História de uma foto
antiga.
Há
dias, recebi do amigo Pepe um postal datado de 12.11.1911 com os seguintes
dizeres: “Alto do morro de
Caxambu”. Nele havia um Cruzeiro e o perfil de uma Capelinha ou
Santuário, em cima de um morro.
A
foto não é no Alto do morro de Caxambu e sim na subida para a Igreja de Sta.
Izabel da Hungria. Aquele Cruzeiro foi
erguido por Francisco Viotti , em 8 de maio de 1862, com uma missa cantada em
capela campal celebrada pelo então Vigário, Cônego Joaquim Gomes Carmo.
Uma
crônica antiga sobre o povoado reza que, com os hotéis surgindo e os aquáticos
aumentando a frequencia às águas, o arraial não tinha diversão para os hóspedes
que reclamavam qualquer excursão que lhes servisse de recreio e onde pudessem
fazer exercício.
Continuando
o relato, a crônica faz referência a
Mariano Procópio que vindo às águas se instalara na casa que se tornou,
posteriormente, a residência de Augusto Ribeiro. Ele e alguns companheiros
decididos, subiram a rampa onde hoje está o Grupo Escolar Padre Corrêa de
Almeida e mandaram derrubar algumas árvores do bosque que ali dominava.
Aplainando uma porção do terreno, abriram aqui um caminho, fizeram ali um banco
com toros de cedros cortados e, no final de algumas semanas, havia um magnífico
sítio para passeios, onde eram realizados os piqueniques da época.
Mais
tarde, em 1873, chegou à povoação um rico estancieiro do sul, por nome
Conceição, e achou que o bosque de Mariano Procópio não bastava. Era preciso ir
mais longe. E não medindo as despesas, alugou alguns braços, pôs mãos à obra e,
em pouco tempo, havia um caminho em ziguezague, formando um M, com quatro
pernas pelas quais se ia ter ao alto do morro de Caxambu. Esse M primitivo
existiu até a administração de Camilo Soares (1909-1914), quando então foi
feito o caminho que vigorou até o final da década de 1980. Esse acesso era
feito pela subida que leva à igreja de Santa Izabel da Hungria. A estrada era
estreita, de terra, cheia de curvas contornando o morro, servindo para
caminhadas a pé ou a cavalo. Havia quem
arriscasse subir de charrete, o
que não era aconselhável pela péssima conservação do caminho. Com a inauguração
do Teleférico (outubro de 1988), uma estrada para ônibus e automóveis foi
aberta passando pelo Trançador.
Em
18 de junho de 1897, foi fundado na vila o Club Caxambuense, na chácara do
dr.Enout. Foi, na época, a instituição mais gloriosa do lugar. Durante a gestão do Conselheiro Mayrink, frente à
Empresa das Águas, ele e alguns de seus
assessores, entraram como Sócios Beneméritos do Club. Entre eles, o
dr.Ricardo de Carvalho que era
Engenheiro da Empresa e que foi um grande incentivador das artes na vila. Atuando
no Teatro do Club, foi seu diretor de cena, cenógrafo desenhando com
extraordinário talento. Mais tarde, quando foi criado o Grupo do Sereno,
agregado ao Club Caxambuense, foi ele
quem criou e desenhou o estandarte da agremiação.
Todas
as noites, subia a colina de Santa Izabel e acendia a lâmpada do Santuário que
era de sua devoção. A Gruta de Lourdes, aí existente, é sua obra. Depois,
descia e ia para o Club presidir os ensaios das peças.
A
Pedra Fundamental da Igreja de Santa Izabel da Hungria data de meados de
novembro de1868, com as presenças da Princesa Izabel e do Conde d´Eu.
Em maio de 1895, o Conselheiro
contratou o dr.Ricardo para dirigir as
obras da reconstrução da capela de Sta. Izabel que estavam paradas há 26 anos.
Ele respeitou o estilo gótico que o professor Medeiros lhe dera.
Em
1929, na gestão do prefeito Mario Milward, foi posto no alto do morro o
Cruzeiro (original). Posteriormente foi substituído pelo atual que está entre
as Torres de Transmissão.
Rio de Janeiro, 20.01.2020
Maria de Lourdes Lemos