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terça-feira, 31 de agosto de 2010

FEMINISMO E RACISMO
Paulo Roberto Guimarães Moreira *
Nada me acontece sem que eu crie, provoque ou permita. (Terapia Insight)

Fui colega de uma Professora dando aulas de 2000 a 2003, aqui no UniCEUB, de Ética, Cidadania e Realidade Brasileira I e II. Já trocamos idéias algumas vezes e nossa relação é cordial e, eu arriscaria dizer, de mútua admiração. Hoje sou seu aluno na disciplina: História e Cultura Jurídica Brasileira. Desde a primeira aula ela disse que seu curso teria um corte de gênero e racial. Minha intuição não viu isso com bons olhos. A própria imagem dela já mostra alguma coisa xiita. Minha intuição não falhou. Na última aula, ontem, instalou-se um péssimo clima na sala de aula, onde, os homens se viram acuados e sendo xingados de machistas. Como se o machismo fosse uma característica apenas masculina. Eu tenho quase certeza, que eles ficaram calados, como acontece na maioria das vezes, por culpa, mas, principalmente, por falta de argumentos. Eu posso ter até sentimento de culpa, mas não me faltam argumentos de defesa e ataque. Sou paraplégico há 40 anos e militante do movimento das pessoas com deficiência. Fui Assessor dos Ministros Celso Furtado e Aloísio Pimenta para esse assunto, e trabalhei nacional e internacionalmente, com isso. Tenho um opúsculo sobre o assunto: Cultura, Diferença e Deficiência, bem como um livro no prelo: Escalando a Cidadania: Autobiografia de uma luta por uma vida digna. Portanto, não vou, nem posso ficar calado num momento desses. É curioso ouvir sobre segregação e preconceito depois da turma ter se dividido em 12 grupos de cinco alunos. Tanto, na horizontal como na vertical, não fui convidado para participar. Tive que arrumar um grupo, às pressas, e de alunos que ficam distantes de mim. A maioria dos alunos do UniCEUB não me enxerga e quem não me enxerga não me cumprimenta. Sou especialista em preconceitos na teoria e na prática. Não vou engolir, a seco, um discurso sectário como aconteceu na sala de aula. Muita gente que não me vê lá e que não me comprimenta estava lá balançando a bandeira de vítima de preconceito. Inaceitável. De mais a mais, não estou no UniCEUB, pagando uma fortuna, para ser hostilizado calado. A Professora, a certa altura, disse que apesar de termos sidos colegas, ia cassar minha palavra, porque ela não tolerava mais discursos machistas e que eu precisava rever meus conceitos. Seria melhor para todos, que a Professora reveja os conceitos dela, para reivindicar que eu reveja os meus. Sem amor essas coisas não se resolvem. Gandhi e Mandela estavam com razão: o respeito mútuo tem que vir sem retaliação. Assistam ao filme Invictus (sobre parte da vida de Mandela). Não vou permitir ser prejudicado por uma Professora que ao fazer proselitismo de gênero e raça usa um estilo autoritário de retaliação. Estou lendo e fichando um livro para a disciplina de Direito Penal, do Professor Marlon Barreto, recomendado a ele pela mesma professora: A ordem do castigo no Brasil. Que bom que neste Centro Universitário possamos entrar em contato com toda a injustiça que a História do Brasil carrega. Injustiça essa extensiva aos diferentes como, por exemplo, as pessoas com deficiência, afro-descendentes, populações indígenas, mulheres, presidiários, crianças, pobres, entre outros. Mas, sem revanchismos, com responsabilidades mútuas, e, sobretudo, com amor. Além do mais, espero de um Professor que tenha autoridade - e para tanto, ele tem que ter competência  - não a tendo, será autoritário. E é o que está acontecendo. Repetindo, já no final da discussão em sala, ela disse: - Vou cassar sua palavra, não suporto mais posturas machistas assim, você precisa rever seus conceitos! 
Não, precisamos discutir, academicamente, questões intrincadas como essa. Com menos calor e mais luz. Sem esse excesso de emoção e mais moderação. Eu disse também, que Pitágoras estava com a razão: Só aos deuses é dado o acesso à verdade, aos homens, quando muito, lhes é dada a Filosofia (amor à sabedoria). Portanto, quem não tem acesso à verdade, não sabe o que é o conceito e só tem preconceito. Admitir isso nos dá uma humildade necessária. Porque como diz a Ede, minha psicóloga e guru: humildade sempre, humilhação nunca! Estou tomando providências necessárias para que eu possa levar a bom termo essa disciplina. É por essas e outras que a idéia de estudar Direito, para mim, se tornou imperativa.
Brasília, 25 a 27 de agosto de 2010
* Paulo Roberto Guimarães Moreira escreve essa crônica na qualidade Mestre em Filosofia pela PUC – Rio, militante do movimento de pessoas com deficiência, profissional da área e aluno do Curso de Graduação em Direito – UniCEUB – Brasília – DF.