AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Não falta dinheiro à administração pública, falta gestão


 Por José Mauricio Conti

“Governo tem 59 bilhões para investimento, mas não consegue gastar.” A manchete do Estadão do último dia 8 de julho parece irreal. Ter dinheiro e não conseguir gastar não soa verossímil. Mas é uma realidade bastante conhecida pela administração pública.
Gastar dinheiro público não é fácil, e nem deve ser. Submetidas a uma série de procedimentos e controles, com a louvável finalidade de evitar desvios e mau uso dos recursos públicos, a despesa pública é um ato complexo. Previsão legal no orçamento, licitações, empenho, cronogramas, liquidações, enfim, há um longo percurso até o desembolso.
Somente isto já mostra a necessidade de se ter uma administração pública preparada para operacionalizar o gasto público de forma rápida e eficiente, pois a liberação tardia do recurso pode até mesmo inviabilizar a finalidade para a qual seria destinado.
Infelizmente não é o que se verifica, por uma série de razões.
De início, há que se observar que a gestão de recursos públicos está se tornando uma atividade cada vez mais complexa, a exigir pessoal especializado para cumprir esta que é uma atividade-meio, e não fim.
E a tendência natural é que cada Poder, órgão ou entidade que preste serviços públicos seja composto por servidores voltados a sua atividade-fim, para cumprir a função que deles se espera.
Assim é que em hospitais públicos espera-se encontrar médicos; em escolas públicas, professores; na segurança pública, policiais; no Judiciário, juízes; e em todos eles, além destes, os demais profissionais preparados para cumprir a finalidade para a qual os órgãos foram criados.
No entanto, nesses órgãos as despesas públicas ocorrem o tempo todo, e em valores expressivos. É evidente que não se pode esperar de médicos, professores e outros profissionais de áreas específicas, conhecimento, experiência e desenvoltura, por exemplo, em realizar licitações, sem contar todos os demais procedimentos próprios da complexa operacionalização da despesa pública.
Natural que ocorra o que se vem observando em toda a administração pública: a falta de profissionais especializados em gestão pública leva a um enorme desperdício de dinheiro. E não há que se falar desvios decorrentes de corrupção, apropriações indevidas e outros atos ilícitos. Uma lastimável perda de dinheiro que decorre pura e simplesmente de um fator: má administração.
Ainda mais lamentável é constatar que os recursos desperdiçados por má gestão são de grande monta. Valores que, embora praticamente imensuráveis, não sendo possível calcular com precisão, dão todas as evidências de que sejam extremamente expressivos. Não seria de se espantar, caso se pudesse chegar a um cálculo exato, de que venham a superar os decorrentes de corrupção e outros desvios. E mais: é extremante difícil responsabilizar agentes públicos por má gestão.
É de todo evidente que de nada adianta arrecadar mais se, na hora de gastar, os recursos são mal aplicados e não chegam ao seu destino. Já passou a hora de se voltarem os esforços, a energia e as preocupações para a despesa pública, e não para a receita.
A relação fisco-contribuinte já atingiu seu limite: os contribuintes não suportam mais a carga tributária, e o aumento da arrecadação só trará prejuízos ao cidadão e também ao país. Ademais, a administração pública, no que tange aos órgãos encarregados da arrecadação, estes sim, especialmente após as transformações que se observaram a partir da década de 90, têm se informatizado, modernizado e aumentado sua eficiência, servindo de exemplo até para outros países. Não há porque priorizar a receita.
Portanto, passou a hora de conferir a mesma — ou até maior — eficiência aos órgãos que gastam o dinheiro público.
É verdade que a administração pública vem passando, já há algumas décadas, por processo de modernização. Novas técnicas de administração pública vêm sendo implantadas, e na década de 90 houve uma intensificação deste processo. Embora ainda não consolidado, o processo de transformação de uma administração pública burocrática, mais preocupada com os procedimentos e a continuidade, em uma administração pública gerencial, mais moderna e eficiente, com gestores comprometidos com resultados e metas, é um caminho sem volta.
A modernização do processo orçamentário, iniciada na década de 60, com o orçamento-programa e as normas de planejamento da ação governamental, se tornaram mais evidentes a partir, principalmente, da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000, com as novas exigências de coordenação e planejamento da administração pública.
A Constituição de 1988 e a estabilização da moeda em meados da década de 90 permitiram a retomada do planejamento governamental — que se perdeu no período de alta inflação —, com a exigência de um planejamento amplo e ao mesmo tempo eficiente, abrangendo todos os entes federados, de forma coordenada.
As normas de planejamento, com a exigência de planos plurianuais, leis de diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais com previsões precisas e confiáveis, e programas governamentais bem construídos, com resultados, metas e indicadores claros e factíveis, tornam a administração pública mais democrática e transparente. Obrigam o administrador a respeitar a vontade da sociedade, perseguindo os objetivos por ela traçados, e os submete a um controle social mais efetivo. Fazem-no pensar a longo prazo, evitando a descontinuidade das ações governamentais. E geram um comprometimento dos governantes com políticas de Estado e não políticas de governo, efêmeras e que não podem ficar restritas ao mandatário do momento.
Notam-se avanços. Os planos plurianuais têm se aperfeiçoado a cada nova edição, e as leis de diretrizes orçamentárias intensificaram seu papel como instrumentos de planejamento da ação governamental. Já há exigências de planejamento intragovernamental, como é o caso do Poder Judiciário, com a Resolução 70, de 2009, do Conselho Nacional de Justiça, que instituiu o planejamento estratégico nos tribunais.
O mesmo se pode verificar com o aumento da informatização e a introdução de técnicas mais modernas de gestão.
Há, no entanto, que se dar maior velocidade a este processo, que se mostra aquém das expectativas.
A maior parte da administração pública ainda não aderiu a este processo, especialmente no âmbito de estados e municípios; a implantação das modernas técnicas de gestão, bem como a construção de uma administração pública com gestores profissionais, ainda é incipiente. Os Tribunais de Contas ainda não consolidaram a prática de fiscalizar a eficiência do gasto público, e ainda predomina na maior parte deles a análise meramente formal das despesas públicas, o que não se coaduna mais com as novas tendências da nova administração pública.
A informatização que já tomou conta da iniciativa privada não guarda correspondência na máquina pública, que segue atrás, muito mais lentamente do que se pode esperar.
Há, portanto, muito o que fazer. E rápido, pois enquanto isto o dinheiro público — meu, seu e nosso v vai embora, sem que tenhamos o retorno devido em serviços públicos de qualidade.
Finalizo pedindo desculpas, em parte, pelo título desta coluna, em que estou ciente ter exagerado, sendo até incorreto, ao dizer que não falta dinheiro. É evidente que dinheiro também falta, e não é pouco. Por mais que se melhore a gestão, há muitos setores em que os recursos são escassos, e ainda que bem geridos, são insuficientes para atender a demanda para a qual foram criados. Mas creio que esta quase “licença poética” se justifica para chamar a atenção àquele que é hoje o aspecto mais urgente e relevante na administração pública: aprimorar a qualidade do gasto público em todos os seus aspectos, tornando-o mais eficiente, com melhor relação custo-benefício, permitindo assim que os sempre e cada vez mais escassos recursos públicos sejam bem aproveitados.
É hora de se concentrar na despesa e não na receita, fazendo mais com menos.
José Mauricio Conti é juiz de Direito em São Paulo, professor associado da Faculdade de Direito da USP, doutor e livre-docente em Direito Financeiro pela USP.
Revista Consultor Jurídico, 31 de julho de 2012
 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Texto e Postal assinado por OLAVO BILAC  

( 9 de Abril de 1906 )

 

Olavo Bilac frequentou Caxambu no início 1900  e escreveu sobre a cidade no jornal do Rio, "A Notícia", na coluna "Registro". Eis um trecho de seus escritos:

"O que sei é que as águas santas são santíssimas para quem sofre do estômago ou do fígado. E ainda os que têm o estômago sólido e o fígado sem defeito, esses mesmos aqui vêm encontrar uma paz e alegria que lhes robustecem, o corpo e o espírito.
Esse milagre é operado, em parte pelo uso das águas mas é também devido à doçura deste clima abençoado, dessa serra e desse céu e, principalmente, à bondade sem par desta gente de Caxambu - uma gente que tem a alma na boca e nos olhos - uma gente meiga que conserva e zela como uma relíquia moral de valor inestimável, a tradição da fidalga e carinhosa hospitalidade mineira - uma gente que acolhe o forasteiro, com um tal requinte de afeto e de sinceridade, que ele, ao partir, deixa cair por aqui um pedaço do coração".

Colaboração: Pepe

 

 

domingo, 29 de julho de 2012

Retrato do descaso na conservação do Parque das Águas

Retrato do descaso na conservação do Parque das Águas




Além do balneário fora de operação em plena temporada de férias, o Parque das Águas de Caxambu ainda apresenta um lamentável exemplo de desleixo e falta de cuidado, expresso através da forma com que foi realizado um simples serviço de caiação nos postes de sustentação da grade ao lado da entrada da fonte externa. 
As fotos mostrarm claramente a maneira como este "serviço" foi realizado,  com respingos espalhados por toda a parte em uma grande área, revelando a total falta de habilidade durante sua execução.
Tudo indica que a administração municipal também não percebeu a precariedade da situação. A cerca do Parque apresenta esta aspecto há vários dias- mas até o momento, não foi tomada nenhuma providência para sanar a situação.

