AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU
AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Acessibilidade e inclusão social



3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência em Brasília
2ª Parte


Paulo Roberto Guimarães Moreira *


O movimento das pessoas com deficiência me levou à alegria e à realização, a vida normal à depressão, a volta ao movimento, aliado a uma vida espiritual séria e profunda estão me levando à felicidade.

“Uma aventura é um problema visto de forma positiva e um problema é uma aventura vista de forma negativa”. INSIGHT IV (Santiago do Chile – 2007).

Um tiro na mosca desse evento foi o tema central. A palestra magna foi: “Um olhar através da Convenção sobre os Direitos de pessoa com Deficiência da ONU: novas perspectivas e desafios”. A palestrante foi Maria do Rosário Nunes – Ministra Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Ela na palestra disse que esse tema, que lhe conferiram, foi um grande desafio, porque ela não conhecia o assunto na sua extensão e profundidade. Digo aos leitores: infelizmente posso dizer que podemos contar nos dedos das duas mãos quem conhece esse assunto no Brasil, inclusive, no meio jurídico e político.

Não pensem que meus artigos são chapa branca porque para mim esse assunto é suprapartidário. Quando fui à São Paulo ser homenageado como um dos 30 integrantes do movimento das pessoas com deficiência, desde o ano internacional das pessoas com deficiência, que comemorava 30 anos, no ano passado, também fiquei maravilhado com o trabalho de Dra. Linamara Rizzo Battistella, Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência-Governo do Estado de São Paulo. Portanto, Linamara é do PSDB e o evento objeto desse artigo do PT. Igualmente admiro o trabalho e o envolvimento do Deputado Federal Romário, que é do PSB. Bem como, sou obrigado a reconhecer o importante trabalho, nacional e internacional no governo Sarney, do PMDB, feito pelo Ministério da Cultura e na Constituinte de 2008, ambos, modéstia à parte. E critico quando os governos são omissos e até destrutivos nessa área.

Eu sou de uma época em que as pessoas escondiam a deficiência, como o fez Roosevelt e o faz Roberto Carlos. Hoje, só por causa das vagas especiais e das cotas em concurso público tem muita gente que finge ser pessoa com deficiência. A sociedade brasileira que aguarde, pois ficará perplexa. Ricardo Tadeu Marques, Desembargador cego do Paraná disse na conferência, em pauta, que o segmento das pessoas com deficiência é o mais poderoso da nossa sociedade. Isto, teoricamente, como diz a Constituição Federal, baseado na emenda constitucional (Decreto Legislativo 186 de 2008) que foi a ratificação da Convenção Internacional da ONU, pelos direitos das Pessoas com Deficiência de 2006. A questão difícil é colocar isso em prática, porque cultural e praticamente o que ocorre é o inverso: é o segmento mais fraco em termos de poder.

O evento foi portentoso. Agora, com tempo, vejo a riqueza do material ofertado: 1- uma linda mochila preta que será uma excelente bolsa para escola ou para qualquer outra bolsa de transporte; 2- Uma revistinha em quadrinhos da “Turma da Mônica” sobre Acessibilidade, do Maurício de Sousa; 3- Uma revista intitulada: “Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência em Literatura de Cordel”; 4- “Projetos Novos Rumos – Guia Muito Especial”, um guia de acessibilidade para todo o Brasil, para que as pessoas com deficiências auditivas, físicas e visuais possam fazer turismo nesse país; 5- Um livro intitulado: “Programa Nacional de DIREITOS HUMANOS”; 6- “Avanços das Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência – Uma análise a partir das Conferências Nacionais”; “Cartilha orientadora para criação e funcionamento dos conselhos de direitos da pessoa com deficiência”; 7- “Caderno de propostas” que norteou o documento da Conferência que servirá de guia para o CONADE (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência) e demais instituições e pessoas físicas interessadas a exigirem seus direitos. Bem como aos próprios governos em todas as esferas para elaborarem suas políticas, programas, projeto, leis, etc; 8- “Manual do Participante” com o roteiro das atividades: painéis, composição do CONADE, Comissão Coordenadora do Evento, representantes da sociedade civil, mapas do local do evento; 9- “Para Todos – O movimento político das pessoas com deficiência”, incrível história do nosso movimento; “Viver sem Limites – Plano nacional da pessoa com deficiência”; 10) “I Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos de Pessoas com Deficiência”; 11) “Pessoas com Deficiência: Legislação Federal”; “Metodologia da Organização das Nações Unidas para os Indicadores de Direitos Humanos”, entre outras coisas que não tomei conhecimento e entre materiais de militância, abaixo-assinados e demais ações políticas.

Foi muito prazeroso ver mulheres lindas independente de serem com deficiência ou não: como Marinalva de Almeida, amputada de São Paulo; Carolina Vieira, cantora, paraplégica, uma linda catarinense com baixa visão de Blumenau, que não sei o nome e muitas outras mulheres normais, igualmente lindas entusiasmadas com a Conferência e com seu trabalho lá. O clima era de festa e de grande bem estar.

Há casais que se separam quando um deles fica com uma deficiência outros porque um filho nasce deficiente. Sei há muito tempo que nesses casos em cerca de 50% os laços matrimoniais se fortalecem e 50% se rompem. É um excelente teste para ver se a união é baseada num amor verdadeiro. Porém, é muito importante se saber que problemas como esse, tão fortes, só podem ser resolvidos coletivamente. Aí sim esses problemas viram aventura, se não a aventura vira problema.

Eu gostaria muito que estivessem comigo em eventos, como esse, todas as pessoas que ainda não perceberam que a deficiência, muito mais que um problema é uma excelente oportunidade de exercermos a superação, mas tem que ser em grupo, num movimento. Pois, como disse Karl Marx, felicidade é luta.

Brasília, 12/12/12


* Paulo Roberto Guimarães Moreira é cadeirante e militante desse movimento há 42 anos, com vasta experiência nacional e internacional nessa área.