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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

QUARTA-FEIRA SEMPRE DESCE O PANO.
Por José Celestino Teixeira


Naquela Manhã de Carnaval fui ao Parque das Águas buscar minha Mineral preferida. Daquelas Águas que este ano desfilaram na Avenida. A Pura Água das Fontes de Caxambu. Cantada e recantada na Passarela do Samba por toda a Comunidade da Serrinha. 
Quando saí do Parque deparei-me com ela, ainda na Padaria da Esquina. Não tomava café, mas tinha nas mãos uma latinha de Cerveja. 
Era uma Devassa! 
Não ela, é claro. Mas era a própria  marca da Cerveja que ela tinha nas mãos.
Impacientemente, tive que ouvir aquela conversa de quem tem intenção em convencer. Puro convencimento dela.
Afinal, havia pouca gente ali, que ainda quisesse ouvir lorota.
Com a paciência de bom amigo, escutei os argumentos dela: A Vida é Curta, mas, Velhice não combina com Alegria. Portanto, carnaval não é coisa pra Velhos. Você ficou Velho. Me disse ela com convencimento no olhar.
Naquele instante quis discordar. Me lembrei da Dercy Gonçalves aos 84 anos de vida, com os seios de fora,lá em cima de um Carro Alegórico. Havia muito tempo, que isso ocorreu. Depois lembrei de quando a Velha Guarda da Portela foi deixada para trás pelo Carnavalesco da Escola. Atropelaram os Compositores da Velha Guarda com uma Horda de Bárbaros Jovens. 
Parecia o Fim. O Carnaval havia se jovializado demais. Não tinha mais lugar para a Tia Zica, o Monarco, o Pixinguinha, o João da Baiana, o Carlos Cachaça, a Dna Neuma, o Braguinha, o Donga, a Clementina de Jesus e, nem pra Cartola. 
O Samba não se veste mais de Fraque & Cartola. 
É a Era do Boné da Aba Virada. 
Agora tudo é Funk e Sertanejo. 
Dei um aperto de Saudade no meu tamborim e chorei.
E ela ali na Padaria insistia em continuar a ladainha. Na verdade ela não tentava justificar o fato de estar ali até aquela hora. Tentava sim justificar o voto dado ao Novo Redentor do Carnaval de Rua.
Jura, que jura. Mais que jurada estava convencida de que tinha mesmo razão. 
Olhei fundo nos olhos dela e senti que não havia neles, o brilho do olhar daquela Colombina. 
Ela também, já havia envelhecido, embora ainda não se apercebesse disso.
A maquiagem azul havia desbotado ao redor dos olhos e ela estava mais pra Pierrô Apaixonado, que para Colombina.
Já não era a mesma Bailarina. Agora cambaleava tentando se equilibrar no salto da sandália de Carmem Miranda.
Quem ti viu e quem ti vê?
Quem jamais a esquece, não pode reconhecer.
Ela foi a mais bonita. Foi até a minha favorita, quando eu era Mestre Sala.
Mas, o Samba passou.
Saí dali e ela ficou sozinha, com sua Devassa.
Corri pra casa para matar a sede com uma boa Água Mineral. 
Depois, mais tarde resolvi sair de casa. 
Confesso que por um instante, por alguns minutos ou mesmo por algumas horas me convenci de que estava errado. Ela tinha mesmo razão. 
Há quem diga que eu caí do galho. Que eu dormi de touca e que não tem saída. 
Mas, hoje eu quero é botar meu bloco na rua. Xingar. Matar e prender.
Hoje eu assisti na TV que até o poeta Vinicius de Morais resolveu sair na Avenida. 
Contudo, o autor de Garota de Ipanema, não me pareceu feliz. Ao contrário do Tom, o Tom Jobim, para quem mandaram subir um piano pra Mangueira. O Maestro sim, um dia foi feliz na passarela do Samba. Hoje colocaram o Vinicius de pé . Esqueceram de trazer o Bar, um banquinho e um violão pra Avenida. Só veio Toquinho e o Carlos Lira. Esqueceram da Minha Namorada.