Estrada Real (ETAPA em 2 Rodas) - Caxambu 

http://www.youtube.com/watch?v=3vhVbF2N4-M

sábado, 28 de julho de 2012

Eleições 2012

Veja a situação atual do registro das candidaturas para prefeito de Caxambu 


Nome do CandidatoNome para urnaNúmeroSituaçãoPartidoColigação
FUAD SACRAMENTO ZAMOT FUAD 13 Deferido PT RECUPERAR CAXAMBU
GUILHERME JOSE PEREIRA GUILHERME PEREIRA 23 Aguardando julgamento PPS novos rumos novos tempos
ISAAC ROZENTAL ISAAC 40 Aguardando julgamento PSB FE, ESPERANÇA E TRABALHO
LUIZ CARLOS PINTO DR. LUIZ CARLOS 31 Aguardando julgamento PHS Respeito À Caxambu
MARCUS NAGIB GADBEM MARCUS GADBEM 15 Aguardando julgamento PMDB Mude Bem
OJANDIR UBIRAJARA BELINI JURANDIR 11 Deferido PP AGITA CAXAMBU  

Fonte: Duvulgacand - TRE
 http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012/abrirTelaPesquisaCandidatosPorUF.action?siglaUFSelecionada=MG#
 


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Balneário de Caxambu faz 100 anos de história com águas medicinais

História da cidade envolve a família real e cura da Princesa Isabel.
Parque das Águas tem 12 fontes e atrai turistas de todo país. 

 O balneário de Caxambu (MG) completa 100 anos de fundação nesta sexta-feira (27). A história, que teve início em 1912, é contada pelas gerações de moradores e visitantes que passaram a se tratar com banhos terapêuticos.

O  curioso é que as águas ganharam o status de "milagrosas" em todo país depois que a família real passou pelo balneário e a Princesa Isabel se curou de uma anemia. Depois disso, a cidade passou a receber turistas de várias partes do país e hoje, no local, são oferecidos vários serviços, como banhos e tratamentos.

 

A história e as águas

O Parque das Águas é hoje uma das principais atrações, conforme destaca o turismólogo de Caxambu Luiz Cláudio Rocha. São cerca de 210 mil metros de área e quem visita o lugar está atrás das fontes ‘milagoras’. São 12 fontes de águas minerais, gasosas e medicinais. Cada uma com uma propriedade. Uma delas recebe o nome de Dona Isabel e Conde D´eu.

“Antes era só um vilarejo e quando foi descoberto o poder terapêutico, foi crescendo e hoje vive em função das águas. O curioso é a história da Princesa Isabel, que não conseguia engravidar e se curou aqui, tanto é que depois mandou construir uma igreja na cidade”, destaca o turismólogo.

Outra fonte é intitulada como fonte Dom Pedro é de teor radioativo e carrônico. Altamente gasosa, é indicada como água de mesa por sua natureza digestiva.

A fonte também impressiona pela construção em estilo Greco-romano. Dentro, está uma réplica que pertenceu a Dom Pedro. Já a fonte Dona Leopoldina foi captada em 1850 e sua água carbogasosa e fluoretada estimula a digestão e é indicada no tratamento de problemas hepáticos.

Turismo na cidade


O aposentado Neysany Henrique visitou o balneário e gostou muito da experiência. “É a segunda vez que venho aqui e o que mais aprecio são os diferentes sabores das águas”, diz.
A professora Edna Rodrigues Bragança Henrique também comenta as águas milagrosas de Caxambu. “A água é boa para beber, para a pele, para o cabelo,enfim, só faz bem”.
O balneário oferece ainda banhos de imersão em água mineral, tratamentos cromoterápicos, saunas e piscinas de hidroterapia. Ana Regina dos Santos Rocha trabalha como termalista no local há 50 anos e se lembra, com saudade, dos tempos áureos do balneário.

“Antes trabalhávamos com uma equipe muito grande e era muito bom. Íamos, inclusive, para Poços de Caldas (MG) para receber curso de termalismo”, lembra.

O local oferece também tratamentos estéticos, com massagens relaxantes. José Luiz é de Pretópolis (RJ) e visita há cidade há muitos anos. Ele sempre volta para recarregar as energias.

“Eu sempre retorno. Todas as vezes que entro em férias, venho aproveitar o lugar e descansar um pouco”, diz.

Exposição

Uma programação especial está em destaque na cidade. Uma mostra comemorativa que conta a história do centenário da cidade teve início nesta sexta-feira (27).

Com 20 banners, os visitantes podem conferir como a estância se firmou na história do país e hoje é tombada inclusive pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha).

Carnaval 2013
Caxambu fará parte do enredo da Escola de Samba Império Serrano, do Rio de Janeiro (RJ). A escola de samba fez, no sábado (21), o lançamento do tema para o Carnaval de 2013 e deve contar as riquezas naturais do circuito das águas mineiras.
De acordo com a assessoria de imprensa da escola de samba, o tema é “Abençoado em águas milagrosas fiz meu Carnaval nascido na fonte do samba, Império Serrano Canta e Encanta Caxambu um paraíso de riquezas naturais do Circuito das Águas das Minas Gerais”.

A letra do samba ainda não foi definida, mas o tema será desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes. A Império Serrano está no grupo de acesso do Carnaval carioca e deve desfilar no dia 9 de fevereiro de 2013.
A expectativa de gastos, seguindo a assessoria de imprensa, é de R$ 1,5 milhão.

 Do G1 Sul de Minas

 http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2012/07/balneario-de-caxambu-faz-100-anos-de-historia-com-aguas-medicinais.html

 

Veja também:

  Apesar do início das férias, thermas do balneário continuam sem funcionamento

 http://jornalarte3.blogspot.com.br/2012/07/do-inicio-das-ferias-thermas-do.html

 

 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Caxambuense participando de Simpósio Ambiental na UNB, em Brasília

Congresso agita Faculdade de Tecnologia

Entre música e interação, estudantes de Engenharia Florestal de todo o país se reúnem para discutir sustentabilidade

 Congresso reúne estudantes no auditório da Faculdade de Tecnologia

Dominique Lima - Da Secretaria de Comunicação da UnB


Desde a última terça-feira, 24, a Faculdade de Tecnologia da UnB está em ebulição. Sede da 42ª edição do Congresso Brasileiro dos Estudantes de Engenharia Florestal (CBEEF), o prédio tem recebido a ruidosa e festiva presença dos cerca de 400 alunos que, vindos de todo o Brasil, estão reunidos na UnB em torno do tema "InSustentabilidade – Da crise socioambiental à ação transformadora em uma sociedade que se pinta de verde”.

Organizado pela Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal (Abeef), o congresso conta com o apoio do Centro Acadêmico do curso na UnB. Entre painéis para discutir a mercantilização dos recursos naturais e o impacto do monopólio na qualidade de vida, estão previstos momentos de intercâmbio cultural entre os futuros engenheiros florestais, abrigados no Pavilhão João Calmon. (Veja aqui a programação completa do congresso).

Foi essa combinação - dos temas em debate com a possibilidade de interação com outros alunos - o que atraiu a estudante de Engenharia de Florestal Yohana Cunha de Melo, 19, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em Picaricaba, São Paulo. Yohana espera que o encontro sirva para que os estudantes unam forças em prol de questões ambientais urgentes: “Estamos num momento em que ou privilegiamos o mercado ou defendemos a floresta”, disse. 

Emília Silberstein/UnB Agência
A estudante Yohana se sentiu atraída por temas e possibilidade de interação

Realizado na tarde desta quarta-feira, 25, o primeiro painel abordou o conceito de economia verde. Os facilitadores convidados a balizar o debate foram o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragem em Minas Gerais, Paulo Tarso, e a advogada da organização não-governamentalde direitos humanos Terra de Direitos Larissa Packer.

De acordo com Paulo Tarso, os problemas causados pela apropriação dos recursos naturais e conhecimentos - base do modo de produção atual - são os geradores da crise econômica que hoje acomete o mundo. O monopólio e a criação de riquezas virtuais, não baseadas em produtos materiais, criam um ambiente propício a crises. “As recessões recaem por sua vez nos ganhos sociais, os primeiros a sofrerem cortes”, disse Paulo. Segundo ele, uma melhor distribuição das riquezas baseadas em elementos concretos, como alimentos, seria uma saída para esse ciclo de injustiças.

Larissa Packer focou sua apresentação no conceito de economia verde - que esbarra nos termos "novas tecnologias" e "novos mercados". De acordo com Larissa, essas expressões se baseiam no esforço de evitar a escassez de recursos. “Não há escassez de recursos", disse a advogada. "O que falta é a distribuição adequada - e sse problema é causado pelo excesso de controle e monopólio”, explicou.  

