“MEIA NOITE EM PARIS”
Paulo Roberto Guimarães Moreira *
Se você pretende assistir a esse filme, deixe para ler essa crônica depois
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GUSTAVE CAILLEBOTTE - Rue de Paris, temps de pluie Óleo sobre tela, 212 x 276,2  | 
Yogananda  diz que a vida é um filme de Deus. O que entendemos por real, não é  real, é como um filme e nós somos os personagens. O hinduísmo é  reencarnacionista e os reencarnacionistas sabem, que em cada encarnação,  a alma desempenha um papel, papel único que não se repetirá jamais.
Bem,  Wood Allen faz um filme e abusa da arte de passear pelo passado. Nessa  obra, que alguns já acham ser uma obra prima, o autor Owen Wilson é o  protagonista. Ele é apaixonado por Paris. Sua noiva, que se prepara para o  casamento, quer morar nos EUA. Mas, ele quer em viver Paris. E gosta mais  ainda do Paris da década de 20. 
Enquanto sua noiva e a mãe dela se  ocupam das compras do casamento, o pai da noiva, milionário conservador  americano, curte Paris, mas a critica implacavelmente. Para piorar o  quadro aparece um ex-namorado da noiva, agora casado. A noiva admira  incrivelmente o ex-namorado, intelectual pedante, que dá aulas na  Sorbonne. O noivo é humilhado por ser apenas um funcionário de uma  livraria, escritor iniciante e sonhador.  Ocorre que a partir da meia  noite ele, magicamente, passa a viver numa Paris dos anos 20,  encontrando-se com personagens famosos, tais como: Ernest Hemingway,  Pablo Picasso, Luis Buñuel, Salvador Dali, Modigliani, Matisse. Com a  atriz Marion Cotillard o personagem de Owen Wilson vive um romance fora  de época, porque ela desempenha uma personagem que fora amante de vários personagens  famosos da década de 20. Mas, ela também gosta mais do passado e leva  seu amante fora de época para a Paris da Belle Époque, e no Moulin Rouge  o casal encontra-se com Toulouse-Lautrec entre outras personalidades  daquela época, tais como Paul Gougain. Mas, eles gostam mais da  Renascença. Bem, aí cai a ficha de nosso protagonista. Ele chega à  conclusão que valorizar o passado é uma mania de muitos, um hábito  negativo, uma fuga do presente. Tenta convencer sua amante a voltar ao  seu presente: a década de 20, enquanto ele, que para ela era do futuro,  voltaria ao ano 2010. Ele volta e depois de uma briga por ciúmes da  noiva resolve terminar o noivado para viver em Paris o presente.
Andando  à noite em Paris solitário, agora quer viver o presente. Encontra-se  com uma vendedora de livros e discos antigos, tal como ele. Eles resolvem  dar um passeio a pé. Começa a chover, mas, ambos adoram Paris à noite e  com chuva e saem a caminhar: enfim, há um encontro e o filme acaba.  Meus olhos se enchem de lágrimas, meu coração se abre. Penso assim: Que  lindo! Mas, quando é que Deus me mandará uma mulher assim como mandou a  ele, para que eu possa sair dessa solidão? Em seguida uma mulher me  pergunta: Quer ajuda? Ela estava junto da irmã. Não me lembro do que  respondi. Perguntei: - Vocês estão juntas? Elas disseram que sim. Dei um  folder a ela. E eu disse: - Trabalho com florais. Ela disse: Eu também.  Qual seu trabalho, perguntei. Sou Psicóloga. Você tem um cartão,  perguntei. Ela me deu. Eu disse: - A gente se fala e saí na frente delas  (ando em cadeira de rodas). Será que a personagem vendedora se dará bem  com o protagonista do filme? Só Wood Allen saberia dizer numa  continuação desse filme. Será que a Psicóloga que encontrei foi posta  por Deus imediatamente após o meu lamento mental? Só Deus sabe. Vou  convidá-la para assistir o filme de Wood Allen novamente e quem sabe  escreverei a sequência dessa crônica. 
Brasília, 7 de julho de 2011.
* Paulo Roberto Guimarães Moreira está escrevendo o livro: “RELAXA: Você Está Sendo Conduzido”, do qual faz parte essa crônica.
