quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Opinião : A aposta Curi: apontamentos de um desafio. Por Caio Penha

Opinião
A aposta Curi: apontamentos de um desafio.

Por  Caio Penha





Parte significativa do eleitorado caxambuense faz de Diogo Curi (PSDB) o novo prefeito da cidade. O que se vê é uma vitória impressionante dado o cenário eleitoral com sete candidatos ao poder executivo. Embora o novo prefeito nunca tenha ocupado um cargo público eletivo, sabe-se que ele tem em sua conta duas campanhas políticas, participação ativa em conselhos municipais e instituições estratégicas da cidade, carrega o carisma do saudoso caxambuense “Seu” Calil, seu avô, além de gozar da característica de apoiador permanente da cultura, do esporte e do turismo.
Diogo capitaneou uma campanha de margens bem definidas inspirando ética, renovação e unidade, sem espaço para o contraditório pano de fundo da política nacional.  A campanha contou com o impulso de figuras reconhecidas, como Isaac Rozental e Zoinho, nomes de grande capital político na cidade. A presença de figuras como estas deu um tom sóbrio para campanha, inspirou segurança e assim, atenuou o traço conservador da cidade, mas o que arrematou bem a consolidação da chapa Diogo e Luiz foi o capital profissional e moral trazido pelo vice, um caxambuense discreto, funcionário do BB, ileso de qualquer mácula política, praticamente insuspeito para coadministrar o executivo municipal. O novo vice-prefeito traz consigo não apenas a respeitabilidade profissional, mas também uma trajetória de compromisso sério com instituições de papel social fecundo na cidade.
Nesse momento novo, muitos caxambuenses já se pegaram perguntando: o que ocorreu dia dois de outubro? Em geral, as respostas estão ligadas à vitória de um jovem empresário cheio de vontade, alguém que condensou uma chocante quantidade de votos e tem sobre seus ombros uma responsabilidade enorme, tão grande que pede no mínimo uma boa dose de brio. A expectativa número um da maioria das pessoas é a de que Diogo e Luiz alavanquem à principal indústria da cidade, o turismo. Na verdade, muitos cidadãos, de modo muito simpático, principalmente os que votaram quarenta e cinco, recordam ao menos de uma conversa com Diogo e Luiz, seja na rua em que moram, no comício, no centro da cidade. A impressão geral é de que se trata de um prefeito e um vice preocupados com o seu povo, dispostos a construir uma administração mais próxima da população, com prioridades claras como educação, saúde, cultura e geração de renda.
Esse é o modo de governar do PSDB? Talvez seja melhor considerar o que Caxambu tem a nos dizer sobre partidos, ideologias e candidatos. Particularmente não tenho afinidade com a práxis ideológica do PSDB, mas isso não pode ser um critério de primeira ordem, pelo menos em Caxambu, pois o que se vê na cidade é que ideologia e partido geralmente parecem questões secundárias, pelo menos durante as eleições, dado que numerosos candidatos da cidade mudam de partido quase que regularmente, sem falar das coligações estranhas, como por exemplo, PMDB e PCdoB, ou mesmo PT e DEM, como se viu a pouco tempo.
Mas voltemos ao desafio Curi. Será que existem expectativas em relação ao vice-prefeito? Evidentemente, e não são poucas, as experiências com as últimas gestões não foram nada animadoras. Há uma perceptível expectativa de que ele recomece uma tradição de vices atuantes, e de que lance mão da sua experiência diagnosticando erros e selecionando prioridades.
Agora e se formos mais categóricos? Se perguntarmos para as pessoas qual é a definição possível da chapa eleita em Caxambu? Veremos que muitas delas dirão que se trata da eleição de um prefeito jovem, inteligente, interessado na cidade e amparado por pessoas experientes e de credibilidade, como seu vice. Talvez não seja o suficiente ainda. Perguntemos então se a chapa fará um bom governo.  Muitas pessoas dirão “tomara que sim”, “a gente espera que sim”. Atenção! Isso é um dado preciosos que atrai quem se esforça para compreender as eleições em Caxambu. Ora, quando alguém diz “tomara”, e não “com certeza”, o que está manifestando, sobretudo é a sua fé fraca na política e a sua falta de convicção e de confiança em seus representantes. Já aquele que responde “com certeza”, o que é raro, principalmente depois das últimas experiências do município, esse está munido de uma disposição especial que pode e deve ser contagiante. Na verdade, só esse sentimento poderá dar suporte para que o novo executivo de Caxambu tenha sucesso com sua ambição. 
Quando se considera às propostas do novo prefeito e a situação da prefeitura, fica visível o tamanho da ambição de Diogo e de Luiz. Não bastará fazer uma excelente administração e resgatar a fé do caxambuense em seus representantes, será preciso executar uma gestão para a qual o munícipe esteja sempre com os seus olhos voltados, de modo que deseje a continuidade do projeto vigente, rechaçando “salvadores da pátria” e retóricas toscas e facilmente desmontáveis. Naturalmente será necessário aparecer para o povo, e isso se faz elegendo e executando prioridades assim como mantendo um diálogo permanente com a população. Também é preciso criar e divulgar a genuinidade da administração Curi.
Por que disso? Ora, é razoável supor que quatro anos não serão o suficiente para recuperar Caxambu, portanto o projeto de governar por mais uma gestão deve acompanhar todos passos do executivo.  E para isso é preciso originalidade, distinção. O novo prefeito precisará se distinguir de verdade, acumular um capital político que seja inteiramente seu, delinear a sua própria personalidade administrativa, revelando uma identidade diferente do modo de governar dos ex-prefeitos e de futuros candidatos. Isso não significa rejeitar acertos, pelo contrário, significa assimilá-los e aperfeiçoá-los. Por exemplo, em administrações passadas, a cidade já vinha experimentando estagnação considerável, porém com apoio razoável da prefeitura, a sociedade civil organizada em ONGs ofereceu vários eventos a Caxambu, até que... com a falta de apoio absurda do executivo municipal, as entidades responsáveis por esses eventos foram desistindo. O que se espera quando se recorda uma história com um desfecho como esse? No mínimo que o novo prefeito não só apoie os eventos que possivelmente se replicarão, mas fortaleça ao máximo estas entidades que antes de serem parceiras da administração, são parceiras da cidade. 
Voltando a necessidade de criar uma identidade administrativa própria, vale dizer que no cenário de 2020 predicados como “renovação” e “mudança” já não poderão ser usados, o destino deles será a reciclagem, sem falar dos ataques que virão, como por exemplo, a placa de “velha política”, o que é inevitável. Paralelamente, vale lembrar que a administração Curi sofrerá com os cortes que perseguirão as prefeituras, sem falar da atmosfera de negação da política, fruto da caça às bruxas em Brasília, fenômeno que resvalará na micropolítica da cidade. Por tudo isso é evidente que se a gestão Curi for boa como se espera e, em contrapartida, não trabalhar com a consciência política dos caxambuenses, as chances da sua reeleição estarão minadas e, mais uma vez, a cidade poderá escorregar para as mãos de gestores péssimos, ou na melhor das hipóteses, a cidade poderá “deixar de lado” os avanços alcançados e, em 2020, escolher um outro projeto, que costuma começar do zero, como se sabe,.

Se a administração Curi continuar a disputar de verdade a consciência política do povo, celebrar os sucessos que alcançar, apresentar à população as dificuldades que enfrenta, isso sem deixar de lançar mão de alternativas democráticas como, por exemplo, o orçamento participativo, a criação de rádio comunitária, com certeza ela avivará a chama da política na cidade e poderá contar feitos louváveis em sua conta. 

Caio Penha