Emília Silberstein/UnB Agência
 A advogada Larissa Packer explicou o conceito de economia verde

CULTURA E GEOGRAFIA
– Outro lado do CBEEF é a interação entre estudantes de todas as regiões do Brasil. Momentos chamados de “intervenção cultural” vão abrigar - a partir da noite desta quarta-feira, 25 - uma série de apresentações em que grupos vão falar sobre suas regiões a partir das especificidades geográficas do local. A primeira "intervenção cultural" - apresentada por estudantes do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais - estará focada na Mata Atlântica.

“Queremos chamar atenção para diferenças e similaridades: a ideia é entender os vários brasis que existem dentro da nossa nação”, explicou o estudante de Engenharia Florestal Francis Barbosa Rocha, membro do Centro Acadêmico do curso e da comissão organizadora do congresso.

Momentos de convivência como esses são parte do encanto de encontros como esse, segundo o estudante de Engenharia Florestal da Esalq-USP, Luã Gabriel Trento, 23, que participa de um congresso de estudantes pela quarta vez. “A ideia é de que o grupo acorde junto, trabalhe junto - e isso enriquece a experiência”, avaliou.

Fonte: Agência UnB

Compartilhado por  Rachel Mello

Karen Junqueira mostra a delicadeza sexy da renda


POR Marcia Disitzer

Rio -  Karen Junqueira, 29 anos, é mineira de Caxambu. Mas coube a ela o papel da rata de praia Paula, na série de 13 episódios ‘Preamar’, da HBO Brasil, que se passa na orla de Ipanema. E foi perto do mar, numa típica tarde de inverno, que Karen posou para a ‘Já É!’, mostrando toda delicadeza e sensualidade da renda. “Amo renda e tons suaves, como o rosê e o branco. Se pudesse, teria tudo para mim”, elogia Karen.

 Veja o ensaio fotográfico publicado em O DIA, com fotos de Sergio Baia/ Divulgação:



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Miss MG 2012

Catiane Vieira representará Caxambu no Miss MG 2012
 Modelo caxambuense de 19 anos foi selecionada para concorrer ao título deste ano, promovido pela Band Minas

http://missminasgerais.com.br/plus/


 Catiane Vieira -  Fotografia/Produção - Ulisses Fernandes


Medidas
  • Altura:
    1,70
  • Peso:
    52,00
  • Manequim:
    36
  • Sapatos:
    36
  • Busto:
    82,00
  • Cintura:
    68,00
  • Quadril:
    90,00

                  

                  Perfil
  • Que significado o título de miss tem pra você?
    Ter a oportunidades de representar meu estado e a cultura regional,além da possibilidade de abrir portas no futuro.
  • Você tem algum hobby? Qual?
    Sim, academia
  • Quais são suas metas profissionais?
    Terminar os estudos e me realizar como modelo e atriz
  • Qual seu principal objetivo na vida?
    Realizar todos os meus sonhos,ajudar a minha familia.
  • Uma palavra para traduzir o que você:
    Determinada
    Veja mais fotos do ensaio fotográfico da modelo Catiane Vieira publicado no blog Giro do Wal:

1938 - Concentração da Seleção Brasileira no Palace Hotel de Caxambu - MG

O FUTEBOL E IDENTIDADE NACIONAL: O CASO DA COPA DE 1938

Plínio José Labriola de C. Negreiros (Brasil)

Resumo
Esse texto pretende apresentar algumas pistas acerca do relacionamento entre o futebol e a construção da identidade nacional no Brasil, especificamente a partir dos anos 30. Olhando para um evento especial dentro da história do futebol no Brasil — a participação dos brasileiros na Copa do Mundo de 1938 — mostramos como o futebol foi sendo articulado com a sociedade brasileira, a ponto de fazer daquela competição esportiva um momento de reforço na construção da identidade nacional.
Vale ressaltar que essa construção fez parte de um projeto de dominação, objetivando legitimar e reforçar o poder de alguns grupos sociais, em prejuízo dos projetos mais populares. Simbolicamente, reforçou-se a idéia de que aquela não era uma mera disputa esportiva e, sim, mais uma provação com o intuito de mostrar a força do Brasil, do seu povo, a partir do futebol. De diversas maneiras, com a forte colaboração da crônica esportiva, cada brasileiro foi responsabilizado pelo desempenho dos atletas do Brasil. Esse momento de afirmação da nacionalidade foi um sucesso, apesar da derrota para a seleção italiana. Enfim, o destino do país encontrava-se nós pés de um time de futebol, como nas mãos de cada brasileiro. Enfim, o futebol reforçou as idéias que mostravam a necessidade da construção nacional.
Unitermos: Futebol. Identidade nacional. Copa de 1938.

Abstract
SOCCER AND NATIONAL IDENTITY: THE CASE OF THE WORDL CUP OF 1938
This text intends to present some clues about the relationship between soccer and construction of Brazil's national identity, starting from the thirties. Taking a look at a special event in the history of Brazilian soccer — the participation of the Brazilians in the World Cup of 1938 — shows how soccer was articulated together with the Brazilian society, to the point of turning a sport competition into a reinforcement in the construction of the national identity.
To protrude, this construction made part of a domination project, with the purpose of legitimating and strengthing the power of some social groups, in disadvantage to some popular social projects. Symbolically, reinforced the a idea that the sports competition wasn't simply a competition, and yes, another probation with the aim of demonstrating the Brazilian force, of its people, from soccer. With various possibilities, and with the colaboration of sports chronicle, every Brazilian citizen was made responsible for the performance of the athlets. This moment of national afirment of nationality was a success, desides the lose to the Italian team. At last, the destiny of country was found by the feet of a soccer team, just like in the hands of every Brazilian. Soccer reinforced the ideas that present the necessity of the national construction.
Key words: Soccer. National identity. World Cup of 1938.

