Imagem: Wikipédia |
Revoltados contra a decisão do Operador Nacional de Sistema (ONS), que estuda em reduzir o nível do reservatório da Usina Mascarenhas de Moraes, conhecida por Lago de Peixoto, em até 13 metros, moradores e autoridades dos municípios que poderão ser atingidos decidiram marchar a Brasília para participarem de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, solicitada pelo deputado federal Carlos Melles (DEM/MG).
A decisão foi em Delfinópolis, na segunda-feira (19), com a presença de cerca de 500 populares, além de prefeitos, lideranças de segmentos, e representantes de Furnas, que se reuniram em uma audiência pública da Assembleia Legislativa, proposta pelo deputado estadual Antonio Carlos Arantes (PSDB).
O motivo da polêmica foi o anúncio de Furnas de que o nível do reservatório de Peixoto poderá ser reduzido até a cota mínima, que é de 653 metros em relação ao nível do mar. Hoje o nível está em 663 metros, ou seja, 3 abaixo do nível máximo que é de 666 metros.
“É uma decisão que não podemos aceitar. Mostra a total falta de planejamento que sacrifica a população e os municípios, quando um governo faz algo de bom a gente aplaude, mas essa situação é critica e podíamos esperar tudo da presidente Dilma, menos isso, porque ela foi ministra de Minas e Energia do governo Lula e não tomou providências”, pontuou na abertura da audiência o autor do requerimento, deputado Antonio Carlos Arantes.
Emocionado, o prefeito de Delfinópolis, Pedro Paulo Pinto, deixou claro que se houver a redução do lago os prejuízos serão irreversíveis para sua cidade e para a região. “Vamos brigar até o final, isso não vai acontecer porque esse governo federal tem que ter planejamento”, afirmou.
Representando o presidente de Furnas, Flávio Decat, o coordenador do Centro de Serviços Compartilhados Minas Gerais da empresa, Marcos Alves de Morais, afirmou que a decisão da redução partiu do Operador Nacional de Sistema (ONS). O dirigente explicou que “todos os reservatórios do país são operados de forma integrada pelo ONS, e que estamos vivendo o pior período de seca dos últimos 50 anos, e que a estiagem motiva tal decisão”.
Procurando tranqüilizar a população e as lideranças, o representante de Furnas explicou que “a redução será um processo lento e controlado”, o que irritou os presentes. “Agradecemos e respeitamos muito sua presença aqui, mas reduzir de forma lenta não resolve, é matar devagar quem está aqui. Pode levar com clareza a seus superiores que não aceitamos”, frisou o deputado Arantes.
Em nota distribuída á imprensa, Furnas destacou que durante a reunião realizada no início do mês em Delfinópolis (MG), ofereceu ajuda à prefeitura no sentido de remanejar a localização do porto da balsa e realizar a construção da estrada de acesso ao novo porto, ações que seriam custeadas por Furnas, apesar de a empresa não ter obrigação legal de arcar com essas despesas.
Nas cidades de Passos e São João Batista do Glória, Furnas já está custeando medidas para mitigar possíveis impactos na captação de água para consumo nesses municípios. Está sendo providenciada a compra de materiais e a realocação dos pontos de captação de água nesses municípios. O sistema de captação da cidade de São João Batista do Glória já está pronto e funcionando e o de Passos será concluído até o fim desta semana.
Ainda na nota, Furnas lembra que essas medidas são provisórias e a captação e o transporte hidroviário da região do reservatório de Mascarenhas de Moraes retomarão suas operações normais tão logo o ciclo de chuvas se normalize.
Autor de dois requerimentos já aprovados na Câmara dos Deputados para a realização de audiências públicas nas Comissões de Meio Ambiente e de Minas e Energia, o deputado federal Carlos Melles também foi claro ao destacar que lideranças e a população regional vão resistir bravamente.
“Não conhecem nosso sofrimento, nossa garra, essa de comer prato feito não vai dar certo”, disse Melles, explicando que para as audiências em Brasília, que devem acontecer no próximo dia 04 de junho, estão sendo convidadas autoridades como os dirigentes do ONS, Furnas, Cemig, Eletrobras, Ministro das Minas e Energia, prefeitos e vereadores, tanto de Peixoto como também de Furnas.
“Não vai ser essa baixa de Peixoto que vai salvar o Brasil, porque sacrificar só esta região, já não chega o sacrifício em Furnas, vamos a Brasília com o envolvimento de todos os deputados da região, mas é importante que a população esteja presente, vamos estar unidos”, enfatizou.
“Não me conformo, sou indignado com o tratamento que Furnas da aqui na região, não consigo entender por que sacrificar tanto nossa gente. Tem um débito grande desde sua criação, e ficam dando reforma de praça, carro para entidade, o que é importante e agradecemos, mas não resolve o crucial porque o povo fica na mão”, disse Carlos Melles, reiterando que “não é uma questão política, é uma questão econômica e social, uma questão de saúde pública”.
Os prefeitos de Cássia, São João Batista do Glória e Ibiraci, e o presidente da Câmara de Passos, reforçaram o prejuízo em suas municípios e endossaram o movimento de resistência em busca de uma solução harmônica.
Com a palavra aberta na audiência pública, dezenas de pessoas se revezaram ao microfone, a maioria em tom exaltado narrando o eminente prejuízo que terão e a irresponsabilidade do governo federal.
GAP - Dep. Carlos Melles