Opinião
A
aposta Curi: apontamentos de um desafio.
Por Caio Penha
Parte
significativa do eleitorado caxambuense faz de Diogo Curi (PSDB) o novo
prefeito da cidade. O que se vê é uma vitória impressionante dado o cenário
eleitoral com sete candidatos ao poder executivo. Embora o novo prefeito nunca
tenha ocupado um cargo público eletivo, sabe-se que ele tem em sua conta duas campanhas
políticas, participação ativa em conselhos municipais e instituições estratégicas
da cidade, carrega o carisma do saudoso caxambuense “Seu” Calil, seu avô, além
de gozar da característica de apoiador permanente da cultura, do esporte e do
turismo.
Diogo
capitaneou uma campanha de margens bem definidas inspirando ética, renovação e
unidade, sem espaço para o contraditório pano de fundo da política
nacional. A campanha contou com o impulso
de figuras reconhecidas, como Isaac Rozental e Zoinho, nomes de grande capital
político na cidade. A presença de figuras como estas deu um tom sóbrio para
campanha, inspirou segurança e assim, atenuou o traço conservador da cidade, mas
o que arrematou bem a consolidação da chapa Diogo e Luiz foi o capital profissional
e moral trazido pelo vice, um caxambuense discreto, funcionário do BB, ileso de
qualquer mácula política, praticamente insuspeito para coadministrar o
executivo municipal. O novo vice-prefeito traz consigo não apenas a
respeitabilidade profissional, mas também uma trajetória de compromisso sério
com instituições de papel social fecundo na cidade.
Nesse
momento novo, muitos caxambuenses já se pegaram perguntando: o que ocorreu dia
dois de outubro? Em geral, as respostas estão ligadas à vitória de um jovem
empresário cheio de vontade, alguém que condensou uma chocante quantidade de
votos e tem sobre seus ombros uma responsabilidade enorme, tão grande que pede
no mínimo uma boa dose de brio. A expectativa número um da maioria das pessoas é
a de que Diogo e Luiz alavanquem à principal indústria da cidade, o turismo. Na
verdade, muitos cidadãos, de modo muito simpático, principalmente os que votaram
quarenta e cinco, recordam ao menos de uma conversa com Diogo e Luiz, seja na
rua em que moram, no comício, no centro da cidade. A impressão geral é de que
se trata de um prefeito e um vice preocupados com o seu povo, dispostos a
construir uma administração mais próxima da população, com prioridades claras
como educação, saúde, cultura e geração de renda.
Esse
é o modo de governar do PSDB? Talvez seja melhor considerar o que Caxambu tem a
nos dizer sobre partidos, ideologias e candidatos. Particularmente não tenho
afinidade com a práxis ideológica do PSDB, mas isso não pode ser um critério de
primeira ordem, pelo menos em Caxambu, pois o que se vê na cidade é que ideologia
e partido geralmente parecem questões secundárias, pelo menos durante as eleições,
dado que numerosos candidatos da cidade mudam de partido quase que
regularmente, sem falar das coligações estranhas, como por exemplo, PMDB e
PCdoB, ou mesmo PT e DEM, como se viu a pouco tempo.
Mas
voltemos ao desafio Curi. Será que existem expectativas em relação ao vice-prefeito?
Evidentemente, e não são poucas, as experiências com as últimas gestões não foram
nada animadoras. Há uma perceptível expectativa de que ele recomece uma
tradição de vices atuantes, e de que lance mão da sua experiência diagnosticando
erros e selecionando prioridades.
Agora
e se formos mais categóricos? Se perguntarmos para as pessoas qual é a
definição possível da chapa eleita em Caxambu? Veremos que muitas delas dirão
que se trata da eleição de um prefeito jovem, inteligente, interessado na
cidade e amparado por pessoas experientes e de credibilidade, como seu vice.