Brasil, fim dos anos 20, início dos anos 30: nacionalismo e autoritarismo constituíam-se em eixos fundamentais tanto na prática política quanto na obra de vários intelectuais brasileiros. Para estes, a República até então não havia sido capaz de forjar uma verdadeira nação, já que, entre outros motivos, os particularismos regionais ainda eram dominantes. Assim, para os setores que exerciam o domínio político no país, uma tarefa urgente se impunha: construir a nação brasileira.
Ao mesmo tempo, o futebol já era o esporte que mais apaixonava aos brasileiros, capaz de reunir grandes multidões. Dessa forma, este texto pretende apresentar algumas pistas acerca do relacionamento entre o futebol e a construção da identidade nacional no Brasil, especificamente a partir dos anos 30. Isto será feito com o nosso olhar dirigindo-se para um evento especial dentro da história do futebol no Brasil — a participação dos brasileiros na Copa do Mundo de 1938. Mostraremos como o futebol foi sendo articulado com a sociedade brasileira, a ponto de fazer daquela competição esportiva um momento de reforço na construção da identidade nacional.
E apesar de não ser possível detectar um projeto claro das várias esferas do poder público no sentido de utilizar o futebol enquanto um legitimador da ordem política vigente, torna-se perceptível como a ausência desse projeto formal não impediu que todos os fenômenos que envolviam o futebol desse período, prestassem uma sólida colaboração no sentido de reforçar a idéia da construção de uma identidade nacional.
De meados da década de 10 até os fins dos anos 20, muita coisa se transformou no futebol. Este tornou-se um esporte muito mais popular, abrangendo a maior parte do país, apesar do domínio dos paulistas e cariocas. E o aumento da popularidade do futebol ficou devendo a muitos fatores, entre eles: o processo de metropolização de algumas cidades, que fez do futebol um esporte especial, pois cumpria o papel de adaptar a população urbana ao ritmo industrial que se impunha; o aparecimento e a expansão da radiodifusão, que permitiu ao futebol chegar a mais pessoas e a lugares mais distantes; além das transformações na imprensa esportiva escrita, que aproximou ainda mais os torcedores do futebol, e mais do que isso: a imprensa esportiva soube promover o futebol. Mário Filho no Rio e A Gazeta em São Paulo são bons exemplos.
É a partir dos anos 20 que as multidões se farão ainda mais presentes aos estádios. Também apareceram as manifestações populares em razão de vitórias importantes, como era o caso de competições interestaduais; uma vitória carioca em São Paulo resultava, por exemplo, em uma grande recepção preparada pelos torcedores do Rio, que tinha início já na estação de trem. Vale reafirmar que a imprensa tinha um papel importante na motivação dos torcedores.
Na preparação da Copa de 38, esse lado da imprensa sobressaiu. Ocorreu um sistemático envolvimento de periódicos, objetivando aproximar os torcedores das questões organizacionais do futebol. Em São Paulo, essa tarefa foi aceita com muita naturalidade pela Gazeta, que produzia um suplemento esportivo semanal, A Gazeta Esportiva. Assim, no início de abril de 1938, quando a seleção brasileira de futebol já se preparava para disputar a Copa do Mundo na França, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), lançava uma campanha, que imediatamente foi apoiada pela Gazeta. Assim Thomaz Mazzoni, o principal cronista esportivo desse jornal,1 apresentava a campanha:
"A 'Campanha do Selo', a tão bem inspirada iniciativa, teve um sucesso invulgar, ao se iniciar há dias, no Rio, está quase esgotada a emissão de 100 mil selos. Com essa campanha os afeiçoados podem se interessar diretamente pela viagem da nossa seleção, pois adquirindo um selo o 'torcedor' faz sua fezinha de ir também à 'Taça do Mundo'. (...)
(...) Os que adquirirem o 'selo cebedense' não só auxiliarão patrioticamente o comparecimento do Brasil na III 'Taça do Mundo' como se tornarão, igualmente, candidatos a um lugar na delegação por...500 réis. Assim, enquanto os 'fans' gastarão uma quantia tão modesta, a C.B.D., para cada emissão, arrecadará 50 contos, uma quantia que muito contribuirá para a nossa seleção viajar com maior comodidade, para melhor se hospedar na França, etc. E tudo isso importa na melhor disposição dos nossos 'azes' para lutar naquele importante torneio dentro de suas reais possibilidades. Sendo assim, maior será nossa 'chance' de vitória. Quanto melhor conforto tiver o 'XI' brasileiro, tanto melhor será a margem que teremos para impor nosso valor.
Adquirir o 'selo' não é, pois, somente a esperança própria de se ir à Europa assistir o Campeonato Mundial, como também um ato patriótico para melhor servir o nosso ideal comum de vermos o Brasil atingir o posto supremo no futebol internacional que seria a conquista da 'Taça do Mundo'!"
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Este artigo é muito significativo, com duas idéias recorrentes: a seleção precisava do torcedor para vencer na França e, que alguns torcedores, graças ao seu patriotismo, seriam os felizes sorteados. Ao mesmo tempo, outra questão emergia: ao arrecadar fundos para financiar o conforto dos jogadores brasileiros, teria uma finalidade patriótica, pois poderia levar o time brasileiro a tão sonhada vitória. E o mais importante: a responsabilidade do sucesso, ou não, da seleção brasileira, passava, em parte, para as mãos dos torcedores. Ser patriota era comprar o selo. No fundo, Thomaz Mazzoni entendia a participação brasileira na França como um evento que deveria, ou mesmo poderia, levar o nome do Brasil ao exterior, principalmente à "civilizada" Europa. Assim, ajudar a CBD a proporcionar conforto aos jogadores brasileiros, significava, em última instância, um ato patriótico, já que o Brasil seria reconhecido no Velho Mundo como vitorioso. O futebol, ao mostrar a sua organização, o talento e a disciplina dos jogadores, estaria mostrando o povo brasileiro. Enfim, o futebol enquanto uma vitrine do Brasil.
Mas não caberia apenas aos torcedores ajudarem na participação do selecionado nacional na Copa da França. A diretoria da CBD entendia que o apoio do poder público, assim como do empresariado, era fundamental e justo, já que não se tratava de uma disputa esportiva qualquer. Dessa forma, podemos encontrar nas páginas dos periódicos as justificativas para que o apoio material à delegação esportiva brasileira fosse o mais amplo possível:
"O comparecimento do Brasil ao certame do Mundo é o maior cartaz do momento no esporte brasileiro. Deseja-se, de fato, que desta vez o nosso pais atue na 'Taça do Mundo' com todas as suas melhores possibilidades. Nenhum esforço está sendo poupado. Deseja-se dar à nossa delegação o maior apoio moral e material possível, para não só ser digna do nosso valor futebolístico nos campos da França, como fazer, na Europa, uma grande e eficiente propaganda do Brasil. (...)"3
Se para a CBD os benefícios da ida do futebol brasileiro seria do país como um todo, a contribuição deveria ser generalizada. Assim, ainda segundo o noticiário da Gazeta:
"(...)
Dado o grande vulto de despesas para a nossa seleção representativa tenha todo o conforto indispensável, a CBD houve por bem angariar entre os interventores federais nos Estados, no comércio especial, os muitos indispensáveis e, assim, já se dirigiu por ofício aos interventores nos seguintes Estados: Amazonas, Pará, Maranhão (...) aos diretores da Companhia Light, Instituto do Açúcar e do Álcool, Banco do Brasil (...)
Concorrerão também o alto comércio e as indústrias de São Paulo (...)"
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A percepção dos dirigentes da CBD, uma entidade de caráter privado, era de que o futebol já havia a muito ultrapassado os limites do esporte, tendo adquirido um significado que obrigava todos os setores da sociedade brasileira a contribuir materialmente para uma presença digna do futebol brasileiro na Europa. Na prática, a CBD co-responsabilizava todos os brasileiros, seja do setor público ou privado, já que os ganhos, supostamente, seriam para todos, com a propaganda que seria feita em terras européias. Assim, esse campeonato de futebol colocava em jogo os próprios destinos da nação, ao menos por duas razões. De uma lado, a imagem do Brasil seria apresentada para vários povos europeus, que poderiam ter contato com o atual estágio de desenvolvimento do país, ou, conforme expressão da época, poderiam conhecer os níveis de progresso atingidos pelo país. Por outro lado, estaria em jogo a capacidade de organização e de envolvimento da população brasileira dentro desse processo. Ao contrário de outras disputas esportivas, não bastava o simples ato de torcer; ao torcedor caberia novas tarefas, como a de financiar a equipe nacional.
Por outro lado, o início da participação brasileira na Copa da França não foi apenas marcada por momentos de euforia ou otimismo. Alguns problemas foram surgindo, fazendo com que emergissem contradições em cima do modelo ideal que estava sendo gestado, que apontava a formação de uma delegação forte e disciplinada, com a função de mostrar o Brasil e o seu povo para o resto do mundo.

