quinta-feira, 25 de julho de 2013


Caxambu. Trata-se mesmo de uma bela cidade. Ao que parece, as águas que lhe tornaram conhecida também lhe fazem muito bem. Mas, além de bela, nos últimos dias, Caxambu está feliz. O caso é que o circo chegou à cidade na última terça-feira, e por lá permanece até o próximo domingo, quando o Grupo Galpão apresenta à cidade suas mais recente criação, “Os Gigantes da Montanha”.
Já nos últimos dias, conta a atriz Mariana Maioline, a chegada do Festival Internacional do Circo era o assunto da cidade. Integrante da equipe responsável pelo Ponto de Encontro do festival, felizmente criado em meio ao Parque das Águas, no centro da cidade, Mariana conta ter ouvido até mesmo “Vocês salvaram nossa cidade!” – vindo da boca de uma senhora.

Na noite de abertura do festival, boa parte dos 20 mil moradores locais desligaram suas televisões e foram à principal rua da cidade, acompanhar um pequeno cortejo composto por integrantes dos espetáculos que fazem parte da programação. Uns marcharam até a grande lona de circo montada às margens de um belo canal que corta a cidade. Ali seria apresentada a atração de abertura do festival: o Circo Zanni.

Com 400 lugares, a arena montada para recebê-lo ficou pequena quando comparada ao interesse da cidade pelo aconteceria ali dentro. Enquanto alguns ficaram de fora, ainda confiando na oportunidade de assistir à estréia do Zanni na cidade, a coordenadora do festival, Fernanda Vidigal, continha certa emoção ao declarar a abertura do vento diante de uma plateia claramente já extasiada em relação ao que ainda estava por vir.

Há alguns quarteirões dali, no Parque das Águas, outra centena de pessoas já explorava, com notória curiosidade, o espaço montado como ponto de encontro que funcionará ao longo de todas as noites do festival – a exemplo do que tradicionalmente acontece no FIT belo-horizontino. Em meio à caprichada seleção musical que conduzia a primeira parte do evento, ouvia-se em sequência Céu, Seu Jorge, Tim Maia e Jorge Ben – deixando bastante claro que não é preciso ceder aos apelos da música comercial para embalar uma festa popular.

Neste ponto de encontro, as câmeras fotográficas são quase unanimidade, e praticamente todos se fotografam ao lado de palhaços de madeira, guarda-chuvas suspensos, árvores decoradas e um simpático varal de calças de palhaço que certamente constará em muitos álbuns de fotografia entre os moradores de Caxambu.

Aos poucos “estrangeiros”, por outro lado, chamava atenção um robusto coreto do parque, iluminado e vestido a caráter para o Festival de Circo, compondo o centro de uma paisagem difícil de esquecer. Todos parecem encantados com a vida noturna e cultural se fazendo possível em plena terça-feira, coisa ainda rara até mesmo em Belo Horizonte.

Ao menos nesta primeira edição, uma coisa parece bastante clara: ainda que realizado em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo, trata-se de um evento plenamente voltado à população da cidade. Jovens, crianças, casais, senhoras e senhores que há muito não saíam de casa, todos parecem seduzidos pela inconfundível atmosfera do circo. “Eu estava voltando do mercado, vi isso aqui e resolvi entrar”, disse uma senhora, sobre a razão que a tinha levado à primeira noite do festival.

Fato é que encerrada a apresentação do Circo Zanni, todos desceram para o ponto de encontro. Enquanto produtores locais se organizavam em uma pequena feira de alimentação, cantores da região foram escalados para embalar as noites de festa que vão suceder os espetáculos até o próximo domingo. Assim como os poucos forasteiros que, nesse início de festival, já circulam pela cidade, os próprios moradores de Caxambu parecem um tanto comovidos diante da potente atmosfera revelada a partir de uma composição entre o circo e a própria arquitetura da cidade.

Noite de estreia para o inusitado 
Circo Zanni

Caxambu. Criado em São Paulo, há quase dez anos, sob a direção de Domingos Montagner, o Circo Zanni certamente não é uma companhia muito convencional. Parece bastante ousada, nesse sentido, a escolha da trupe para conduzir quatro das seis noites do Festival Internacional de Circo 2013, agora sediado em Caxambu.
O Zanni mistura habilidades de música, circo, dança e teatro
A primeira impressão é realmente marcante, impulsionada tanto pela caprichada cenografia do espetáculo quanto pela energia “rock’n’roll” que a música – executada ao vivo – oferece ao numeroso público que lotou a arena montada em frente ao Ginásio Jorge Curi, no centro da cidade. Todos parecem encantados com o universo que ali, se abre, conduzindo a plateia a algo inédito – no caso dos mais jovens – ou de que já nem se lembravam mais – caso dos mais velhos, sempre presentes entre as atividades do festival de circo.

Aos poucos percebemos que o espetáculo do Circo Zanni é composto por pequenos números que se articulam de modo mais ou menos fluido, sem que, na maior parte das vezes, haja ligações entre o que começa e o que acabou de acontecer. Misturando habilidades de música, circo, dança e teatro, os dez integrantes da trupe se revezam entre números mais ou menos simples de equilíbrio, força e precisão, evocando imagens clássicas do circo como o trapézio e os malabares, assim como referências que passeavam entre o break, o rock e o cinema mudo.

Até mesmo pela mistura que constitui a linguagem do Circo Zanni, destacam-se, entre os vários números apresentados, aqueles em que parece haver uma segunda camada por trás do que está visível – o que nem sempre acontece. É muito interessante, por exemplo, o número em que, depois de perder seu livro, um homem é literalmente absorvido por uma poltrona e passa a dançar com ela. Também chama atenção a cena em que dois atores criam uma breve partitura musical a partir de diversos sons de buzina, reproduzindo ações e palavras comumente vistas no trânsito, como o famoso “passa por cima!” e os tradicionais cumprimentos de estrada – aqui, aliás, acentuados pela força dessa tradição nas cidades do interior mineiro.

Enquanto se mostravam muito potentes os raros momentos de interação entre os atores e o público, bastante receptivo à inusitada proposta do Circo Zanni, outros instantes não alcançavam as mesmas temperaturas, talvez por uma abordagem um tanto fria em relação à arte circense. Seja pelo nervosismo da primeira noite e pelo clima que tradicionalmente comanda o mês de julho em Caxambu, parece ter faltado algum calor na estreia do Zanni. Três outras sessões, contudo, ainda estariam por vir e lembrar que a história do encontro entre o Circo Zanni e a cidade de Caxambu estava apenas começando.

O repórter viajou a convite da organização do evento.
Fonte: O Tempo