Escolas fazem malabarismos com a grana curta para superar dificuldades da Série A
Montagem/Carlyle Jr./R7Mesmo longe do prestígio e dos fartos recursos do Especial, Império Serrano, Estácio de Sá e Viradouro apostam em luxo e efeitos especiais |
O sonho de brilhar no Grupo Especial faz parte dos planos das 19 escolas da nova Série A. No entanto, três agremiações convivem com a obrigação de ter que voltar à elite do Carnaval carioca por conta de um passado de vitórias entre as grandes. Império Serrano, Estácio de Sá e Unidos do Viradouro, que, juntas, arrancaram gritos de "é campeã" por 11 vezes na Sapucaí, travam uma batalha para deixar de vez a segunda divisão do samba.
As ex-campeãs fazem malabarismos com a grana curta para superar as dificuldades típicas de "escolas pequenas". Mesmo longe do prestígio e dos fartos recursos do Grupo Especial, as antigas potências apostam em luxo e efeitos especiais. Além disso, as escolas reforçam os seus barracões com profissionais que sabem fazer bonito no Carnaval.
Com nove títulos no currículo, o Império Serrano vive o drama do “sobe e desce” desde a década de 1990. Sem abrir mão da tradição, a escola da Serrinha tenta se reinventar. O carnavalesco Mauro Quintaes, que acumula passagens pela Mangueira, Salgueiro e Mocidade, ganhou a missão de modernizar a coroa verde e branco.
— O Império Serrano vinha em uma decadência nos últimos anos. A ideia do Átila [Gomes, presidente da escola] é criar um novo Império Serrano. Quando entrei no ano passado, ele disse que teríamos que modernizar a escola. Fomos atrás de profissionais de ponta e de novos equipamentos.
O carnavalesco chegou a “importar” talentos de Parintins, cidade amazonense da Festa do Boi, para integrar o time do Império Serrano. Os artistas e técnicos ajudam na pintura e no acabamento dos carros alegóricos, que, no desfile deste ano, contarão a história da cidade mineira de Caxambu.
— Trabalho com a certeza de que tudo vai dar certo na Sapucaí. Eu gosto de entrar na avenida com a certeza de sermos campeões, por pior que seja a escola, o que não é o caso do Império Serrano.
Estácio usa materiais mais baratos
Com o espremido orçamento de R$ 1,2 milhão, a Estácio de Sá também reúne forças para voltar a ocupar uma vaga no Grupo Especial, onde desfilou pela última vez em 2007. O carnavalesco Jack Vasconcelos, que foi responsável pelo retorno da União da Ilha à elite do samba, recorre a materiais mais baratos para as alegorias e fantasias.
— Eu uso um tipo de plástico e espuma, por exemplo, que são mais baratos. Mas não tiram o brilho da escola na avenida. Na verdade, os materiais até ajudam porque deixam as fantasias mais leves e facilitam a evolução na Sapucaí.
Jack só tinha 15 anos quando a vermelho e branco arrematou o único de título de campeã, em 1992, com o enredo sobre a Semana de Arte Moderna. Herdeira da Deixa Falar, a primeira escola de samba do País, a Estácio de Sá coleciona bons Carnavais na avenida.
Ao som do refrão “que ti ti ti é esse que vem da Sapucaí”, a agremiação cantou a história do sapoti que virou tutti-frutti, em 1987. Três anos depois, a escola abusou do vermelho e branco na homenagem ao centenário do Flamengo. Os antigos desfiles da escola do morro de São Carlos servem de inspiração para o carnavalesco, que, neste ano, levará para a Sapucaí a história do maestro e compositor Rildo Hora.
— Algumas coisas ficam na memória, se tornam clássicas, como o leão [símbolo da escola] e o bom uso do vermelho e branco. Tradicionalmente, as pessoas sentem falta da Estácio entre as grandes da Sapucaí.
Viradouro reviverá antigos Carnavais na Sapucaí
Após 20 anos no Grupo Especial, com um título e 11 participações no desfile das Campeãs, a Unidos do Viradouro ainda lamenta o rebaixamento de 2010. O carnavalesco Max Lopes, que carimbou o passaporte da escola de Niterói para elite do samba, em 1990, é uma das apostas para o Carnaval deste ano.
— A Viradouro está no meu coração. Adorei voltar para a escola, que já subiu do [Grupo de] Acesso para o Grupo Especial uma vez comigo. Seria demais subir de novo.
Com o enredo Nem melhor nem pior, que não sai da minha mente... inspiração para o meu samba, eu também sou diferente, a vermelho e branco de Arariboia vai “antecipar” o desfile do Salgueiro para a sexta-feira (8). Além de comemorar os 60 anos da escola do Borel, a Viradouro quer mostrar as semelhanças entre as duas coirmãs.
O diretor de Carnaval, Wilson Polycarpo, explica que a escola fará uma releitura da própria história, como o luxuoso desfile sobre a cultura cigana, de 1992. No entanto, o campeão Trevas – a explosão do universo (1997), do lendário Joãosinho Trinta, não ganhará um repeteco na passarela do samba.
— Vamos mostrar que a Viradouro nunca perdeu o status de escola do Grupo Especial. Nós costumamos dizer que, embora estejamos no Acesso [hoje, Série A], somos uma escola do Grupo Especial.
Carlyle Jr. e Evelyn Moraes, do R7, no Rio
Fonte: R7