Com selecionado já convocado, começava a preparação da equipe, concentrada em Caxambu, no estado de Minas Gerais. Depois de muitos dias de convivência, e com a proximidade do embarque para a França, surgiu uma grave crise envolvendo os jogadores e a direção da CDB. Essa crise teve um importante desdobramento quando os jogadores fizeram uma série de reivindicações à entidade máxima do futebol brasileiro. Vejamos o documento que materializou essas reivindicações:
"Sr. Presidente da Federação Brasileira de Futebol:
Sejam as nossas primeiras palavras de sincero agradecimento pela visita honrosa que dignou fazer-nos, na
concentração em Caxambu, trazendo o conformo moral tão necessário para a árdua missão que vem de nos confiar, qual a de arcar com a honrosa tarefa de elevar bem alto, no maior certame de futebol do mundo, o "association" brasileiro. Tão significativa missão, no entanto, para ser desempenhada sem desdouro, por todos nós jogadores, exige que a possamos cumprir com dignidade e sobremaneira. Por isso, vimos até v. Exa., sem que este gesto represente de nossa parte qualquer exigência, expor e pedir o seguinte:
a.    A maioria dos jogadores requisitados é arrimo de família e como tal, partindo para a França, não ficará isenta da obrigação de manutenir os seus aqui;
b.    a vida, em qualquer parte da Europa, é caríssima, levando em consideração a desvalorização do nosso mil-réis, o que tornará difícil uma apresentação condigna de cada um dos signatários nos lugares por onde passarem, se não forem atendidos no seu pedido que ora vos fazem, e que se concretiza no seguinte:
1.    Diária de 25$ desde o dia do embarque até o de regresso;
2.    Ajuda de custo de 1.500$;
3.    Ordenado mensal de 1.500$;
4.    Gratificação de 500$ por jogo ganho e 250$ por jogo empatado;
5.    Abolir a clausula 'F' do regimento interno.
Aguardamos nesta concentração a resposta de v. Exa., certos de sermos atendidos.
Atenciosamente, etc."
5
Dentro da prática de um futebol profissional, nada mais lógico do que esses pedidos dos jogadores do selecionado brasileiro. Porém, essa questão não era tão simples quanto se poderia supor. Apesar de oficialmente profissionais desde 1933, os jogadores que brigavam por salários, prêmios ou por transferências vantajosas, eram muito mal visto. Parte da imprensa esportiva chamava os jogadores que discutiam e exigiam contratos melhores como mercenários, sem qualquer relação sentimental com o clube ou a torcida. E o momento também não era o mais propicio para reivindicações.
Tratava-se de um momento especial, tanto que o presidente da Federação Brasileira de Futebol, o Sr. Castello Branco, afirmava que havia feito "(...)um convite à senhorita Alzira Vargas, que servirá de madrinha do 'scratch' e pude verificar que aceitou satisfeita." 6 E o mesmo dirigente vai se manifestar sobre o problema que se criou em torno do documento reivindicatório dos atletas da seleção:
"(...) Foi essa a única nota desagradável da concentração. Não tomei conhecimento oficial do assunto, pois somente o sr. Luiz Aranha poderá resolver um caso dessa natureza. Discordo em princípio dessa pretensão do jogadores, que terão na Europa, as diárias e todas as despesas pagas (...)
(...) Apreciando a atitude do Botafogo F. C., declarou o presidente da Federação Brasileira de Futebol: 'Acabo de tomar conhecimento da atitude do sr. Decio Darcy, presidente do Botafogo, sobre o caso do apelo dos jogadores. Esse clube determinou que todos os seus jogadores retirassem a sua assinatura do referido apelo, sob pena de multa de um conto de réis. Sei que o São Cristóvão tomará a mesma providência, o que constitui um elogiável modo de prestigiar a CDB e manter a disciplina.'
(...)"
7
O importante dirigente do futebol do Brasil mostrava-se muito contrariado pelas exigências feitas pelos jogadores. Cabia à CBD, conforme palavras do Sr. Castello Branco, manter a disciplina, que para aquele momento deveria ser entendida de forma simples: os dirigentes mandavam e os jogadores obedeciam. Não havia espaço para atitudes atrevidas. Ou seja, como falar em vantagens materiais, diante de uma batalha eminente?
Por outro lado, anunciavam-se as transmissões radiofônicas da Copa, que representavam um impulso a mais em toda a euforia que marcava a ligação dos torcedores brasileiros com a disputa de campeonato tão importante; tratava-se de uma grande novidade: pela primeira vez os brasileiros escutariam a narração de jogos de futebol diretamente da Europa. É possível imaginar os esforços feitos pela Rádio Clube do Brasil para conseguir os direitos de transmissão, já que cada partida, que se utilizaria de linha telefônica, custaria por volta de 100 contos8, quantia nada desprezível, ainda que fosse dividida entre as rádios retransmissoras.
E a nação entraria em campo das mais diversas maneiras. Depois do selecionado brasileiro ter empreendido a longa viagem até a Europa, de navio, chegavam diariamente um noticiário especial, ora por parte dos jornalistas brasileiros, como era o caso do jornalista Thomaz Mazzoni da Gazeta, ora através das agências de notícia. Em umas das primeiras reportagens vindas da Europa, mais envolvimento de autoridades brasileiras com o selecionado nacional. Assim relatou-se esse relacionamento:
"Entre os maiores admiradores do quadro de futebol brasileiro que vai estrear no próximo dia 5 de junho contra os poloneses no campeonato do mundo, está s. excia. o sr. Souza Dantas, embaixador brasileiro junto ao Quai d'Orsay.
O sr. Souza Dantas, que tem mostrado grandemente interessado nos progressos do treinamento de seus patrícios, já se nomeou o 'Fã número um' dos futebolistas brasileiros.
(...)"
9
Se a direção da CDB já havia escolhido a Sra. Alzira Vargas, filha do presidente, como a madrinha do selecionado nacional, agora o embaixador brasileiro em terras francesas, revelava todo o seu amor pelo futebol nacional, a ponto, de maneira muito pretensiosa, se auto-proclamar como o torcedor nº 1 dos brasileiros. Eram as autoridades brasileiras se aproximando do selecionado de futebol, mostrando-se atentos, como se fossem torcedores tão iguais aos que haviam ficado no Brasil, acompanhando as notícias pelos jornais e esperando, cada vez ansiosos, as transmissões dos jogos através de uma cadeia nacional de rádio. O embaixador Souza Dantas, com o peso do seu cargo, representava mais um elo de ligação na construção de uma nação pronta para fazer do Brasil um vencedor, mesmo que fosse através do futebol. E como já se viu, o país não encontrava-se diante de uma mera disputa esportiva.
Enfim, a aproximação do início da Copa do Mundo de 1938, fazia com que cada setor da sociedade brasileira, articulados pela CBD e pela imprensa, envolvia-se cada vez mais com o futebol, como se toda a nação estivesse naquele momento representada. Da madrinha da seleção Alzira Vargas, passando pelo embaixador brasileiro na França, por todas autoridades públicas que doaram dinheiro para a delegação, além dos empresários, das atividades econômicas privadas, nacionais ou estrangeiras, chegando ao mais simples torcedor. A nação, unida, mostrava-se de prontidão, atenta para enfrentar os inimigos que viessem pela frente; a unidade nacional construída a partir do futebol, revelava a força do Brasil, que manifestava-se apontando a total falta de temor diante de inimigos tão fortes. E essa unidade nacional havia sido forjada de tal maneira, que foi capaz de não deixar nenhum brasileiro de fora, mesmo aqueles que possuíam pouco ou nenhum interesse pelo futebol, esporte tão criticado por setores da imprensa e por teóricos da Educação Física, que o associavam à deseducação popular, à violência e à desordem.
Os jornais continuavam a alimentar as expectativas dos leitores, realçando a importância do momento que se aproximava com rapidez. Na principal matéria acerca da Copa publicada na véspera da estréia do time brasileiro, lemos:
"Todo o Brasil, esportivo ou não, estará com sua atenção concentrada, amanhã, na estréia dos brasileiros na III 'Taça do Mundo'. Jamais a alma do povo brasileiro vibrou tanto em torno da campanha de uma representação nacional numa competição esportiva no estrangeiro, e a ansiedade é plenamente justificável, pois pela primeira vez nos empenhamos seriamente em rumar para o outro lado do Atlântico perfeitamente organizados e contando com o apoio moral e material de toda a nação. (...)" 10
O futebol já não era motivo de atenção só para os amantes do futebol e dos outros esportes, e sim de todos os brasileiros; e a seleção fora construída com as forças da nação como um todo. Assim, ninguém poderia estar alheio a acontecimento tão marcante e esperado. Diferente das Copas de 30 e 34, a nação encontrava-se unida em torno da representação nacional. Essa a grande novidade: a Copa do Mundo de 1938 engendrou uma nação unida e disciplinada em torno de 22 jogadores, além da comissão técnica, dos dirigentes do futebol nacional, mais imprensa e torcedores.
Domingo — 05 de junho de 1938 — finalmente o grande dia do futebol brasileiro; a seleção brasileira de futebol entraria em campo na busca de uma vitória, que permitiria que o time avançasse rumo ao título. Dramática vitória sobre o selecionado polonês por 6 a 5.
E se a vitória dos brasileiros foi dramática, a recepção dos torcedores não teria como ser diferente. Dentro do noticiário acerca da partida, é possível perceber a importância que os torcedores estavam dando àquela competição. Num jornal carioca, lia-se:
"Torcendo pela vitória dos brasileiros - Matou-o a emoção!
Campos, 6 (do correspondente) - Toda a cidade recebeu consternada, após a notícia alvissareira da vitória brilhante dos brasileiros sobre os poloneses em disputa do Campeonato Mundial de Futebol a notícia de que, fulminado pela emoção intensa, falecera o chefe da estação postal-telegráfica, sr. Dario Balesdent.
(...)
— Sexto gol dos brasileiros!
Balesdent ouve e rompe em vivas ao Brasil. Silencia repentinamente e sente obscurecer-lhe a visão. Chama a esposa, que ao chegar apressadamente vê o marido já estendido, agonizando. Quando chegou o médico, o sr. Dario Balesdent era cadáver.
Deixa o extinto viúva a sra. Maria Balesdent e órfão o sr. Enéas Balesdent, médico. Tinha 49 anos de idade e chefiava os serviços postais-telegráficos havia muitos anos."
11
Ao mesmo tempo, a imprensa fazia questão de mostrar que as manifestações vinham de todos os rincões do país; não era um assunto privativo dos torcedores mais fanáticos. Era o brasileiro comum que estava muito envolvido com os destinos do futebol nacional. Porém, o poder da vitória também produzia efeitos muito mais complexos, que mereciam uma atenção maior dos jornais. Nesse sentido, destaco um comentário acerca do comportamento dos torcedores na cidade de São Paulo após a peleja contra o time polonês, guardado sob um título instigante: Estrangeiros, mas brasileiros:
"Mil, dez mil, duzentos mil ou número maior de pessoas, talvez a população inteira de São Paulo manifestou domingo a sua grande alegria pelo triunfo dos brasileiros na primeira partida da 'Taça do Mundo'.
Nesse momento, fizemos idéia do que se passou em todo o Brasil pelo sentimento de pesar que se apossou de todos os que, aqui, na GAZETA, acompanhavam a irradiação do prélio de Strasburgo.
