O  QUE LULA CHAMA DE ELITE?
 Paulo  Roberto Guimarães Moreira *
Listen litlle man!
Escute Zé Ninguém!
Willian Reich
Reich  chamava de Zé Ninguém ou homem pequeno o fascista. Aquele que existe dentro de  cada um de nós, quase, sem exceção. Esse pequeno homem valoriza sempre o que foi  feito longe. É um desamparado. Reich era da Escola de Frankfurt. Essa escola  reunia grandes pensadores, principalmente alemães, que queriam saber por que o  povo alemão colocou Hitler no poder. Chegaram à conclusão que os pais alemães  eram muito severos, eram autoritários e por isso não tinham autoridade. Como diz  minha Psicóloga Ede, quem tem autoridade não a reivindica. Colocaram Hitler no  poder por ressentirem dessa autoridade e repetiram o padrão da infância, se  submeteram a alguém autoritário, novamente. Mas esse não é um fenômeno apenas  alemão. O fascismo, nessa época, era mundial, como sabemos. Na Alemanha, Itália,  Japão eram exacerbados. Mas, aqui tínhamos Getúlio, na Argentina Perón, na  Espanha Franco, em Portugal Salazar e por aí ia.
Lula  e o PT hoje são elites. Falam até da República dos sindicatos. Lula é um  fenômeno complexo. Um político nato. Mas, a meu ver muito mais que isso. Lula é  amoroso. O que o mundo quer e precisa é amor. Aqui, os céticos de todos os  matizes começam a rir. Porque o amor foi banido do cenário acadêmico,  jornalístico, cultural. Não foi banido, está no gueto. O amor está no gueto, é  de dar risada! Aí sim, dá vontade de rir. Lula é sinestésico. Pega nas pessoas  com carinho. Põe a mão em todos. No Obama, no Armadinejad, nos pobres, no Papa,  em todo mundo. E as pessoas se sentem acariciadas, valorizadas, queridas,  amadas.
E  aí chove preconceito. Aliás, como disse Pitágoras só os deuses têm acesso à  verdade, os homens quando muito podem ser filósofos, ou seja, amantes da  sabedoria. Os deuses conhecem a verdade, porque conhecem o real. Os homens  apenas os pré conceitos, aquilo que vem antes do conceito, ou seja, ilusão, ou,  como dizem os orientais: maya.
Fernando  Henrique Cardoso usou na sua campanha o slogan: “Levanta a mão!” e tinha 5  grandes metas. Lula não poderia levantar a mão porque tinha apenas quatro dedos.  Isso é coisa da elite.
A  elite governou branca, masculina, fisicamente normal (com invejáveis exceções  como Roosevelt). A elite sempre governou excluindo e a exclusão pode ocorrer  pela educação, pela estatura (com honráveis exceções com Getúlio, Napoleão, Rui  Barbosa), pela cor do sangue. Mas, o mundo gira. Os operários estão no poder, as  mulheres estão no poder, os negros, mas muito ainda tem que ser  feito.
O  movimento de deficientes refluiu no Brasil. Mas, a ONU avançou criando uma  Convenção Internacional pelos Direitos das Pessoas com Deficiência. Um direito  de 3ª geração, ou seja, internacional. Mas, cabe a nós todos tomarmos  consciência desse grande avanço e colocarmos em prática.
O  sofrimento do preconceito é produtivo também. O sofrimento é mestre. Sempre me  pergunto como surgiu um talento como o Pelé. Ora, ele teve que se superar sempre  e superar grandes obstáculos, deu no que deu: gênio. Eu já escrevi um artigo:  “Lula é um gênio!”. No fundo, o que irrita mais seus inimigos é saber, no fundo,  que seu adversário, que lhe causa tanto ódio é um gênio. Gênio da superação de  todas as formas de preconceito, de todas as formas de elitismo. Merval Pereira,  da Globo, disse que Lula é ressentido, amargurado. Há! Como eu queria ser  ressentido e amargurado como ele, tão positivo, tão produtivo, tão pró-ativo,  tão genial!
Brasília,  5 de janeiro de 2011
*  Paulo Roberto Guimarães Moreira é cronista.