PARQUE DAS ÁGUAS DE CAXAMBU SERÁ TOMBADO  
Entrevista com Carlos Fernando Moura Delphim, do IPHAN
COMO NASCEU O GEOPARQUE DE CAXAMBU 
Por Esther Lucio Bittencourt
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| Caminhos do Parque das Águas de Caxambu (ao fundo, o Balneário)  | 
Como
 não se pode ouvir apenas a pessoa que conta o fato, mas todos os 
personagens de uma história, entrevistei por email o Sr, Carlos Fernando
 Moura Delphim, que esteve ano passado em Caxambu com o Presidente do  IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-, para estudar a possibilidade de atuar no sul de minas, região que, segundo ele, “tem sido injustamente esquecida pelo IPHAN.”
O
 Dr. Carlos faz parte da Comissão Nacional de Sítios Geológicos e 
Paleobiológicos – SIGEP e trabalhou na proposta do primeiro Geopark das 
Américas e do Hemisfério Sul.
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| Dr. Carlos Fernando | 
Cara Esther,
Aí vão minhas respostas:
Esther -  Por que escolheu Caxambu para sediar um Geoparque?
Carlos Fernando-
 Em companhia do Presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, estive o
 ano passado no Sul de Minas para verificar a possibilidade de atuarmos 
nessa riquíssima região de Minas que tem sido injustamente esquecida 
pelo IPHAN que mais se ocupa do patrimônio de cidades barrocas e pouco 
atua nessa região.
Caxambu é uma cidade de importante valor histórico, paisagístico e edificado e nunca poderia ser esquecida em nossa viagem.
O Presidente queria que tombássemos o Parque das Águas.
Ao
 chegar aí verifiquei que o valor maior não é o paisagístico, é o 
hídrico. Aí tem uma das mais importantes diversidades de águas do 
planeta e seria um desafio e uma postura pioneira o IPHAN tombar o 
Parque por sua importância na preservação do mais importante patrimônio 
planetário, a água.
Voltei
 com a arquiteta Fátima de Macedo Martins que está fazendo o parecer 
sobre o tombamento, parecer que só não está pronto por falta de um mapa 
que o Gilberto Rossi está elaborando  para nós.
Como sou membro da Comissão Nacional de Sítios Geológicos e Paleobiológicos –  SIGEP
 e como já trabalhei na proposta do primeiro Geopark das Américas e do 
Hemisfério Sul, o Geoparque do Araripe no Ceará, ocorreu-me a feliz 
idéia de propor à UNESCO a criação de um Geoparque, acho  que será o 
primeiro Geopark hidrogeológico do mundo.
Esther - Qual a amplitude do significado de um Geoparque?
Carlos Fernando- A amplitude será conferir um reconhecimento mundial .
A declaração de Geoparque pela UNESCO é uma forma de reconhecimento do valor planetário da geologia de um lugar.
Pode-se
 objetar que não é um sítio geológico mas hidrológico. Todavia todas as 
qualidades da água estão associadas à geologia da região.
O tombamento seria para Caxambu e a proposta de criar o Geopark será para todo o circuito das águas nessa região.
Com
 a criação espera-se que o turismo seja muito maior já que pessoas que 
nunca iriam aí para fazer estação de águas passariam a ir para efetuar 
estudos e conhecimentos mais científicos de  geologia e hidrologia.  Um 
geoparque contempla prioritariamente a geodiversidade, a educação sobre 
temas geológicos e a sustentabilidade dos lugares onde se situa.
Esther- Já conhecia a cidade de Caxambu?
Carlos Fernando-
 Conheço Caxambu desde criança, Foi aí que meus pais se conheceram e 
onde sempre me levaram para passear. Sou de Lavras e tive colegas de 
Caxambu no colégio em que estudei em Lavras. Aliás, nasci nove meses 
depois de meus pais terem passado uma temporada aí, as águas devem ter 
mesmo as qualidades que permitiram à Princesa Isabel engravidar.
Esther -Após a publicação do decreto pelo Prefeito de Caxambu quais as próximas etapas que cabem ao IPHAN realizar?
Carlos Fernando- O compromisso com a criação do Geopark não é do IPHAN, é meu.
O
 IPHAN tem atribuição de cuidar do patrimônio cultural brasileiro, o que
 fará ao tombar o parque das águas. Como a criação de um Geoparque 
considera a existência de patrimônio cultural e sítios ecológicos 
protegidos pela legislação do país onde se localizam, quanto mais formas
 de proteção legal recaírem sobre o sítio proposto, mais favorável 
poderá ser a decisão da UNESCO.
