quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

História de uma foto antiga.




História de uma foto antiga.

            


Há dias, recebi do amigo Pepe um postal datado de 12.11.1911 com os seguintes 
dizeres: “Alto do morro de Caxambu”. Nele  havia  um Cruzeiro e o perfil de uma Capelinha ou Santuário, em cima de um morro.
 
            A foto não é no Alto do morro de Caxambu e sim na subida para a Igreja de Sta. Izabel da Hungria. Aquele  Cruzeiro foi erguido por Francisco Viotti , em 8 de maio de 1862, com uma missa cantada em capela campal celebrada pelo então Vigário, Cônego Joaquim Gomes Carmo.     
            Uma crônica antiga sobre o povoado reza que, com os hotéis surgindo e os aquáticos aumentando a frequencia às águas, o arraial não tinha diversão para os hóspedes que reclamavam qualquer excursão que lhes servisse de recreio e onde pudessem fazer exercício.
            Continuando o relato, a crônica  faz referência a Mariano Procópio que vindo às águas se instalara na casa que se tornou, posteriormente, a residência de Augusto Ribeiro. Ele e alguns companheiros decididos, subiram a rampa onde hoje está o Grupo Escolar Padre Corrêa de Almeida e mandaram derrubar algumas árvores do bosque que ali dominava. Aplainando uma porção do terreno, abriram aqui um caminho, fizeram ali um banco com toros de cedros cortados e, no final de algumas semanas, havia um magnífico sítio para passeios, onde eram realizados os piqueniques da época.
            Mais tarde, em 1873, chegou à povoação um rico estancieiro do sul, por nome Conceição, e achou que o bosque de Mariano Procópio não bastava. Era preciso ir mais longe. E não medindo as despesas, alugou alguns braços, pôs mãos à obra e, em pouco tempo, havia um caminho em ziguezague, formando um M, com quatro pernas pelas quais se ia ter ao alto do morro de Caxambu. Esse M primitivo existiu até a administração de Camilo Soares (1909-1914), quando então foi feito o caminho que vigorou até o final da década de 1980. Esse acesso era feito pela subida que leva à igreja de Santa Izabel da Hungria. A estrada era estreita, de terra, cheia de curvas contornando o morro, servindo para caminhadas a pé ou a cavalo. Havia quem  arriscasse subir  de charrete, o que não era aconselhável pela péssima conservação do caminho. Com a inauguração do Teleférico (outubro de 1988), uma estrada para ônibus e automóveis foi aberta passando pelo Trançador.
                        Em 18 de junho de 1897, foi fundado na vila o Club Caxambuense, na chácara do dr.Enout. Foi, na época, a instituição mais gloriosa do lugar. Durante a  gestão do Conselheiro Mayrink, frente à Empresa das Águas, ele e alguns  de seus assessores, entraram como Sócios Beneméritos do Club. Entre eles, o dr.Ricardo  de Carvalho que era Engenheiro da Empresa e que foi um grande incentivador das artes na vila. Atuando no Teatro do Club, foi seu diretor de cena, cenógrafo desenhando com extraordinário talento. Mais tarde, quando foi criado o Grupo do Sereno, agregado ao Club Caxambuense, foi ele  quem criou e desenhou o estandarte da agremiação.
            Todas as noites, subia a colina de Santa Izabel e acendia a lâmpada do Santuário que era de sua devoção. A Gruta de Lourdes, aí existente, é sua obra. Depois, descia e ia para o Club presidir os ensaios das peças.
            A Pedra Fundamental da Igreja de Santa Izabel da Hungria data de meados de novembro de1868, com as presenças da Princesa Izabel  e do Conde d´Eu.
Em maio de 1895, o Conselheiro contratou o dr.Ricardo para  dirigir as obras da reconstrução da capela de Sta. Izabel que estavam paradas há 26 anos. Ele respeitou o estilo gótico que o professor Medeiros lhe dera.

            Em 1929, na gestão do prefeito Mario Milward, foi posto no alto do morro o Cruzeiro (original). Posteriormente foi substituído pelo atual que está entre as Torres de Transmissão.

Rio de Janeiro, 20.01.2020

Maria de Lourdes Lemos