Durante uma festa de gala, entra no salão um tipo aristocrático, que entremeia gestos sutis com caretas enquanto entoa, com voz macia e grave, versos como “mas o que se faz só por delicadeza/ rir de piadas que nos dão tristeza/ elogiar o chefe da repartição/ quando a vontade era mandar lamber sabão!”, da canção “Delicadeza”, de Lombardi Filho e Pedro Rogério, peça ilustrativa da decantada cordialidade nacional.
Quem a interpreta é Ivon Curi (1928-1995), numa cena de “Depois Eu Conto”, chanchada protagonizada por Dercy Gonçalves em 1956, cujo mote era a hipocrisia da alta sociedade carioca, conhecida como “gente de bem”. Assim como o filme, a obra de Curi segue “tão atual quanto esquecida”, como lamenta o produtor musical Thiago Marques Luiz, 40.