos no mesmo prato que a ficção, e é muita informação. Um menino de cinco anos vê na televisão mais mortes violentas que seus avós. São tempo difíceis”, completa.
Mas como um grande provocador de risos, Tortell leva a sério a missão do palhaço, de tirar risos até da tragédia. “Gostaria que o mundo fosse diferente, mas como não posso o mudar por completo, porque não tenho a força que seria necessária, pelo menos tento que o meu espetáculo traga momentos de felicidade.”
Espetáculo "Postclássic" diverte o público no Parque das Águas (Foto: Samantha Silva / G1)Espetáculo "Postclássic" diverte o público no Parque das Águas (Foto: Samantha Silva / G1)
O show precisa continuar
A lona colorida, os balões, a música ritmada em tom divertido mostram o caminho para o Parque das Águas onde cerca de 150 pessoas se reuniram para assistir o espetáculo “Postclássic”, do palhaço Tortell Poltrona. Dinâmico, seus números vão das piadas típicas de palhaço ao equilibrismo de cadeiras pela boca. Os intervalos entre muitas risadas são mínimos.
Seu Geraldo Ribeiro está na platéia e entrando no clima da “palhaçada”, quando questionado sobre quantos anos tem, ele responde 68 anos. A mulher dele, Dulcineia de Almeida da Silva, corrige logo: “ele tem 86 anos”! O aposentado conta que sempre foi a circos e acha uma pena ter tão poucos espetáculos circenses para serem assistidos hoje em dia. “Mas está excelente o festival. Cada época é uma época.”
Dulcineia completa dizendo que sente muita saudade da alegria da infância de antigamente. “Hoje as crianças têm muitas responsabilidades e muitas vezes não podem viver a alegria e o desprendimento da infância. É muito bom ver um espetáculo assim. É uma coisa que vem da alma, e só traz alegria”, completa.
Após o término do espetáculo, o pequeno Mikael, de apenas quatro anos, se diverte com o restante das fitas que sobraram no palco de Tortell, correndo por todos os lados. Ele conta que o número que mais gostou foi do palhaço equilibrando várias cadeiras pela boca. Apesar de toda a competição com um mundo que muda vários de seus conceitos, o pequeno Mikael é prova de que os palhaços do circo continuam cumprindo sua missão de levar alegria ao ‘respeitável público’: “Eu achei muito legal. Ele me fez rir”, finaliza a criança.
O casal Geraldo e Dulcinéia e o pequeno Mikael acompanham o show (Foto: Samantha Silva / G1)O casal Geraldo e Dulcinéia e o pequeno Mikael acompanham o show (Foto: Samantha Silva / G1)












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