Talvez não seja o suficiente ainda. Perguntemos então se a chapa fará um bom
governo. Muitas pessoas dirão “tomara
que sim”, “a gente espera que sim”. Atenção! Isso é um dado preciosos que atrai
quem se esforça para compreender as eleições em Caxambu. Ora, quando alguém diz
“tomara”, e não “com certeza”, o que está manifestando, sobretudo é a sua fé fraca
na política e a sua falta de convicção e de confiança em seus representantes. Já
aquele que responde “com certeza”, o que é raro, principalmente depois das
últimas experiências do município, esse está munido de uma disposição especial
que pode e deve ser contagiante. Na verdade, só esse sentimento poderá dar
suporte para que o novo executivo de Caxambu tenha sucesso com sua
ambição.
Quando
se considera às propostas do novo prefeito e a situação da prefeitura, fica visível
o tamanho da ambição de Diogo e de Luiz. Não bastará fazer uma excelente
administração e resgatar a fé do caxambuense em seus representantes, será
preciso executar uma gestão para a qual o munícipe esteja sempre com os seus olhos
voltados, de modo que deseje a continuidade do projeto vigente, rechaçando “salvadores
da pátria” e retóricas toscas e facilmente desmontáveis. Naturalmente será necessário
aparecer para o povo, e isso se faz elegendo e executando prioridades assim
como mantendo um diálogo permanente com a população. Também é preciso criar e
divulgar a genuinidade da administração Curi.
Por
que disso? Ora, é razoável supor que quatro anos não serão o suficiente para
recuperar Caxambu, portanto o projeto de governar por mais uma gestão deve
acompanhar todos passos do executivo. E
para isso é preciso originalidade, distinção. O novo prefeito precisará se
distinguir de verdade, acumular um capital político que seja inteiramente seu, delinear
a sua própria personalidade administrativa, revelando uma identidade diferente
do modo de governar dos ex-prefeitos e de futuros candidatos. Isso não
significa rejeitar acertos, pelo contrário, significa assimilá-los e aperfeiçoá-los.
Por exemplo, em administrações passadas, a cidade já vinha experimentando
estagnação considerável, porém com apoio razoável da prefeitura, a sociedade
civil organizada em ONGs ofereceu vários eventos a Caxambu, até que... com a falta
de apoio absurda do executivo municipal, as entidades responsáveis por esses
eventos foram desistindo. O que se espera quando se recorda uma história com um
desfecho como esse? No mínimo que o novo prefeito não só apoie os eventos que
possivelmente se replicarão, mas fortaleça ao máximo estas entidades que antes
de serem parceiras da administração, são parceiras da cidade.
Voltando
a necessidade de criar uma identidade administrativa própria, vale dizer que no
cenário de 2020 predicados como “renovação” e “mudança” já não poderão ser
usados, o destino deles será a reciclagem, sem falar dos ataques que virão, como
por exemplo, a placa de “velha política”, o que é inevitável. Paralelamente,
vale lembrar que a administração Curi sofrerá com os cortes que perseguirão as
prefeituras, sem falar da atmosfera de negação da política, fruto da caça às
bruxas em Brasília, fenômeno que resvalará na micropolítica da cidade. Por tudo
isso é evidente que se a gestão Curi for boa como se espera e, em
contrapartida, não trabalhar com a consciência política dos caxambuenses, as
chances da sua reeleição estarão minadas e, mais uma vez, a cidade poderá
escorregar para as mãos de gestores péssimos, ou na melhor das hipóteses, a
cidade poderá “deixar de lado” os avanços alcançados e, em 2020, escolher um
outro projeto, que costuma começar do zero, como se sabe,.
Se
a administração Curi continuar a disputar de verdade a consciência política do
povo, celebrar os sucessos que alcançar, apresentar à população as dificuldades
que enfrenta, isso sem deixar de lançar mão de alternativas democráticas como, por
exemplo, o orçamento participativo, a criação de rádio comunitária, com certeza
ela avivará a chama da política na cidade e poderá contar feitos louváveis em
sua conta.
Caio Penha