Esther- Qual a previsão de tempo para que a UNESCO reconheça o trabalho?
Carlos Fernando-
 Não posso prever, tudo depende de a proposta ser apresenta à UNESCO, da
 posterior elaboração de um dossiê, tarefa bastante complexa que envolve
 especialistas não apenas em geologia e hidrologia mas também em 
meio-ambiente e patrimônio cultural – e para isto o IPHAN não deverá 
poupar sua colaboração. 
Normalmente
 um dossiê pede revisões e os prazos podem se estender até uma nova 
reunião do Comitê de avaliação, o que pode retardar em um ano cada 
tentativa. 
Contudo,
 se o dossiê for feito a contento, cumprindo todas as exigências da 
UNESCO, exigências que envolvem informações técnicas, cumprimento de 
prazos, material cartográfico e outras, pode-se dizer que a previsão 
mínima é de um a dois anos após a elaboração e entrega do dossiê. Uma 
força política pode ajudar, assim como recursos financeiros dos quais, 
parece, a CODEMIG  se encarregará.
Esther- Agradeço sua atenção, e desejo que de sua próxima vinda a Caxambu possamos conversar pessoalmente.
Carlos Fernando- Será um prazer encontrá-la pessoalmente!
Portanto,
 não é quimérico afirmar, após esta entrevista, que as águas de Caxambu 
não correm o risco de serem pleiteadas pela Nestlé ou qualquer 
multinacional que assim o pretenda visto que o Parque das Águas está 
sendo tombado pelo IPHAN e faz parte de um Geoparque de amplitude 
mundial.
Quando as autoridades municipais não criam obstáculo para o desenvolvimento da cidade as situações frutificam.
É o que vemos agora.
PERFIL DO ENTREVISTADO
“Carlos
 Fernando de Moura Delphim é engenheiro-arquiteto pela UFMG. Contratado 
em 1977 para restaurar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde 
permaneceu até 1985, foi pioneiro na defesa dos jardins históricos no 
Brasil, passando a tratá-los como bens culturais segundo as normas 
internacionais de preservação.
Criador
 do Programa Jardins Históricos na Fundação Nacional Pró-Memória 
(1985-1990), é autor do primeiro manual de intervenções em jardins 
históricos no Brasil. Foi membro-suplente da Comissão O Homem e a 
Biosfera da UNESCO e Conselheiro-Titular decano no Conselho Nacional do 
Meio Ambiente – CONAMA como Representante do Ministério da Cultura.
Emitiu
 pareceres sobre inclusão de paisagens na Lista de Patrimônio Mundial da
 Unesco, como as florestas tropicais úmidas de Queensland, Austrália, 
adotado como a posição oficial do Brasil.
Trabalhou
 como Coordenador Departamento de Proteção do IPHAN-RJ, Brasília, DF, 
responsável pelo patrimônio arqueológico e pelos bens culturais tombados
 em nível federal, sendo atualmente assessor da direção do IPHAN no Rio.
 É professor convidado da UNB em Brasília e da Universidade Católica de 
Goiânia.
Suas
 atividades profissionais desde 1977, compreendem projetos e 
planejamento para manejo e preservação de sítios de valor paisagístico, 
histórico, natural, paleontológico e arqueológico em diversas cidades 
brasileiras desde 1977.
Entre
 seu projetos destacam-se: Restauração do Jardim Botânico do Rio de 
Janeiro, Memorial da América Latina em São Paulo, Jardim Botânico de 
Brasília, Jardins do Brasil – The International Garden and Greenery 
Exposition em Osaka, Japão, e o Superior Tribunal de Justiça em 
Brasília."
Dados biográficos colhidos na vitruvirus em entrevista a Ana Rosa de Oliveira.
Fotos do Parque das Águas de Caxambu
Por Ana Laura Diniz e Bianca Monteiro
  
Fotos do Parque das Águas de Caxambu
Por Ana Laura Diniz e Bianca Monteiro
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| O lago, onde funciona também o pedalinho | 
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| A entrada da gruta existente no parque | 
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| Dentro da gruta | 
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| Trabalhadores cuidando do parque | 
Fonte: Jornal Primeira Fonte
http://primeirafonte.blogspot.com/








