Inseminação de cavalos campeões está mais acessível para criadores
Já é possível ter a inseminação de um campeão a partir de R$ 500.Técnicas permitem expandir a carga genética com custo menor.
A exemplo do que aconteceu, em meados do século passado, na Europa e Estados Unidos, o cavalo de esporte alcança agora o seu momento no Brasil.
Um animal versátil, dócil, cômodo e confiável, criado até à solta nas dobras das serras mineiras, é que está na base das tropas com pedigree que vêm sendo multiplicadas para atender a demanda pelo cavalo de sela.
Para trazer o que nunca foram mostrados na TV brasileira, o Globo Rural, ainda no final de 2011, em Caxambu, começou a acompanhar o chamado cruzamento assistido de equinos.
No sul de Minas Gerais, existem várias fazendas usando avançadas técnicas de reprodução, como a fazenda de Zé Márcio Leite, um respeitado criador de campeões. Passa de mil os troféus que já ganhou. Ele explica alguns critérios de um cruzamento. Ele discorda, por exemplo, que o fato de cruzar um garanhão com uma égua campeã resulte num campeão também. “Definitivamente não. Você tem que olhar para trás, na ancestralidade”, explica.
Durante décadas, a família trabalhou na base do ensaio e erro. Agora, conta com o apoio técnico do veterinário Afonso Junqueira Borges Segundo ele, uma única coleta de sêmen pode render até seis doses de cobertura.
Afonso explica que não dá certo com equinos da técnica da FIV, a Fertilização in Vitro, muita usada em bovinos. Como o Globo Rural já mostrou, no próprio laboratório, numa placa de vidro, faz-se a fecundação do óvulo da vaca com o esperma do touro. Neste caso, a égua tem que ser inseminada.
O procedimento exige o preparo simultâneo de duas fêmeas que estavam no cio e que tiveram a ovulação induzida. Na doadora foi introduzido o sêmen. No prazo de uma semana, formou-se o embrião de um cavalinho dentro dela. No oitavo dia, o útero da égua foi lavado com um líquido especial para isso e todo o conteúdo, drenado. Numa filtragem, o embrião ficou retido.
Então, o minúsculo corpo do cavalinho em desenvolvimento foi introduzido na égua receptora. Resumindo: o sêmen saiu do garanhão, foi fecundar a égua da qual se queria puxar a genética e, da barriga da doadora, o embrião foi transplantado para o útero da receptora que vai gestar o potro.
Afonso visita quatro haras em média por dia. “Rodamos em média 250 km por dia. Numa temporada de monta, fazemos 40 mil km”, explica Afonso.
Precavido, leva tudo o que precisa consigo. Fez da camionete um laboratório ambulante. Na carroceria, numa caixa blindada contra poeira, guarda cateter, seringa, soro, medicamentos e no banco de trás da cabine vão os aparelhos: ultrassom, container e microscópio.
Além de atender em domicílio, Afonso tem também uma fazenda de reprodução com 300 éguas receptoras em Cambuquira. Quem comanda o serviço no local, é sua esposa, Giovana Takakura, também veterinária. Ela tanto coleta dos garanhões, como insemina e procede a transferência de embriões. “Tenho que ser delicada para colocar o embrião sem a égua perceber porque pode desencadear reações químicas, que podem provocar um aborto”.
Para atender a demanda, os proprietários de garanhões e matrizes já contam com um serviço até pouco tempo inédito no Brasil, o disque-sêmen. O tempo de entrega é primordial para não prejudicar o processo de reprodução.
Para fazer as entregas, Jusceny de Souza, em tempo integral, é um 'motoqueiro de cavalo'. Na rotina dele, chega a rodar mil km num dia. Ele vai a aeroportos de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, mandar por avião material genético para os quatro cantos do país. “Com a tecnologia, não precisa carregar o garanhão nem a égua. Você carrega o sêmen”, conta Jusceny.
O ganho é bom: chega a R$ 500 por dia. Proporcional à responsabilidade, ele diz: além de valiosa, a encomenda que carrega é altamente perecível.
Um ano e meio depois, a fazenda Vargem Alegre, em Minas Gerais, já vê os resultados da safra de embriões 2012, 2013. Os últimos nascimentos acontecem em 2014.
O Marcinho Leite, filho de Zé Márcio, e que já está assumindo a reprodução, revela que a transferência de embriões está fazendo a criação de cavalos dar um salto extraordinário. Você pega uma égua cabeceira de plantel, como a Caxambu Bagdá, e em pouco tempo pode saber como é o potro dela com um determinado garanhão. “A grande virtude é de expandir a carga genética com um custo menor”, diz Marcinho.
Com a tecnologia disponível, agora é possível, numa única temporada, ver como é prole não só de um garanhão com várias éguas como de uma única égua com cinco, seis garanhões. Tomando-se o cuidado de cumprir um protocolo com a doadora que, de tempos em tempos, deve ter um parto natural para recuperar o equilíbrio hormonal. Veja a reportagem completa no vídeo.
Fonte: Globo Rural