EPTV - Sul de Minas
Ultramaratonista de Caxambu treina para correr 217 km em deserto dos EUAAtleta correu 12 horas em uma esteira em Varginha para chamar a atenção e atrair apoiadores para realizar 'sonho americano'
Kleber Santos não conta passos, mas quilômetros percorridos diariamente em Caxambu (MG). Ele se prepara pra percorrer 217 km no deserto da Califórnia, na Ultramaratona Badwater, considerada uma das corridas mais difíceis do mundo. Mas seu desafio maior é uma corrida contra o tempo. Sem patrocinador, o atleta tenta conseguir doações para viajar aos Estados Unidos no início de julho e participar da prova.
Ultramaratonista de Caxambu treina para enfrentar deserto nos EUA (Foto: Samantha Silva |
Quem passou pelo Shopping de Varginha (MG) neste sábado (6) pode ter estranhado a cena em um dos corredores. Um homem corria sem parar em cima de uma esteira. Era Binho, como Kleber é conhecido, em uma das muitas ações que ele realizou nos últimos meses para tentar a verba da viagem.
Naquele sábado ele passou 12 horas correndo, sem pausas, para tentar chamar a atenção de possíveis patrocinadores. Antes disso, já tinha corrido 8h no Centro de Caxambu. A equipe que acompanha o treinamento dele ainda organizou feijoada, venda de garrafas estilizadas, vaquinha na internet. A marca a ser atingida? Cerca de R$ 30 mil para pagar inscrição e despesas de viagem para percorrer o Vale da Morte nos EUA.
O nome do deserto talvez faça jus ao desafio. São 217 km em temperaturas que podem chegar a 54º C. O percurso envolve três cordilheiras com subidas que alcançam 4 mil metros de altitude em relação ao nível do mar. E isso tudo ainda tem que ser feito em menos de 60 horas.
Naquele sábado ele passou 12 horas correndo, sem pausas, para tentar chamar a atenção de possíveis patrocinadores. Antes disso, já tinha corrido 8h no Centro de Caxambu. A equipe que acompanha o treinamento dele ainda organizou feijoada, venda de garrafas estilizadas, vaquinha na internet. A marca a ser atingida? Cerca de R$ 30 mil para pagar inscrição e despesas de viagem para percorrer o Vale da Morte nos EUA.
O nome do deserto talvez faça jus ao desafio. São 217 km em temperaturas que podem chegar a 54º C. O percurso envolve três cordilheiras com subidas que alcançam 4 mil metros de altitude em relação ao nível do mar. E isso tudo ainda tem que ser feito em menos de 60 horas.
Para ser classificado para a etapa norte-americana, Binho conseguiu fazer os mesmos 217 km na Serra da Mantiqueira, em janeiro deste ano, num trajeto que saiu de São João da Boa Vista (SP) até Paraisópolis (MG). Alcançou a linha de chegada em 26h25m00, 1º lugar na categoria em que correu na Brazil 135+.
A prova testa os atletas ao máximo da resistência física e a maior parte dela é feita no limite físico dos atletas. Alguns passam mal e não conseguem continuar, outros chegam a relatar alucinações no percurso. Pela intensidade, neste tipo de prova os atletas podem levar uma equipe de apoio, que os seguem de carro fornecendo alimentação, água, apoio moral.– É uma prova de muita cabeça. Depois do quilômetro 80, é pela cabeça da gente mesmo, porque já vai tudo [do físico]. Mas aí a gente começa a pensar no apoio que a gente tem, das pessoas que acreditam, aí vai transformando [o corpo]: para uma dor na perna, vem uma dor no braço; aí a dor no braço você esquece, e vai rolando – explica Binho.
Na última prova, que o classificou, Binho lembra quando quase desistiu no meio do percurso. Era cerca de duas horas da manhã e ele subia a serra de Estiva (MG) na temperatura gelada característica da altitude da Mantiqueira.
– Eu olhei, e ela [membro da equipe] estava rindo do mesmo jeito [do início da corrida], conversando comigo, de bom humor. Foi importantíssimo [pra eu continuar]. O apoio é fundamental.
Da cidade das águas
O tom de voz baixo revela a timidez do ultramaratonista. Caçula de 11 filhos em uma família humilde, Binho nasceu e cresceu em Caxambu sem nenhuma expectativa de se tornar atleta. No máximo, quis o que muito menino diz que quer ser quando crescer no Brasil: jogador de futebol. Mas já crescido, virou padeiro.
Com 26 anos, participava de um time de futsal da cidade quando chamou a atenção do técnico pelo desempenho físico. Sempre saía na frente na hora que tinha que correr com a bola. Foi convidado a participar de uma corrida de 18 km entre Caxambu e a cidade vizinha, Baependi (MG).
– Eu olhei, e ela [membro da equipe] estava rindo do mesmo jeito [do início da corrida], conversando comigo, de bom humor. Foi importantíssimo [pra eu continuar]. O apoio é fundamental.
