segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Paraísos de classe média

Ivan Marsiglia, de O Estado de S. Paulo
Foi durante uma viagem que fez de carro de São Paulo a Tiradentes (MG) para participar de um festival de fotografia em 2011 que as imagens do novo livro de Bob Wolfenson começaram a se formar em sua cabeça. No caminho de ida, parou em Caxambu e, no de volta, em São Lourenço - duas estâncias de águas mineiras que eram o destino dos sonhos nas férias de sua infância de classe média paulistana. O reencontro com essa atmosfera de pretenso luxo, ingenuidade e decadência inspiraram o projeto, inicialmente batizado de "Baixa Temporada".
Fotógrafo teve ideia em viagem a Minas Gerais - Divulgação
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Fotógrafo teve ideia em viagem a Minas Gerais
Aos 58 anos, o paulistano crescido no bairro do Bom Retiro que inscreveu seu nome na galeria dos fotógrafos da alta moda, das mulheres nuas e do glamour registrou, nas 41 fotos do livro Belvedere (Cosac Naify, 2013), a evocação romântica de um passado que parecia promissor. "Eu me considero um fotógrafo em trânsito entre as várias formas da fotografia, indo do luxo à crueza, por exemplo, do meu outro livro sobre armas de fogo, Apreensões (2010). Eu não poderia ser este fotógrafo se não fosse aquele", resume.
De volta a seu amplo estúdio na Vila Leopoldina, na região oeste da capital paulista, planejou um roteiro de cidades a percorrer no intervalo de seus trabalhos publicitários e editoriais. Clicou, quase sempre sozinho e em fotos "roubadas", cidades que vão de Águas de Lindoia e Cambuquira ao Colorado norte-americano e a Cracóvia. Em todas elas, usou uma única câmera digital, sua Leica M9, e um par de lentes de 28 e 50 mm. "Não sei nem mais como se põe filme em câmera", brinca Wolfenson, que aderiu sem reservas tanto à tecnologia quanto à cultura do mundo digital em que vivemos.
"Inicialmente compartilhei da preocupação de vários colegas de que a ‘excessiva popularização’ da fotografia acabaria por esvaziá-la. Mas sinto que o que ocorreu foi o contrário, valorizou-a como arte."
Parte das imagens de Belvedere, que conquistou o terceiro lugar no Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte, será exibida no próximo dia 22, na SP-Arte/Foto. No dia 28, o livro será lançado em uma exposição individual do artista, com 20 fotografias, na Galeria Millan.
Sobre o caráter nostálgico, nada festivo, das imagens do livro - que podem surpreender quem conhece o bom humor e a típica autoironia judaica que caracterizam Bob Wolfenson -, ele recorre aos versos do Samba da Bênção, de Vinicius e Baden Powell: "Para fazer fotografia com beleza é preciso um bocado de tristeza".
Fonte: Estadão