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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PRONUNCIAMENTO NO 
MEMORIAL DA INCLUSÃO
Paulo Roberto Guimarães Moreira

Que maravilha! Que exemplo de amor! Abandonamos nossa egoística vida privada e nos lançamos na vida pública. Entramos em contato, nós todos, de todas as formas, viajamos. Ficamos hospedados, muitas vezes, nas casas uns dos outros. Não apenas pela nossa, eventual, falta de recurso, mas, pelo aconchego, pelo amor fraterno, pela aceitação de nossas limitações e pela grandeza da perfeição de nossas almas, raios de luz da LUZ única. Fui acolhido pelo Messias Tavares no seu lar tão fraterno! Confesso de coração que todos vocês me ajudaram, todos, sem exceção, às vezes pelo mestre da crítica, por toda forma de amor. Não somos deuses, somos humanos, nosso amor quase sempre é a caricatura do amor divino, mas ainda assim é amor, mesmo que deficiente. Porque deficiência é a poda que nos faz crescer. Peço que me permitam escolher um símbolo, que é meu. Não quero, absolutamente, diminuir ninguém. Apenas confessar minha inspiração. Xyco Theóphilo foi uma seiva que nutriu e nutre meu trabalho. Sem ele, nosso trabalho no Ministério da Cultura seria menor. Ele foi minha âncora, meu estímulo maior. Nada o limita: é um grande guerreiro. Meu maior interlocutor no nosso movimento.

Um dançarino tetraplégico americano, que corre o mundo dançando, me disse que vida é movimento, VIDA É MOVIMENTO! Eu disse ao Messias que existia vida fora do nosso movimento. Peço-lhe perdão, não existe. Existe sobrevivência ao preconceito. Eu saí do movimento, mas agora estou voltando. Estou de novo atrás de dignidade. Mas, só existe vida mesmo no amor. E esse evento é uma prova disso. O amor é a única linguagem que comunica de verdade, que estabelece a união, que prospera... Somos irmãos, uma fraternidade. Todos nós do planeta somos essencialmente únicos e particular e singularmente diferentes. Só existe respeito quando se respeita todos esses níveis.

Nosso movimento é apartidário. Não somos almas partidas. Esse encontro, também, é um exemplo disso. Nosso movimento é apátrida, nossa pátria é esse planeta: esse pequeno ponto azul no espaço. Portanto sugiro, humildemente, que São Paulo, que é o primeiro mundo, dentro do primeiro mundo, sedie o MMI, Memorial Mundial da Inclusão. Não é o G20 o primeiro mundo? Nós estamos ajudando a Europa financeiramente, os EUA moralmente, e o mundo tecnológica, científica e culturalmente, vide a EMBRAPA, a Petrobrás com sua vanguarda na perfuração marítima, na música e no futebol: “O sertão vai virar mar e o mar virar sertão” *. Rosângela criará uma sigla em inglês que represente essa sigla sugerida, se aceita, de forma a ser adaptada para a comunidade internacional. Nosso movimento não é das pessoas com deficiência, por que todas o são, nosso movimento é um movimento de almas que estão precisando se comunicar e para isso há que haver INCLUSÃO. Lembram do filme AVATAR? Cada um de nós é um AVATAR. Um guerreiro, que abandona suas limitações e se transforma no paladino, ou seja, um homem que defende com ardor as grandes causas. E de que forma? Estabelecendo conexões. Conexões ligadas a um Ser maior. Nutrindo-se delas. Entrando em sintonia com um viver holístico, onde tudo está ligado a tudo. Assim, não nos sentimos sozinhos. Porque deficiência é o isolamento. E a inclusão é a união de todos. E quando todos estão unidos: um ajudando o outro, todos, sem exceção, estamos no paraíso. E o paraíso é divino. Ainda não chegamos lá, mas, quando a semente que Deus fez com que plantássemos nos desabrochou, nossa história, e influência, contaminou positivamente a todos.

Quero encerrar com o final de um pronunciamento, que fiz na fundação do Instituto Aleijadinho, em Congonhas do Campo:

Hegel dizia que não podemos ser felizes cercados de infelicidade. Portanto, nossa paz e liberdade dependem de nossa luta conjunta.

Construiremos esta obra com as próprias mãos ou com a genialidade de quem, com as ferramentas amarradas ao corpo, faz a pedra ter a sutileza das dobras de um manto.

Ser livre, no entanto, não é apenas um imperativo das nações. É um direito universal, das classes, dos grupos e dos indivíduos. O homem cultural, ao contrário do homem natural, é aquele que constrói a si próprio, pelo respeito ao que se possa ter de igual e de diferente.

Ser livre é poder esculpir no vento as linhas harmônicas e desarmônicas de nossa existência, que dança a vida. Ainda que esta dança seja ao som do silêncio, mesmo que se dance sobre rodas, que não se veja os passos, que se equilibre sem os braços.

O que é belo apenas o é, sem mais nem menos, sem vanglória nem pesar, porque, como diz Caetano, o homem foi feito para brilhar...

Gracias a la vida!

Brasília, 15 de novembro de 2011 (21 h 46 m)

Lido sobre o som do Bolero de Ravel - e no final, "Gracias a la vida" de Mercedes Sosa, no dia 19 de novembro.

Paulo Roberto Guimarães Moreira

* (Atribuída a Antônio Conselheiro e, recentemente reproduzida por um jornalista do Correio Braziliense)