terça-feira, 24 de novembro de 2015

MPMG apresenta diagnóstico preliminar de danos ao patrimônio cultural decorrente do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana

Operação S.O.S. Patrimônio resgatou 310
peças sacras na área atingida pela lama





Desde o dia 5 de novembro, quando houve o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) realiza a operação S.O.S. Patrimônio, coordenada pela Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais. As ações desenvolvidas têm como objetivo diagnosticar a extensão dos danos ocasionados a bens culturais situados nos povoados afetados pela onda de lama.

Durante 14 dias, uma equipe formada por especialistas em patrimônio cultural, fez levantamentos históricos, fotos aéreas e vistoriaram, com o apoio da Polícia Militar de Meio Ambiente e do Corpo de Bombeiros, as capelas de Mercês e São Bento (Bento Rodrigues), Santo Antônio (Paracatu de Baixo) e Nossa Senhora da Conceição (distrito de Gesteira, Barra Longa).

O diagnóstico, realizado por técnicos do MPMG, Centro de Conservação e Restauração da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor-UFMG), Arquidiocese de Mariana e Secretaria de Cultura de Mariana, apontou a ocorrência de danos extremamente graves aos templos, que possuem acervos sacros dos séculos XVIII e XIX e são protegidos em nível municipal.

A capela de São Bento, cuja origem remonta a 1718, foi totalmente destruída, restando apenas parte das estruturas de pedra. Altares barrocos imponentes e dezenas de peças sacras estão desaparecidos, provavelmente soterrados pela lama. A capela de Nossa Senhora das Mercês, também do século XVIII, situada na parte mais alta do distrito de Bento Rodrigues, ficou ilhada pela lama, exposta ao risco de furtos e danos por novos rompimentos. Técnicos do MPMG e do Cecor-UFMG, em conjunto com a Arquidiocese de Mariana, resgataram 260 peças do templo, incluindo imagens sacras, cálices, castiçais, sinos, instrumentos litúrgicos etc. Nos distritos de Paracatu e Gesteira, ilhados pelo desastre, policiais militares de Meio Ambiente, em conjunto com representantes da Arquidiocese, resgataram, ao todo, 50 peças sacras, mas muitas outras ainda se encontram desaparecidas sob a lama.

O acervo resgatado foi transferido temporariamente para a reserva técnica do Museu de Arte Sacra de Mariana.

Segundo a professora Bethânia Reis Veloso, diretora do Cecor-UFMG, que integrou a equipe responsável pela operação, apesar da destruição das histórias centenárias de comunidades que foram as responsáveis pelo desenvolvimento do ciclo do ouro em Minas Gerais e do desaparecimento de grande parte do patrimônio histórico e artístico, foram resgatadas importantes obras do acervo dos templos, incluindo cálices, objetos litúrgicos e devocionais, vestimentas, imagens religiosas, paramentos, adornos, ornamentos e sinos, mas ainda há muito o que fazer.

De acordo com o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, o diagnóstico preliminar deixou claro a severidade dos danos causados aos bens culturais e a ausência de medidas emergenciais que deveriam ter sido tomadas por iniciativa da própria Samarco, enquanto responsável pela barragem que se rompeu. “Muitos danos são, infelizmente, irreversíveis, como a perda de peças sacras e altares carregados pela lama. Estamos trabalhando para tentar resgatar o máximo de peças e para evitar a destruição do que restou pelo tráfego de máquinas pesadas que estão no local. A Samarco será responsabilizada por todos esses danos, inclusive na esfera criminal”, diz o promotor de Justiça.

Veja fotos da operação.


Integram a equipe da operação S.O.S. Patrimônio
MPMG: Marcos Paulo de Souza Miranda, Frederico Bianchini dos Santos, Andréa Lana Mendes Novais, Paula Carolina Miranda Novais e Valmir José Fagundes (PMMG/Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais – Nucrim/MPMG). Cecor-UFMG: Bethânia Reis Veloso, Marilene Corrêa Maia e Cláudio Nadalin, Gilson Camilo de Souza. Arquidiocese de Mariana: Ana Clara Gomes Lima Pinto e padre Jean Lúcio de Souza.

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