Da cidade das águas
O tom de voz baixo revela a timidez do ultramaratonista. Caçula de 11 filhos em uma família humilde, Binho nasceu e cresceu em Caxambu sem nenhuma expectativa de se tornar atleta. No máximo, quis o que muito menino diz que quer ser quando crescer no Brasil: jogador de futebol. Mas já crescido, virou padeiro.
Com 26 anos, participava de um time de futsal da cidade quando chamou a atenção do técnico pelo desempenho físico. Sempre saía na frente na hora que tinha que correr com a bola. Foi convidado a participar de uma corrida de 18 km entre Caxambu e a cidade vizinha, Baependi (MG).
A paixão por longos percursos começou a ser despertada à medida que ia ganhando maratonas cada vez mais extensas. Com a experiência, participou de competições internacionais na Holanda, no Mundial de 100 km, em que ficou em quinto lugar, e na Espanha, no ano passado, alcançando o oitavo lugar entre os melhores sul-americanos, também com 100 km.
Em um ano, foi chamado para ser “coelho” na ultramaratona de 217 km. Ao alcançar o quilômetro 100, o colega de apoio, que corria com ele em dupla, não conseguiu continuar. No ano seguinte, foi ele que não conseguiu terminar a prova e acabou passando mal no meio do trajeto. Desde quando conseguiu alcançar a marca, não parou mais de tentar a classificação para a Badwater.
Busca de apoio
O desafio o obrigou a fazer algumas escolhas. Teve que abandonar o trabalho de padeiro para treinar pra valer, já que chegava a trabalhar 12 horas por dia e os treinos só aconteciam à noite, depois do expediente.
Há cerca de 1 ano, a rotina de Binho é acordar 5 horas da manhã de segunda a sexta para correr cerca de 60 km. Nos sábados, corre 70, e no domingo, único dia do descanso, corre “apenas” 10 km. Não consome álcool, não vai a festas, só come o que precisa e não dorme tarde.
Binho ao lado de Denilson e Vinicius, equipe que o apoia nos treinamentos em Caxambu (Foto: Samantha Silva) |
Atualmente com 37 anos, o treinador dele em Caxambu, Denilson Martins, conta que o corpo de Binho está começando a chegar ao ponto ideal para este tipo de maratona. Em percursos tão longos, a experiência física acumulada com a idade conta pontos para resistir a provas intensas em resistência.
– Com 40 anos é que o atleta já está no auge – completa.
Sem emprego, Binho conta com o apoio de algumas instituições da cidade para manter o custo de cerca de R$ 1 mil mensais com roupas, suplementos, alimentação e tênis para os treinos – sendo econômico. Gasta um par de tênis por mês, e somente em uma ultramaratona, chega a ter que trocar de tênis três vezes, que são consumidos à medida que percorre os quilômetros. Um clube recreativo de Caxambu fornece as camisetas e cede o uso da academia de ginástica.
Atualmente, é acompanhado à distância por um técnico de Pouso Alegre (MG) especializado neste tipo de maratona e um nutricionista. O gasto físico é cruel para insistir no treinamento sem preparo profissional. Geralmente ele chega à linha de chegada com 3 kg a menos.
Mesmo se profissionalizando, Binho nem cogitou sair da cidade para treinar. Quando correu no exterior, chegou a chamar a atenção de um técnico italiano, que o convidou para treinar no país. Ele recusou porque não queria ficar longe da família e sair de Caxambu.
– Eu gosto muito, muito de Caxambu. Aqui tem tudo de bom pra treinar, o ar, o percurso, se quiser fazer 40 km de reta, eu faço, e se quiser 30 km de morro, eu faço. Tem o parque que é excelente pra treinar – explica, citando o Parque das Águas da cidade.Atualmente, é acompanhado à distância por um técnico de Pouso Alegre (MG) especializado neste tipo de maratona e um nutricionista. O gasto físico é cruel para insistir no treinamento sem preparo profissional. Geralmente ele chega à linha de chegada com 3 kg a menos.
Mesmo se profissionalizando, Binho nem cogitou sair da cidade para treinar. Quando correu no exterior, chegou a chamar a atenção de um técnico italiano, que o convidou para treinar no país. Ele recusou porque não queria ficar longe da família e sair de Caxambu.
No dia 11 de junho, uma corrida de rua será realizada em Caxambu pra complementar a verba da viagem e uma vaquinha é mantida na internet para doações. Se conseguir correr no deserto norte-americano, Binho pode se classificar para a terceira fase da ultramaratona, que é correr os 217 km no gelo, na Arrowhead 135, realizada no norte do Minnesota, nos EUA. As três etapas somam desafios na montanha, deserto e no gelo.
– Os caxambuenses ficam orgulhosos de ter o Binho, nascido, criado, e que ainda treina em Caxambu. Só que ele ganhou asas e os limites do município ficaram pequenos pra ele – diz Vinícius Hemetério, presidente da comissão de esporte do município que ajuda a buscar patrocínio para o maratonista. - Ele é um atleta do Sul de Minas, de Minas Gerais, e ainda vai representar o Brasil. Por isso que a gente está pedindo esse apoio pra ajudar a realizar esse sonho e também o sonho de todos nós aqui.
Por Samantha Silva, Caxambu, MG
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