(...)
Impossível que não vencêssemos tal jogo, daí o desespero indisfarsável que se apoderou de todos, a atmosfera pesada que envolveu São Paulo como teria envolvido o país inteiro.
(...)"
12
A cidade, como o resto do país, respirava o futebol, sofrendo coletivamente, esperando a vitória do time do Brasil. Porém, o jornalista da Gazeta, entendia que não fora apenas uma vitória dos brasileiros, quando escrevia:
"(...)
Milhões de brasileiros sofreram, mas com eles sofreram também milhares de estrangeiros.
Italianos, portugueses, húngaros, espanhóis, e filhos de outros países se associaram aos nossos sentimentos patrióticos e nisso residiu o nosso maior conforto.
Não apenas os brasileiros almejavam a vitória do Brasil sobre a Polônia, mas também os estrangeiros radicados no Brasil e que trabalham e colaboram pela nossa grandeza e nosso progresso.
Domingo, em São Paulo, todos foram brasileiros e bons brasileiros, e uma prova temo-la nos 'botecos' de portugueses, nas 'cantinas' de italianos, nas residências dos húngaros e em outros lugares habitados por estrangeiros, onde enormes cartazes foram colocados às portas, com o resultado do encontro, e foguetes espoucaram em regozijo pelo triunfo.
Os sofrimentos e as alegrias foram gerais, São Paulo, a 'terra estrangeira' foi mais brasileira do que nunca, desmentindo o que se diz dessa cidade grandiosa e trabalhadora (...)"
13
O futebol demonstrava a sua capacidade em unir povos diferentes, todos em torno da nação brasileira. Esses estrangeiros, mais do que brasileiros, foram bons brasileiros, ao participarem das alegrias e das tristezas coletivamente, caminho que permitiu a vitória nacional. Assim, se de um lado, brasileiro era quem torcia pelo selecionado nacional — independente do lugar de nascimento —, por outro, brasileiro era quem trabalhava para o progresso da nação. A vitória do Brasil, dessa forma, devia ser creditada a todos os homens e as mulheres desta cidade e deste país. E São Paulo não poderia mais ser chamada de terra de estrangeiros; o envolvimento dos paulistanos mostrava que cada morador de São Paulo queria construir uma nação verdadeira, além de uma cidade harmoniosa.
As notícias que vinham do Rio de Janeiro mostravam-se tão promissoras quanto as de São Paulo. Também os torcedores cariocas estiveram acompanhando de perto a luta dos atletas nacionais. Através de um relato emocionado, temos:
"Nunca o Rio assistiu a uma tão exaltada demonstração de simpatia, e nunca os brasileiros em geral tiveram ensejo de aquilatar da enorme vantagem do futebol, como elemento de propaganda no estrangeiro. O que a nossa diplomacia mal pode realizar, o que as nossas missões de expansão no resto do mundo mal conseguem fazer, o futebol levou a cabo num abrir e fechar de olhos. A equipe dos nossos patrícios tornou o nome do Brasil bastante conhecido entre os milhões de europeus que acompanharam, lá, o jogo, com o mesmo interesse com que o acompanhamos aqui.
(...)Vivemos minutos de emoção contida. A possibilidade de vitória era admitida por todos. Na Avenida e adjacências, viam-se grupos apinhados em torno de alto-falantes e de automóveis portadores de rádio. Cada 'goal' dos brasileiros era anunciado pelas buzinas dos autos e pelo vozerio da assistência (....)
Ao fim dessa 'torcida', conhecidos os resultados, cabendo a vitória aos brasileiros, mau grado as condições péssimas com que tiveram de enfrentar os poloneses (...) toda a cidade explodiu de alegria.
(...)"
14
De certa maneira, o mesmo entusiasmo que fora verificado no Rio, ocorreu nos mais importantes centros urbanos do país. As ruas foram tomadas pela multidão, interessada em acompanhar a partida do selecionado do Brasil junto com outras pessoas, com o intuito de fazer festa, de comemorar. E a emoção dos brasileiros estava apenas no começo.
E os brasileiros, o que mais poderiam fazer para ajudar o selecionado brasileiros em terras européias? Além de torcerem, realizarem festas, comemorarem ocupando as ruas e avenidas das cidades, algo mais foi feito. A Gazeta resolveu organizar o envio de um telegrama coletivo para os representantes do Brasil na França; e os termos do telegrama não poderiam ser mais condizente com o momento que se vivia:
"Delegação Brasileira Campeonato Mundial — Bordéus — Esplendor vosso primeiro triunfo arrebatou entusiasmos paulistas. Avante, dai-nos mais uma vez vitória, honra para vós, glória Brasil. Recebei através da GAZETA nossas saudações. GAZETA." 15
E parecia que o incentivo, ou incitamento — como os organizadores do telegrama preferiam se expressar —, viera em boa hora. A segunda partida dos brasileiros trouxe novas e fortes emoções aos que acompanharam a partida. Efetivamente, foi uma partida muito mais emocionante, tendo como resultado um empate. Gerava, assim, uma segunda partida, na qual o selecionado do Brasil, venceu. Mais uma vez, as festas tomaram conta das cidades. Mas outras manifestações também ocorreram, agora com caráter oficial. Assim, podemos escutar as palavras do ministro da Educação, Gustavo Capanema:
"O Ministro Gustavo Capanema, que acompanhou o desenrolar do jogo, de sua residência, logo que foi apregoada a vitória dos brasileiros, dirigiu-se ao treinador da equipe nacional o seguinte telegrama:
'Adhemar Pimenta, delegação esportiva do Brasil — Marselha — A vitória de hoje tem um sentido: tudo pelo Brasil. Peço levar aos nossos invencíveis lutadores a minha palavra de entusiasmo e louvores — Gustavo Capanema, ministro da Educação.'"
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Esta seria uma das primeiras manifestações oficiais do governo federal acerca da participação até então vitoriosa dos futebolistas brasileiros; e novamente a idéia de que lutar dentro do campo era trazer glórias para o país.
Já a CBD continuava o seu trabalho de envolver os torcedores com os destinos da seleção, mais do nunca atada aos destinos do Brasil. Sob um título sugestivo, afirmava a nota:
"Bravos Legionários
A CBD patrocinou a iniciativa de ser enviado em telegrama coletivo à embaixada brasileira de futebol.
Cerca de trezentas pessoas firmaram o seguinte despacho:
'Aos bravos legionários de Strasburgo e Bordéus a gratidão de todos os brasileiros.'"
17
O teor bélico do telegrama merece tanto destaque quanto ao fato de mostrar que a vitória merecia o agradecimento de todos os brasileiros, e não mais apenas dos esportistas e dos apaixonados por futebol. Tratava de um fenômeno de 'unidade nacional', forjada pelas circunstâncias e por ações advidas de vários setores da sociedade, a começar pelo apoio oficial das autoridades brasileiras, chegando ao importante papel da imprensa, com destaques ao rádio e aos jornais. As felicitações continuavam, agora pela filha do presidente, Alzira Vargas:
"Confiante na vitória do Campeonato, envio-lhes entusiásticos cumprimentos pela magnífica afirmação esportiva de hoje."18
A presidência da República também se manifestava:
"(...) O Gabinete Civil e Militar do presidente Getúlio Vargas congratula-se com a brilhante vitória dos valorosos e esforçados jogadores patrícios — Luiz Vergara e general Francisco José Pinto."19
Outras autoridades ainda se manifestaram, como o diretor do DIP, Lorival Fontes, com termos muito semelhantes aos dos telegramas citados. E o envolvimento do poder público não se limitou às congratulações, associadas a mostrar como uma nova vitória do selecionado de futebol seria importante para a nação como um todo. Num artigo de jornal, apresentava-se todo o empenho do Departamento de Propaganda do estado da Guanabara, para que os torcedores de Niterói pudessem escutar as transmissões radiofônicas, pois aquele órgão havia colocado inúmeros alto-falantes em vários locais da cidade. E nesse artigo, que objetivava mostrar a ação do governo estadual da Guanabara, apresentava outras ações governamentais em função da Copa da França e afirmava:
"(...) Diante do resultado do final da peleja e conhecida a atuação dos dois artilheiros fluminenses, imediatamente o interventor federal, o comandante Amaral Peixoto, determinou a promoção de Roberto, a autor do gol da vitória, a subchefe da Polícia Especial de Niterói, corporação a qual pertence desde a sua fundação, e, quanto a Leônidas, oportunamente será premiado, como merece pelos seus conterrâneos.
O governo do Estado, que contribuiu com elevada soma para o custeio da viagem do nosso scratch, que licenciou Roberto com todos os vencimentos, dá inteiro apoio às manifestações de simpatia e apreço que os fluminenses pretendem tributar a Leonidas e a Roberto. (...)"
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Nesse contexto de euforia, de descoberta e de encontro da nação, pareciam estar faltando análises e explicações para o que o país estava vivendo. Enfim perguntava-se, por que o sucesso, até então, do futebol brasileiro, contra terríveis adversários? O sucesso do selecionado recebeu uma análise ilustre:
"O professor Gilberto Freire, falando sobre a vitória do scratch brasileiro, em Bordéus, disse o seguinte:
'Creio que uma das condições de vitória dos brasileiros nos encontros europeus, prende-se ao fato de termos tido a coragem de mandar à Europa desta vez um team francamente afro-brasileiro. Tomem os arianistas nota disto.'"
21
Assim, era recorrente a relação que essas várias vozes estabeleciam entre os bons resultados obtidos pela seleção de futebol e a nação como um todo. Tratava-se do sucesso da nação e não apenas do futebol; este se constituía num mero instrumento de afirmação da nacionalidade. E a população brasileira, espalhada por todo o país também expressava a sua alegria. Em pequenas notas na Gazeta, que pretendiam dar a idéia de que cada canto do Brasil, nota-se:
"O desenrolar do jogo Brasil-Tchecolosváquia foi acompanhado pela população dessa capital (Recife) com grande entusiasmo.
Ao meio-dia, o expediente nas repartições públicas foi suspenso e o comércio fechou.
Depois da vitória dos jogadores brasileiros, o povo percorreu as ruas da cidade dando vivas aos jogadores. Falaram vários oradores exaltando o mérito do 'cracks' que, de maneira tão brilhante, classificaram o Brasil na semifinal para a disputa da Taça do Mundo."22
"A vitória dos jogadores brasileiros em Bordéus foi festivamente recebida nesta capital (Belo Horizonte).
Toda a população acompanhou com grande interesse a irradiação da sensacional partida e cada feito dos brasileiros era acolhido com vivo entusiasmo.
Depois da vitória espoucaram milhares de foguetes e numerosos morteiros. O povo organizou um cotejo que percorreu as ruas centrais dando vivas ao Brasil e aos jogadores que tão brilhantemente defenderam as cores sul-americana no campeonato mundial de futebol."23
"Informam de Guaxupé que o povo daquela cidade vai oferecer a Hércules, filho dali, quando do seu regresso da Europa, uma medalha de ouro comemorativa da participação do selecionado brasileiro na disputa do campeonato mundial de futebol."24
"A população (de Fortaleza) acompanhou com grande entusiasmo o desenrolar da partida de futebol entre brasileiros e tchecos.
Ao terminar o jogo o povo prorrompeu em entusiásticos vivas ao Brasil e aos jogadores brasileiros.

