AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

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terça-feira, 18 de maio de 2010

Crônica

DIREITO, MORAL, ÉTICA, OU, ETIQUETA?
Paulo Roberto Guimarães Moreira *
Você está pensando em matricular seu filho num curso superior particular? Então diga a ele que respeitar o Professor faz parte do aprendizado. Melhor, explique porque ele deve respeitar o Professor e dê-lhe o exemplo.
De 2000 a 2003 dei aulas no UniCEUB de Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I e II. Eu tive uma formação militar, em apenas dois anos, mas intensa. Depois, estudei na PUC-Rio, nove anos, cursos técnicos, superior e mestrado. Fui dar aulas. No início na Católica de Brasília fui duas vezes Patrono, duas vezes Paraninfo e homenageado, em quase todas as turmas de Ciências Econômicas, dando aulas, basicamente, de História do Pensamento Econômico. Dei aulas ainda na UnB – Universidade de Brasília, UNEB – União Educacional de Brasília, Coordenei o Curso de Filosofia do IESCO – Instituto de Estudos Superiores do Centro-Oeste.
Desde a Católica, passando pela UNEB e UniCEUB comecei a ter problemas de reclamação de alunos e com pressão de coordenadores, ameaça de demissão, coisas do gênero. Até que demitido em 2007, não voltei mais a dar aulas.
Resolvi a voltar a estudar. Fiz o curso de Pós-Graduação preparatório para concurso: “Gestão Estratégica das Organizações Públicas” no VESTICON – Projeção à tarde e agora curso, também, à tarde, Direito no UniCEUB.
Então, ficou claro, porque passei por todos aqueles problemas. O professor, com raras exceções, é uma espécie de operário, escravo, que fica ali tentando dar aulas, enquanto, numa turma de 60 alunos, 30 adolescentes gritam, brincam, desesperadamente. Tipo, jogando papelzinho um no outro. Num total desrespeito ao Professor. Vá um desses professores fazer o que eu fazia, colocar a turma em U, para que todos participem e através de conceitos positivos e negativos, manter a sala em silêncio?! Alunos saiam em grupo para reclamarem com o Coordenador. Vejo meus colegas serem humilhados, porque nada podem fazer. Fico mais triste ainda, quando vejo uma das alunas mais inteligentes, de nossa turma, ficar irada quando um Professor aumenta a voz. Seus colegas podem colocar a sala a baixo, mas o Professor, não, tem que fazer o milagre de conseguir dar aulas com aquele tumulto. Ela é inteligente racionalmente, mas falta-lhe inteligência emocional, para perceber a necessidade do respeito aqueles que estão ali nos ensinando. Vejo outros professores, incompetentes, que não sabem a matéria ou não querem dar aulas se aproveitando da situação. E nesse pacto de mediocridade o caro ensino superior para quem quer estudar fica difícil. Tomei uma decisão. Vou me transferir para o turno da noite, onde os adultos pagam suas aulas com o seu trabalho e por isso devem levar mais a sério essa importante tarefa que é estudar.
Mas, hoje, para mim está claro. Ser Professor é uma profissão de risco. Estive na Suíça. Lá um Professor do ensino médio está na mais alta faixa salarial. Não tem mais nada a aspirar. Aqui, dizemos que somos Professor, quase com vergonha. Mas o que é pior para mim, ou melhor, sei lá: essa é a minha vocação, esse é o meu desafio.
Fico me perguntando se eu fosse dono de um Centro de Ensino como eu faria? Talvez fosse obrigado pelas leis de mercado a agir da mesma forma que agem os verdadeiros donos de Faculdades. Mas os alunos têm direito a se comportarem assim? É ético? Essa é a nossa Moral hoje? Sabemos que etiqueta é uma ética pequena. Como alunos e professores devem manter pelo menos a etiqueta? Ou será que pelas leis de mercado temos que fazer todas as vontades do consumidor, mesmo quando ele nos paga para ser educado? E finalmente, o que os donos de faculdade ganham com seus Professores humilhados dessa forma e com outros tirando proveito da situação?

* Paulo Roberto Guimarães Moreira foi Professor universitário 28 anos e hoje é aluno de Direito.

Brasília, 16 de maio de 2010