Ufa! Chega de Saudade.
Resolvi entrar no Curral do Samba, um Quadrado onde tem o palco em que se toca muita música caipira, em pleno Domingo de Carnaval. 
Sertanejo Universitário. 
Um contra-senso. 
Ao conhecer, ainda que pouco a cultura dos novos cantores sertanejos tem-se uma leve impressão de que realmente a Educação virou fantasia de Carnaval.
Sertanejo Universitário. Ta aí, a certificação da nova Cultura.
Não havia como ouvir claramente o tal Carnaval Sertanejo Universitário. 
Ali ao lado, som mecânico do carro estacionado esparramava o Funk. 
Era um "mixto" de filme de sacanagem com suruba de Big Brothers.
Fui chegando para entrar no Curral do Carnaval, quando fui surpreendido pelo Segurança. Queria me revistar. 
Talvez eu estivesse armado, quem sabe lá?
Afinal, Segurança é Segurança. Seguram tudo, principalmente o menos necessário de se segurar. Mas, vamos lá. No bom humor.
Já ia me permitindo passar pelo vexame de ser apalpado por outro homem, quando vi um político passar impunemente pela Segurança. Notei que ninguém revistou o tal Político. Ele entrou como se fosse o Dono do Mundo. Recebeu tapinhas nas costa e lá se foi convicto de que era um Rei.
Pobre de mim. Um mero pacato cidadão.
A cena me convenceu de que não podia me permitir ser revistado. Quando todos jornais e telejornais falam do comportamento dos políticos, não poderia ser eu o único Suspeito de cometer algum crime na avenida. Baldados os esforços do 
Segurança e a gentileza da moça, também segurança, me esquivei. 
Afinal seria eu quem engana o povo? Que vota contra os interesses do povo? 
Serei eu culpado e todo político o Inocente?
Recuei, não permiti a revista. 
Me recusei terminantemente de entrar no Curral do Carnaval.
Depois de tudo até resolvi me suicidar.
Fui à barraca do lado e lá pedi uma caipiríssima. A vodca era ROSTOV ou ROSCOF. Não me lembro bem. A única certeza que tenho é que não era russa, polonesa ou mesmo brasileira. Acho que era made in china. Provavelmente fabricada no fundo de uma Pastelaria do Bairro da Liberdade. Escolhi o sabor de frutas tropicais lavadas na bombona de plástico. Provavelmente lavadas ali, onde deveria haver uma maior concentração de agrotóxicos a morte seria certa.
Seria, mas, não foi. Me salvei, embora quisesse muito morrer. Por incrível, as horas passaram e eu, ainda não havia morrido. 
Não desisti da idéia suicida. 
Quem sabe lá morreria no outro dia, de ressaca? Era minha única esperança: Morrer.
Mas, de repente me veio à mente aquela cena cinematográfica do Jose Wilker, como o Vadinho da novela Dona Flor ( e seus Dois Maridos). Morreu em Salvador (Bahia), em pleno Carnaval. E o que foi pior: Morreu com uma baita mandioca entre as pernas. Vestindo uma saia rodada com babados brancos e um chifre na cabeça morreu o Vadinho, que era um vadio. E, só queria vadiar.
Pobre coitado! 
Deixou como viúva, a Mulher mais gostosa de toda Bahia. 
Já foi tarde.
Não! 
Perdoe-me, o Jorge Amado. 
Mas no meu caso preferia morrer ( Bem-amado) ao lado dela. 
Daquela ingrata que me deixou sozinho em pleno Carnaval em Caxambu.
Quando quarta-feira de cinzas chegar hei de cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!



QUARTA-FEIRA SEMPRE DESCE O PANO. Naquela...
José Celestino Teixeira Teixeira