terça-feira, 1 de setembro de 2015

Coluna - Olavo Onunlavo

Coluna
Olavo Onunlavo

Há tempos venho refutando solenemente todos os convites para retomar minha ancestral coluna neste jornal. Posso dizer que me dou ao luxo de me proclamar orgulhosamente como um autêntico  analfabeto digital.

Por vontade própria, parei nos discos de vinil; não assisto TV, nem ouço rádio. Não vale a pena.

Prefiro mergulhar como um tritão intempestivo na poeira dos meus velhos livros, tendo a companhia ilustre de Mozart, Debussy, e Tchaikovsky para compor um afável fundo musical, tocando em minha fiel e vetusta vitrola.

Faço absoluta questão de ignorar o que sejam: Google, Microsoft, facebook & tantos outros anglicismos de sonoridade estranha a meus ouvidos, que permanecem tão imaculados quanto o foram no Século passado.



Fiquei velho, ranzinza, e irascível - com muito orgulho. Ostento solenemente todos esses predicados como um apanágio de minha provecta idade.

Depois  de insistentes clamores,  e  tentativas frustradas por parte do diretor deste jornal,  para que voltasse a dulcificar esta publicação através do retorno de minha coluna, resolvi finalmente ceder a tantos e insistentes apelos - impondo apenas a pequena condição sine qua non, de prosseguir escrevendo estas mal traçadas linhas com minha velha caneta-tinteiro, no mesmíssimo papel timbrado, do qual ainda me sobram não poucas resmas para preencher com novos alfarrábios.

Parado no tempo sim. Porém, jamais alienado dos fatos e acontecimentos presentes, os quais lamento profundamente estar presenciando. Sou testemunha ocular de tantos desmandos e absoluta porquidade perpetrada por politiqueiros da pior procedência, içados pela exaltação dos instintos mais baixos de uma acéfala chusma ignara - cuja inocente força primal é exaltada como "virtude" suprema pelos prestidigitadores de ilusão, para usurpar cargos e se aboletar onde jamais poderiam ousar alcançar.

Como diria George Orwell em suas previsões mais sombrias: "IGNORÂNCIA É FORÇA". Uma força cujo poder de desolação sou capaz de observar como sentinela perdida e esquecida, daqui do meu privilegiado posto de atalaia, instalado confortavelmente em minha varanda, onde a calidez do ar já anuncia a chegada de uma nova e auspiciosa estação. 
Talvez seja este o momento perfeito para exercitar novamente a verve deste velho escriba - que roga solenemente, especialmente para meu neto, que não mo mostre jamais estampado em uma dessas horríveis telas multicores, de nomes ainda mais mofinos, como tablets, smartphones & outras abominações digitais do gênero.

Olavo Onunlavo


Nota do editor:

O texto dessa coluna é uma digitalização do manuscrito original, com todas as dificuldades que podem surgir para copiar uma caligrafia elegante e rebuscada. Creio que o esforço valeu a pena, nem que seja somente para atender ao pedido  de meu  amigo Dib Hauegen