Foi improvisada uma grande passeata que se dirigiu até o palácio do governo onde discursou, debaixo de aclamações, o interventor interino, sr. Martin Rodrigues.
Os jornais deram diversas edições dedicando páginas inteiras ao assunto."
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Uma leitura dos jornais deixava claro o que estava acontecendo no Brasil: a população inteira, juntamente com os dirigentes políticos, somando ainda todos os outros setores da sociedade, colaborando com os jogadores do selecionado nacional, que defendiam o país em terras européias. Assim, a nação é que estava disputando a Copa do Mundo.
E mais uma partida difícil pela frente: contra o selecionado italiano. O futebol brasileiro nunca havia chegado tão longe. O jogo contra os italianos foi realizado numa quinta-feira, apenas dois dias após ao árduo e cansativo jogo anterior. Além de outras dificuldades, a dúvida se Leônidas jogaria ou não. No Brasil, os torcedores só ficaram sabendo que o centroavante da seleção não jogaria quando a transmissão teve início.
Já os brasileiros continuavam colaborando, com mais incentivos. Sob o sugestivo título Todas as classes sociais enviam telegramas de incitamento aos brasileiros, o noticiário da Gazeta relacionava parte do inúmeros telegramas que foram mandados para a delegação do Brasil na França. Alguns são muito representativos:
"(...)
— 'Felicitamos valentes compatriotas inquebrantável demonstração esportiva tem dado mundo. Aguardamos confiantes novas vitórias. Saudações. Funcionários Alfândega Santos.'
— 'Auxiliares Mappin Stores saúdam valentes patrícios brilhante vitória mantenham mesma fibra conquista triunfo final.'
— 'Autoridades funcionários e inspetores Delegacia de Ordem Política Social S. Paulo abraçam valorosos compatriotas, contanto todo seu esforço vitória de amanhã.'
— 'Alunos da Politécnica São Paulo confiam na vitória valorosos patrícios frente italianos.'
— 'Israelitas São Paulo saúdam 'cracks' brasileiros. — João Amado'
(...)"
26
Mais do que incentivo, muitas manifestações vindas do Brasil, dirigiam-se aos jogadores enquanto cobrança pelo resultado vitorioso, pois já não se tratava de uma disputa esportiva, mas do nome do país em jogo. E esse tipo de manifestação dos brasileiros tornou-se a mais comum, tanto que:
"Telegrama de Marselha transmitido pela Agência nacional informa que o sr. Castello Branco, chefe da delegação brasileira de futebol, está recebendo milhares de telegramas de todas as cidades do Brasil, a propósito da grande vitória do nosso quadro, obtida anteontem. Acentua o mesmo telegrama que o sr. Castello Branco recebeu à ultima hora um telegrama assinado por mais de 3.000 brasileiros, incentivando os 'cracks' a vencer a peleja de hoje contra a Itália."27
Porém, apesar de toda essa unidade nacional sendo forjada a partir da Copa do Mundo e, como vimos, de todos os elogios que partiram da imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro ao comportamento dos estrangeiros radicados nestas cidades — estrangeiros que torceram tanto pelo Brasil que acabaram sendo chamados de brasileiros —, um pequeno senão ocorreu no Rio Grande do Sul e que dessa maneira foi descrito:
"Porto Alegre, 15 (H) — O interventor federal, coronel Cordeiro de Faria, autorizou aos diretores das repartições públicas a permitirem que os funcionários possam ouvir amanhã a irradiação da partida de futebol entre brasileiros e italianos, que será feita em diversos pontos da cidade. Em algumas repartições os chefes permitiram que fossem instalados aparelhos de rádio. Numa fábrica dirigida por um estrangeiro, os operários pediram permissão para suspender os trabalhos às 2 horas e reencetá-los depois de terminada a pugna. O patrão não aceitou a proposta e os operários resolveram não comparecer ao serviço." 28
Esse patrão, denominado enfaticamente como estrangeiro, não atento ao clima que a nação vivenciada, não permitiu que os seus trabalhadores contribuíssem pela vitória nacional. Assim, os trabalhadores, com a aprovação tácita do autor da nota, feriram a harmonia do capital-trabalho, pois algo maior estava em jogo: os destinos do Brasil.
E finalmente veio o jogo contra a Itália, com uma derrota inesperada, ao menos para os torcedores. Sobre esse jogo, Thomaz Mazzoni, anos depois comentou:
"(...) A verdade, porém, é que o Brasil fez bonito. A má sorte não quis que o XI brasileiro fosse campeão, eis tudo. (...) Aquele dia fatídico quase causou uma...revolução no Brasil. Todo mundo deixou de trabalhar (foi uma quinta-feira), o decorrer do jogo causou intenso nervosismo, indignação depois, devido ao penal, enfim, não foram poucos os incidentes. (...)"29
E se a euforia popular havia tomando conta das cidades, a derrota trouxe momentos de apreensão entre os torcedores. Logo após a partida, a delegação de futebol na França, por sentir-se prejudicada pelo arbitro da partida contra a equipe da Itália, entrou com um pedido junto à FIFA de anulação da partida.
Ao mesmo tempo, enquanto a maioria dos torcedores passaram a esperar uma possível anulação da partida, outros entraram em verdadeiro desespero. Essa notícia vinda de Fortaleza, logo após a partida contra a equipe italiana, mostrava parte desse desespero:
"Em conseqüência do grave nervosismo popular verificaram-se ontem à noite numerosos incidentes pessoais.
Merece ser destacado o caso da jovem Maria de Lourdes, de 22 anos de idade, a qual torcia apaixonadamente e, ao saber da derrota do team brasileiro, tentou suicidar-se ingerindo forte dose de veneno.
Maria de Lourdes encontra-se em estado gravíssimo."
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Essa jovem havia se envolvido de maneira tão forte com os destinos do futebol brasileiro, confundindo-os com os destinos do país — e com os seus também —, que a derrota tornou-se insuportável. Outra torcedora também não suportou a dor:
"No momento em que era transmitido o jogo Brasil x Itália foi solicitado à polícia de Niterói um carro-forte para remover para a sala de alienados da casa de Detenção, Julia Silva, de 18 anos de idade.
Segundo informou o próprio delegado da capital, sr. Raphael Affialo, a infeliz jovem teria sido acometida de um acesso de loucura motivado pela emoção do desenrolar do jogo."
31
As vitórias foram muito comemoradas; a derrota para a Itália foi muito sentida. Inclusive, as circunstâncias do jogo tão polêmico só fez aumentar o sentimento de que a derrota apenas veio a acontecer pela injusta atuação do árbitro.
Mesmo com a derrota, as autoridades públicas brasileiras ainda tentavam capitalizar com os resultados da seleção, como é possível observar nesse telegrama do ministro Capanema à delegação na França:
" (...)'Dr. Castello Branco — Delegação Esportiva Brasileira — Marselha ou Paris — Mando efusivas congratulações aos bravos jogadores brasileiros pela alta demonstração de resistência e pugnacidade agora reveladas em tantas competições. Perdendo hoje para um valoroso adversário, os nossos rapazes não desmerecem da confiança com que temos acompanhado sua atuação. Esta sucessão vertiginosa de pelejas duramente combatidas foi uma afirmação admirável do Brasil, a cujo esporte estão asseguradas muitas e belas glórias futuras. Gustavo Capanema, ministro da Educação.'"32
As palavras de Capanema não deixam dúvidas: aquele estava sendo um importante momento de afirmação da nacionalidade brasileira.
A festa não havia chegado ao seu fim. Depois de vencer a disputa pelo 3º lugar, o retorno do selecionado de futebol era ansiosamente esperado. E para os torcedores brasileiros — tornados tão responsáveis pelos sucessos e pelos fracassos do selecionado —, ainda havia o que fazer por aquela delegação, por aqueles jogadores que foram capazes de mostrar aos europeus o valor do povo brasileiro. Era preciso receber em terras brasileiras os heróis da lutas travadas nos campos de futebol da França. A chegada da delegação de futebol foi assim descrita por Mazzoni:
"Poucas vezes se tem visto uma manifestação popular como a do Rio, por ocasião da chegada dos 'azes' brasileiros que disputaram a 'Taça do Mundo' na França.
Uma verdadeira apoteose. Na capital do país essa foi a maior manifestação esportiva até agora. Em São Paulo lembramos a da chegada dos campeões sul-americanos, em 1919, e a chegada dos campeões do Paulistano da Europa, em 1925, em que toda a cidade vibrou. O III Campeonato Mundial, como é sabido, empolgou todo o Brasil de Norte a Sul e era natural que a recepção aos 'azes' no seu desembarque no Rio deveria constituir um espetáculo inesquecível. Todos os nossos 'azes' foram homenageados como mereciam, pois todos jogaram e o mérito do 3º lugar foi igual.
O povo, no entanto, chegou ao máximo da vibração com Leônidas, sem dúvida alguma a figura nº 1 do campeonato. Foi um fenômeno, o 'Diamante Negro' revive agora a popularidade de 'El Tigre', o ídolo do Brasil após o campeonato sul-americano de 1919. Depois de 20 anos surgiu, pois, outra figura que atingiu os píncaros da popularidade, um 'herói nacional'".
33
A participação popular continuava; era a hora de receber os seus heróis, os que levaram o nome do Brasil para os pontos mais altos, os que propiciaram momentos de muita alegria e emoção a cada brasileiro. Esses jogadores foram recebido como mereciam, e como a maior parte da imprensa gostaria que fossem recebidos: como os novos heróis nacional. E os periódicos apresentavam os detalhes da recepção do selecionado de futebol:
"(...) Cerca das 15 horas e meia o 'Almanzora' em que viajaram os esportistas brasileiros começou a manobrar para a atracação. Na praça Mauá via-se a grande multidão que entusiasticamente aclamava os jogadores. A polícia a posto estabeleceu cordões de isolamento, afim de facilitar o desembarque.
No mar o entusiasmo não era menor, havendo numerosas lanchas em delegações que faziam constantes aclamações. Vários aviões foram ao encontro do transatlântico inglês. Poucos momentos antes do 'Almanzora' atracar os jogadores exceto Leônidas, desembarcaram em lanchas postas à sua disposição pela Confederação Brasileira de Desportos...
A bordo o centroavante da seleção brasileira, interrogado por que não desembarcava juntamente com seus companheiros disse: 'Em Pernambuco e na Bahia também havia cordões de isolamento e quase fui vitimado pela multidão. Na cidade de Salvador levaram-se da Cidade baixa para a Cidade Alta, a minha 'via crucis' foi tal que até perdi um sapato'.
Leônidas chamando um amigo entregou-lhe o seu relógio e o alfinete de gravata, receoso de perdê-los dizendo: 'Aqui também naturalmente haverá cordão de isolamento, mas não sei o que acontecerá comigo (...)'
(...)
(...) na avenida Rio Branco apresentava-se massa compacta de povo ao lado em que se realizava o desfile, sendo muito difícil a marcha dos veículos. Muitas fachadas estavam ornamentadas. Os jogadores eram muito aclamados, mas todas as atenções voltavam-se para Leônidas. Em vista do extraordinário entusiasmo do público foi tomada a deliberação de fazer Leônidas atravessar a avenida Rio Branco dentro de um carro de transporte de praças do Corpo de Fuzileiros. E assim aconteceu. Aquele jogador passou diante da multidão guardado por praças do Corpo de Fuzileiros, do Exército, da Marinha e da Polícia. Leônidas quase não era visível; mesmo assim foi grande a manifestação feita à destacada figura do Campeonato Mundial. O povo avançava rumo ao carro, cercando-o por todos os lados e aclamando Leônidas. A polícia tinha de empregar meios enérgicos para romper a massa, mas mesmo assim o desfile só conseguia movimentar-se com lentidão (...)"
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As recepções aos 'heróis nacionais' começaram bem longe do Brasil; ainda em Cabo Verde, ilha no Atlântico, a delegação brasileira já recebia as primeiras homenagens fora de terras francesas. E se a recepção popular do Rio de Janeiro foi a maior, as realizadas em Pernambuco e na Bahia também foram monumentais.
Enfim, a participação brasileira na Copa de 38, em função de todo clima que se criou, mostrou que o futebol já havia adquirido um outro papel fundamental: articulador da unidade nacional. Esse poder do futebol foi muito bem utilizado pelo poder público, bastando que se olhe todo o empenho demostrado pelas mais diferentes autoridades brasileiras. Porém, também coube à imprensa uma função vital; os periódicos vivenciaram plenamente o clima de Copa do Mundo. Mais do que um meio de informação ou análise, os jornais optaram por animar o torcedor ou mesmo iludido com um otimismo exagerado. O rádio, como grande novidade numa transmissão direta da Europa, também mostrou-se fundamental. Não podemos esquecer do cinema, com suas reportagens.
Esse momento de Copa contribuiu, de forma decisiva, para fazer com que o futebol aumentasse os seus vínculos com a sociedade brasileira. Essa competição, além de aumentar a paixão pelo futebol, foi capaz de suscitar inúmeras questões acerca da própria concepção de nação. Pessoas das mais diferentes regiões do país mostraram-se atentas e solidárias com o destino do futebol do Brasil. Os relatos sobre torcedores apaixonados, os mais estranhos possíveis, demonstra que nos campos de futebol da França disputou-se muito mais do que um torneio de futebol. O destino do Brasil estava sendo decidido, entre uma disputa de bola e outra.
Simbolicamente reforçou-se a idéia de que não era uma mera disputa esportiva, mas uma provação com o intuito de mostrar a força do Brasil, da seu povo, a partir do futebol. De diversas maneiras, cada brasileiro foi responsabilizado pelo desempenho dos atletas do Brasil.
Esse momento de reafirmação da nacionalidade foi um sucesso, apesar da derrota para a seleção italiana. Isso permitiu que se reacendesse velhas questões acerca do potencial do Brasil enquanto uma verdadeira nação, forte o suficiente para não ser prejudicada no campo esportivo. Entre cronistas esportivos, como Thomaz Mazzoni, surgiu a análise de que o time do Brasil havia sido várias vezes prejudicado no torneio, pois tratava-se de uma país sem qualquer prestígio internacional. Mais uma vez, a necessidade da construção de uma nação. Porém, o primeiro passo havia sido dado, já que o futebol estivera na Europa com sucesso, e a nação parou para acompanhar os seus novos heróis.



