MEU  PRECIOSO TEMPO
Paulo  Roberto Guimarães Moreira *
Ontem  eu tinha decidido assistir ao filme: “Rede Social”, um dos principais candidatos  aos Oscar e que trata da história da criação e desenvolvimento do fenômeno  virtual e econômico: “Facebook”. Estou de férias da Faculdade de Direito, como  aluno e precisando muito descansar produtivamente.
Caí  na besteira de ir a mais um dos inúmeros encontros de uma escola militar que  estudei. Claro que constituímos também uma rede de relacionamentos reais, de  pessoas de alto nível, que teriam, a princípio, a oportunidade de trocar idéias  salutares, produtivas. Mas, como é comum a qualquer grupo, sempre tem aquele que  se acha o melhor, o mais inteligente, o que sabe das coisas, enfim... O novo  sofista. Aquele que colocará o interlocutor no ridículo. Minha Psicóloga diz  que, provavelmente, só existe uma regra sem exceção: Todo gozador não gosta de  ser gozado. Sabem a diferença da ironia para o humor? Do irônico para o  humorado? É que a pessoa irônica se acha superior. E vendo o outro de cima,  começa a ver e, às vezes, dizer publicamente, os defeitos do outro. Mas, não  fala dos seus, aliás, costuma não vê-los e a achar que não os tem. O humorado ri  de si mesmo e assim se habilita a rir dos demais. Não sente superior, vê que são  seres humanos.
Grover  era um Psiquiatra, alcoólatra americano, que curado o alcoolismo percebeu que  tinha se tornado um alcoólatra seco, ou seja, um neurótico. Ele pesquisou e  percebeu que, naquela época, 95 % das pessoas eram neuróticas ou psicóticas. O  primeiro alterna euforia e depressão em pequenos picos o segundo e grandes  picos. Pois, bem, para sintetizar, numa frase, o que se faz nos Neuróticos  Anônimos pode dizer isso: “Cuide da sua vida”. O Neurótico é aquele que se mete,  frequentemente, nas vidas dos outros, mas, pasmem, esquece da sua. Então, nesses  encontros, sempre tem um engraçadinho e nesses nossos temos um engraçadinho  famoso, por suas bobagens frequentes ditas com toda a seriedade. E numa reunião,  quando não se quer dizer nada se descamba para a piada, uma após a outra. Acho  isso um porre, que dá até ressaca.
Eu  sigo um caminho espiritual, a kriya Yoga de Pahamaransa Yogananda. Eles nos diz  para evitar o excesso de encontros sociais, pois é um precioso tempo jogado  fora. Tempo que poderíamos estar em silêncio meditando. E diz ainda, que a  solidão é o preço de se estar com Deus. Sinto que ele tem toda a  razão.
E  para evitar ter que entrar em polêmicas, muito próprias dos neuróticos e  psicóticos estarei evitando, o máximo possível essas reuniões. Porque essas  pessoas, nas quais eu me incluo, adoram se digladiarem , medindo quem é mais  inteligente. E isso, está claro, hoje, para mim, não é inteligência.  Inteligência é amor. Sem ele ficamos doentes de todas as formas. Meu guru ainda  nos conclama a procurar as boas companhias. Tenho 59 anos, e já perdi muito  tempo na vida. Chega, não tenho mais tempo a perder.
Meus  colegas, civis e militares, de forma invejável, em um bom número, estão muito  bem colocados em postos de governos, mesmo depois de aposentados. Sabem,  evidentemente, se aproveitar de suas redes de informações e amizades para  conseguirem trabalhos além de suas carreiras normais. Eu também sempre soube,  mas, com uma grande dificuldade a mais. Pelo fato de ser cadeirante passo uma  imagem que me segrega. Muitos companheiros meus dizem que se preocupam comigo.  Esse é o problema. Eu preferiria que se ocupassem de mim, ajudando a mim a me  colocar no mercado de trabalho. Dois professores meus já me ajudaram nisso: PE.  Henrique Cláudio de Lima Vaz (Por sua indicação fui ser assessor de Aloísio  Pimenta e Celso Furtado, Ministros da Cultura) e Lauro Ávarez da Silva Campos  que foi meu orientador de Mestrado. Até Doutorado tenho grande dificuldade de  fazer, não por problemas financeiros ou intelectuais, mas por falta de  oportunidade e de interesse de intelectuais amigos me ajudarem. Isso é muito  mais importante do que se possa imaginar numa visão superficial. A isso se dão  nomes como empoderamento (“empowertment”) e igualdade de oportunidades,  fundamentais para uma vida digna de alguém que se encontra com sua imagem e  situação de segregado. 
*  Paulo Roberto Guimarães Moreira é Economista e Mestre em Filosofia pela PUC-Rio.  Especialista em Gestão Estratégica das Organizações públicas. Professor  universitário há 30 anos.