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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Estado de Minas

Seca expõe degradação nos rios que cortam Minas Gerais

Estiagem que reduz nível de rios e prejudica o abastecimento chama a atenção para décadas de destruição gerada pelo pouco investimento em saneamento e preservação


O esgoto a céu aberto, os montes de entulhos e os inúmeros barracos de ocupações irregulares mudaram a paisagem e comprometeram a qualidade da água do Córrego do Onça, que corta a Região Nordeste de Belo Horizonte. Este triste cenário se repete em grande parte dos rios de Minas, que sofrem ainda com a escassez de chuva e a falta de saneamento básico e de preservação. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente mostram que 57% da população urbana de Minas não contava com o serviço de tratamento de esgoto em 2013, último estudo disponível. Na região metropolitana, o índice é menor (17,5%), enquanto em Belo Horizonte o índice fica em 13%, segundo a Copasa.

A redução de recursos para preservar mananciais também impressiona. Enquanto em 2009 os investimentos chegaram ao ápice de R$ 67,7 milhões, se comparada a última década, o orçamento caiu progressivamente nos anos seguintes, até atingir R$ 7,1 milhões no ano passado. A atual gestão da Secretaria de Estado de Meio Ambiente informou que o governo prepara um diagnóstico geral da situação na pasta para se posicionar posteriormente. 

Longe dos gabinetes dos gestores dos recursos hídricos, os rios de Minas sofrem cada vez mais com as falta de ações preventivas. Coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Barreira Martinez afirma que, se há duas décadas tivesse sido implantado um programa de tratamento de esgoto generalizado, a atual situação dos rios  seria muito mais confortável. “Escassez de água não é só questão de chuva. Resulta da poluição e da contaminação dos rios, do assoreamento, da falta de práticas de reuso, entre outros problemas. Somos um estado suficientemente rico para possibilitar qualidade ambiental à população, mas não fazemos isso por entraves nas políticas públicas”, avalia.

CRESCIMENTO Enquanto faltam investimentos para preservação, outro agravante para a degradação dos mananciais ocorreu ao longo dos anos. “A população cresceu em todas as áreas do estado, a economia se multiplicou, as pessoas se mudaram do campo para a cidade e a demanda por água aumentou. As pessoas também passaram a poluir cada vez mais os cursos d’água, provocando a morte de muitos rios em Minas”, afirma o coordenador do Projeto Manuelzão e presidente do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, Marcus Polignano.

O especialista alerta que a escassez de chuva poderia ser amenizada se os rios estivessem mais bem preservados. E recomenda: “É preciso pensar além de uma política de contingência ou de construção de barragens, investir no tratamento de esgoto, na conservação das nascentes, das matas ciliares, na preservação das margens e na reavaliação das outorgas para captação de água”.

Segundo ele, é essa lógica de fortalecimento dos recursos hídricos que deve ser trabalhada daqui para a frente. “A tendência é uma estiagem ainda pior. Vamos entrar numa situação de sacrifício. Todo o sistema de abastecimento do estado já está comprometido desde o ano passado”, afirma. Polignano cita o exemplo da Bacia do Rio São Francisco: “A represa de Três Marias já deveria estar enchendo. Mas está acontecendo o contrário. Chegou a parar de gerar energia por causa da seca. Se continuar a não chover, não vai haver água para abastecer cidades como Pirapora .

Na Bacia do Rio das Velhas, o Córrego do Onça está abaixo do nível normal e a qualidade da água, apesar dos avanços, é ruim. Uma das explicações vem do depoimento da dona de casa Maria Vanderci dos Santos, de 50 anos, que vive em um barraco às margens do curso d’água: “Tem gente que joga lixo e entulho. Vim morar aqui porque não podia pagar aluguel, mas sei que isso prejudica o rio”.


Valquiria Lopes

Fonte: Estado de Minas