Sentado em minha cadeira de balanço, entre a canícula das
tardes de verão e os aguaceiros do fim de cada dia, observo aqui da varanda a
chegada dos bons ventos que trazem alvíssaras ao provecto coração deste
perplexo observador da natureza humana.
Durante meu voluntário ostracismo, cogitei até mesmo em
aposentar definitivamente minha pena - esta relíquia que ainda funciona à base
de tinta e mata-borrão, que utilizo para rabiscar meus alfarrábios - inclusive as mal traçadas
linhas que envio através de meu fiel estafeta para a redação do Jornal Arte3.
Eis que, subitamente, senti-me compelido a manifestar
novamente a humilde opinião deste velho escrevinhador, especialmente diante das
profundas mudanças que finalmente, percebo que começaram a ocorrer em Caxambu.
Salta aos olhos de todos que a cidade hoje respira novos
ares, despindo-se daquelas daninhas idiossincrasias, e desembaraçando-se de vetustas
e anacrônicas inutilidades que remontam ao Século passado, que por muito tempo salgaram
nossa terra e nossas águas com o amargor do subdesenvolvimento.
Hoje é domingo, um domingo radiante e ensolarado. Porém, a
mais bela visão que se apresenta diante de minha varanda, é justamente a de poder constatar o retorno das famílias de
caxambuenses e visitantes. Vejo adultos, jovens crianças e idosos voltando a
trazer aquela aconchegante felicidade que há tempos não se via espalhadas pelas
ruas e praças de nossa querida hidrópole.
Observo tudo com estes velhos cansados, mas também posso
sentira volta aquele ambiente familiar, pacato e sadio, que conheci em minha
infância, e que sempre foi tão característico de Caxambu. Ouço risos, gracejos, vozes de crianças, mas
não ouço mais palavrões, ou música excessivamente alta – a não ser quando passa
ocasionalmente algum celerado demonstrando seu mau gosto musical através do
alto volume de seu som automotivo.
Sim. Meus caros e pouquíssimos leitores podem ter certeza de
que a vista está cansada, mas os meus ouvidos continuam em plena forma. Tanto é que, entre a algazarra da criançada e
outros ditos espirituosos, consigo ouvir ainda algumas murmurações e lamúria esparsas,
que chegam abafados pelo filtro da inveja e do ressentimento por parte daquela
minoria que não suporta ver a felicidade alheia. E estes sempre hão de existir: seja por
motivo de politicagem, ou pelo que se chama popularmente de “espírito de porco”.
A estes, só nos resta preservar as pérolas e atirar-lhes sua lavagem.
Olavo Onunlavo