segunda-feira, 29 de julho de 2013

Picadeiro de ares renovados
Saldo positivo e presenças marcantes na edição de estreia do Festival Mundial de Circo em Caxambu



Companhia Carroça de Mamulengos foi um dos destaques do Festival Mundial de Circo
Companhia Carroça de Mamulengos foi um dos destaques do Festival Mundial de Circo
Caxambu. Em sua primeira edição realizada longe dos domínios de Belo Horizonte, o Festival Mundial de Circo encontrou em Caxambu um público mais do que disposto a acolhê-lo. Realizado em parceria com o Ministério do Turismo, o evento mostrou-se capaz de surpreender os habitantes da cidade, assim como de impressionar, em diversos momentos, aqueles que vieram de fora.



Em uma tacada só, a pequena cidade de 20 mil habitantes recebeu um bem-selecionado punhado de espetáculos, garantindo algum tipo de calefação aos seus frios dias e noites de inverno. Tendo o generoso universo do circo como ponto de partida, a curadoria do festival investiu numa instigante grade de espetáculos, ao mesclar diferentes linguagens e trazer propostas que, em muitos casos, ultrapassava um certo senso comum sobre as artes circenses.
“Logo que fui convidada para este festival, aceitei. Sempre achei o circo um lugar muito interessante, pois nele posso atuar, cantar, fazer graça, criar um dramalhão, e tudo isso me interessa como artista”, disse a atriz e cantora Marisa Orth, logo após apresentação de “Romance Vol.II”, na noite de sábado.
Apresentando-se pela primeira vez em um picadeiro, Marisa lamentou ter poucas oportunidades de trabalhar em pequenas cidades. “O que temos, nessas cidades, é uma troca muito mais intensa. São risos e aplausos que estavam guardados já há algum tempo e encontram, numa situação como essa, a oportunidade de acontecer”, completou, defendendo a importância de se criar e implementar políticas capazes de fomentar a circulação de espetáculos no interior do país.
Destaque

Assim como a atriz Marisa Orth, outra atração do Festival Mundial de Circo realizou, neste fim de semana, sua primeira apresentação dentro de um picadeiro. Trata-se da Companhia Carroça de Mamulengos, criada em Brasília e responsável por levar a Caxambu o espetáculo “Pano de Roda”, sagrando-se, certamente, entre os destaques do festival.
A partir de incontáveis referências à cultura popular brasileira, o espetáculo chama atenção por uma dramaturgia ao mesmo tempo contundente e poética, capaz de levantar questões profundas acerca da exploração do homem pelo homem, assim como da própria condição do artista – circense, ou não – em meio aos valores que regem nossos dias. Formado praticamente por uma única família, o numeroso – e jovem – elenco do espetáculo oferece marcantes presenças em cena, destacando-se tanto no trato com o público quanto nas relações que estabelecem entre si. No fim das contas, em meio à diversidade de caminhos estéticos trilhados pelos participantes do festival, parece residir justamente na densidade do encontro entre o artista e o público uma das principais lições defendidas, na prática, entre circos e picadeiros.

DANIEL TOLEDO
O repórter viajou a convite do festival