Manifestantes a favor da Lava-Jato colocam a boca no trombone
Brasileiros não querem interrupção das investigações da Lava-Jato e criticam emenda ao pacote de 10 medidas contra a corrupção, que prevê o crime de abuso de autoridade para juízes e procuradores
Manifestantes tomaram ontem as ruas de centenas de cidades em mais de 25 estados e no Distrito Federal em favor da Operação Lava-Jato. No total, a Polícia Militar (PM) estimou 60 mil pessoas nas ruas em todo o país, enquanto o principal articulador do movimento, o Vem Pra Rua, calculou em 390 mil pessoas vestidas de verde e amarelo e repletas de faixas em punho. Os protestos defenderam as 10 medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público Federal (MPF) e atacaram os presidentes da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Mais de 2,4 milhões de pessoas assinaram o projeto com as 10 medidas de combate à corrupção sugeridas pelo MPF. No entanto, após votações na Câmara, apenas duas propostas foram salvas. O texto foi enviado ao Senado e houve uma tentativa de se votar a proposta em regime de urgência, mas a manobra foi barrada no plenário.
Em São Paulo, onde houve o maior protesto, a Polícia Militar informou por volta das 19h que a ação reuniu 15 mil pessoas na Avenida Paulista, contra os 200 mil estimados pelo Movimento Brasi Livre. Uma extensa faixa com os dizeres “Congresso corrupto” foi estendida em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp).
O fim do foro privilegiado, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Renan estavam na pauta dos protestos. Havia faixas contra o presidente da República, Michel Temer, e pequenos bonecos plásticos chamados de “Super-Moro” e “Luladrão” eram vendidos a R$ 10 na Paulista. Pela manhã, várias cidades do interior paulista tiveram protestos contra a corrupção.
No Rio de Janeiro, o ato se concentrou em Copacabana, na Região Sul da cidade. Apesar da chuva, a Avenida Atlântica foi ocupada, com ataques direcionados aos presidentes do Poder Legislativo.
Debate saudável “Todo o poder emana do povo. O povo brasileiro está reunido para dizer não aos corruptos, a esses incompetentes que enfiaram o Brasil nesse buraco sem fundo”, bradou o humorista Marcelo Madureira, do alto do caminhão de som do movimento Vem pra Rua RJ.
“O que vimos na semana passada foi um acinte, um tapa na cara com apenas 15 minutos de discussão. Ainda tem muita gente para ser presa”, discursou o delegado da Polícia Federal Jorge Barbosa Pontes, que ressaltou posteriormente a jornalistas não ter se manifestado em nome da corporação. “A imundície chegou a um ponto insuportável. Não adianta deixar o Temer, porque ele é vice da Dilma”, disse Hélio Marcus, militar reformado da Força Aérea Brasileira, que defende uma intervenção militar no país.
Já o engenheiro Bruno Coelho esteve na manifestação para protestar contra a corrupção, mas em defesa da manutenção da democracia. “Acho saudável esse debate de extremos. Essa fase que o Brasil está passando é bastante positiva, porque as pessoas estão se envolvendo mais em política. Hoje sabemos nomes de ministros do Supremo que nunca nos preocupamos em saber antes”, lembrou Coelho.
CAPITAL FEDERAL Em Brasília, o juiz Sérgio Moro foi uma das figuras mais retratadas no protesto. O trânsito da Esplanada dos Ministérios foi fechado e armado um forte esquema de segurança para revistar quem participou do protesto. Segundo a PM, cerca de 5 mil pessoas estiveram no ato. Em frente ao Congresso, foram colocados grandes desenhos de ratos, uma dura crítica direcionada aos parlamentares, que incluíram no pacote anticorrupção uma emenda prevendo o crime de abuso de autoridade para juízes e procuradores. Segundo os integrantes da força-tarefa da Lava-jato a medida foi uma forma de retaliação aos investigadores e, caso se torne lei, poderá interromper as apurações da operação.
Em Recife a manifestação, com cerca de 16 mil pessoas, tomou conta da Avenida Boa Viagem. Em Belém, cerca de 20 mil pessoas participaram de passeata pelas ruas do Centro da cidade. Em Manaus, o protesto reuniu cerca de 3 mil pessoas.
Em Minas Gerais, várias cidades fizeram protestos contra a corrupção. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a manifestação atraiu cerca de quatro mil pessoas ao Centro da cidade. Em Uberlândia, no Triângulo Mineira, 6 mil pessoas, segundo os organizadores, e 4 mil, segundo a PM, participaram de ato na Praça Tubal Vilela. Também houve protestos em Uberaba, Poços de Caldas, Pouso Alegre e Varginha.
NOTAS OFICIAIS No início da tarde de ontem, por meio de nota, o presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou entender a legitimidade das manifestações “e, dentro da ordem, devem ser respeitadas. Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais”.
A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República também se manifestou com nota: “A força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais uma vez, neste domingo, nas manifestações ocorridas em diversas cidades do país. Milhares de cidadãos expressaram suas ideias de forma pacífica e ordeira. Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que fortalece ainda mais nossas instituições. É preciso que os Poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira”. (Com agências).
Fonte: Estado de Minas