Notas
1 . Thomaz Mazzoni, como cronista esportivo, foi convidado e fez parte da delegação brasileira; junto com ele foram outros dois jornalistas esportivos e um locutor, Gagliano Neto.
2 . Pode-se ir a Paris por 500 réis, A Gazeta, São Paulo, 06/04/1938, p. 9.
3 . Para que o Brasil compareça condignamente à "Taça do Mundo", A Gazeta, São Paulo, 26/03/1938, p. 11.
4 . idem, ibidem.
5 . A Representação Brasileira no Campeonato Mundial de Futebol, O Estado de S. Paulo, São Paulo, 17/04/1938, p. 15.
6 . idem, ibidem.
7 . idem, ibidem.
8 . Cf. A "Taça do Mundo" em Paris, A Gazeta, SãoPaulo, 16/04/1938, p. 9.
9 . O Embaixador Souza Dantas tornou-se o "fan" nº 1 dos brasileiros, A Gazeta, São Paulo, 28/05/1938, p. 12.
10 . Todas as atenções voltadas para a estréia dos brasileiros na "Taça do Mundo", A Gazeta, São Paulo, 04/06/1938, p. 11.
11 . Torcendo pela vitória dos brasileiros - matou-o a emoção!, Correio da Manhã, Rio, 07/06/1938, p. 20.
12 . Estrangeiros, mas brasileiros, A Gazeta, São Paulo, 07/06/1938, p. 10.
13 . idem, ibidem,
14 . O jogo Brasil-Polônia e a confraternização das colônias, A Gazeta, São Paulo, 08/06/1938, p. 1.
15 . Encorajemos os nossos "azes" à vitória!, A Gazeta, São Paulo, 10/06/1938, p. 10.
16 . A palavra de entusiasmo do Ministro da Educação, Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 1.
17 . Bravos Legionários, Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 1.
18 . Da Srta. Alzira Vargas, Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 1.
19 . Da Presidência da República, Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 1.
20 . Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 16.
21 . Um team afro brasileiro..., Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 6.
22 . O entusiasmo em Recife..., A Gazeta, São Paulo, 15/06/1938, p. 9.
23 . ....E em Belo Horizonte, A Gazeta, São Paulo, 15/06/1938, p. 9.
24 . Uma medalha de ouro a Hércules, oferta da população de Guaxupé, A Gazeta, São Paulo, 15/06/1938, p. 9.
25 . Passeata em Fortaleza, A Gazeta, São Paulo, 15/06/1938, p. 9.
26 . Todas as classes sociais enviam telegramas de incitamento aos brasileiros, A Gazeta, São Paulo, 16/06/1938, p. 9.
27 . Empolga o confronto Brasil x Itália, A Gazeta, São Paulo, 16/06/1938, p. 10.
28 . Empolga o confronto Brasil x Itália, A Gazeta, São Paulo,16/06/1938, p. 10.
29 . Thomaz MAZZONI, História do Futebol no Brasil, São Paulo, Edições Leia, 1950, p. 274.
30 . Tentou suicidar-se ao saber da derrota dos brasileiros, Correio da Manhã, Rio, 18/06/1938, p. 14.
31 . Enlouqueceu!, A Gazeta, São Paulo, 17/06/1938, p. 7.
32 . O ministro Capanema telegrafou à delegação, A Gazeta, SãoPaulo, 17/06/1938, p. 7.
33 . Thomaz MAZZONI, O Brasil na Taça do Mundo. 3ª ed., São Paulo, Edições e Publicações Brasil, p. 126.
34 . A recepção dos futebolistas brasileiros no Rio, O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12/07/1938, p. 5.