Crônica

REUNIÃO DOS 43 ANOS DA TURMA DE 68 DA EPCAR

(ESCOLA PREPARATÓRIA DE CADETES DO AR) ¹

Paulo Roberto Guimarães Moreira ²

 

“Uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco”

                                                         

 Willian James (Filósofo e Psicólogo norte americano)                                                                  

 

SMILLE (SORRIA) CHARLES CHAPLIN ³

Smile Smile, though your heart is aching Smile, even though it's breaking When there are clouds in the sky You'll get by...

Sorria Sorria, embora seu coração esteja doendo Sorria, mesmo que ele esteja partido Quando há nuvens no céu, Você conseguirá...

Temístocles é uma espécie de Kofi Annan, Lula e Barack Obama juntos. Minha Psicóloga me aconselha a não comparar as pessoas. No fundo no fundo ele é o Temístocles: um menino que um dia entrou para o Diretório Acadêmico da EPCAr e nunca mais saiu. Lá se tornou um diplomata: uma espécie de Sergio Vieira de Mello. Insiste que a turma de 68 fique: “Sempre Juntos”. Esse é o nosso lema. Há 43 anos Temístocles lidera essa tropa de Pré-Cadetes que hoje já tem dois Tenentes-Brigadeiros, alguns Majores-Brigadeiros, Brigadeiros, Coronéis, Tenentes-Coronéis, Majores e por aí vai. Mas, essa tropa também tem pessoas com deficiências e muitas outras pessoas especiais (felizmente nenhum é normal). E não se sabe quem é o elo mais forte e quem é o elo mais fraco. Talvez todos sejam elos fortes e fracos, dessa corrente, porque todos são Luz e sombra.

O avião Bandeirante pousa em Barbacena vindo de Brasília. O Tenente-Brigadeiro Machado, o Machadinho, por mais incrível que possa parecer, ajuda o Caxambu a descer do avião com sua cadeira de rodas. Não pediu ao soldado, cabo, sargento, nem a todos os oficiais, que hoje estão também sob sua autoridade, para fazer isso não. Ele foi, pessoalmente, ajudar seu colega de turma a sair do avião. E saiu empurrando a cadeira de rodas com o Caxambu. O Tenente-Brigadeiro Machado é um dos oficiais mais cotados para ainda vir a ser o Comandante da Aeronáutica.

Caxambu é aquele garoto que embora tivesse 16 anos parecia, fisicamente, ser o mais novo da turma. Tremendo gozador e rebelde, aos 18 anos, sofreu um acidente de carro e ficou paraplégico. Todos e cada um dos 450 colegas seus parecem ter um carinho especial por esse garoto, que hoje tem 59 anos.

If you smile With your fear and sorrow Smile and maybe tomorrow You'll find that life is still worthwhile if you'll just... Light up your face with gladness Hide every trace of sadness Although a tear may be ever so near That's the time you must keep on trying Smile, what's the use of crying? You'll find that life is still worthwhile If you'll just...

Se você sorrir Com seu medo e tristeza Sorria e talvez amanhã Você descobrirá que a vida ainda vale à pena se você apenas... Ilumine sua face com alegria Esconda todo rastro de tristeza Embora uma lágrima possa estar tão próxima Este é o momento que você tem que continuar tentando Sorria, de que adianta chorar? Você descobrirá que a vida ainda continua Se você apenas...

O Mug, Haroldo de Mendonça, Sodré é aquele que vai empurrar o Caxambu à frente da tropa no desfile da turma no Pátio da Bandeira. Mug é o irmão mais velho da turma I, aquele que aconselha, por ser quase um adulto, naqueles seus 18 anos, quando ingressou naquela escola. Seu apelido é Mug, porque se parecia com aquele bonequinho pretinho e sem pescoço, que naquela época estava na moda.  
 A tropa composta por civis, militares, entre eles os dois Tenentes-Brigadeiros, Majores-Brigadeiros, Brigadeiros, Coronéis, entre outros, marcha e presta continência ao Tenente Segadães (que se aposentou como Coronel). Segadães foi o comandante da turma e parece que a história faz um flash bach.

Agora estamos no churrasco. Murilo toca sua guitarra. E juntamente com Maranhão e Sérgio (Brigadeiro) Careca levam-nos aos anos 60: Aos Beatles, Rolling Stones, Bossa Nova, Roberto Carlos e a Jovem Guarda, MPB e todo o encanto musical daquela época. No fim, Maranhão canta Smille (Sorria) e a dedica a Straface, Túlio e Caxambu, algumas das pessoas com deficiência da turma.

If you smile With your fear and sorrow Smile and maybe tomorrow You'll find that life is still worthwhile If you'll just Smile...

Se você sorrir Com seu medo e tristeza Sorria e talvez amanhã Você verá que a vida continua Se você apenas sorrir...

                                                                                                                     

Ednardo é o arataca, nome “carinhoso” que dávamos aos nordestinos. Foi sua primeira reunião. Já estava quase em êxtase quando recebeu o certificado (diploma metálico) de participação na reunião dos 40 anos da turma. Couto Dias mexeu com ele dizendo: Esse aí eu já tenho. Ednardo sensível não gostou de ouvir aquilo, mas, amou a homenagem: - Já estou bêbado mesmo, vou mostrá-la para todo mundo. Ao som das músicas nordestinas saiu, agora sim, em êxtase, mostrando para todo mundo.

Pohlmann foi comprar as fotografias à mostra. Numa frase de autocrítica disse algo sobre uma foto em que ele estivesse bonito. Grande Pohlmann, você sabe que o que interessa é a beleza interior e os outros o sabem também. Não é à toa que você chegou a Tenente-Brigadeiro!

Agora, a meu ver, chega o ponto alto da festa. O Brigadeiro Comandante da Escola canta uma música de Frank Sinatra, com uma voz, que se assemelha a este, enquanto outro Brigadeiro toca guitarra e um Tenente-Brigadeiro (Machado) ri, copiosamente, enquanto toma um copo de cerveja sentado em sua cadeira. É uma cena de dar inveja a qualquer outra turma.

That's the time you must keep on trying Smile, what's the use of crying You'll find that life is still worthwhile If you'll just Smile.

Este é o momento que você tem que continuar tentando Sorria, de que adianta chorar? Você descobrirá que a vida ainda continua Se você apenas sorrir

Alguns casais dançam, outros dançam sozinhos. A alegria é geral e no fim tudo vira carnaval.

Acabou? Bem, meu fôlego é curto. Minha crônica continua no meu coração e na cabeça e estará registrada na alma eternamente. Sei que cada um dos que estiveram naquela festa tem uma crônica na mente e no coração. Agora tentem descrever aquilo que aconteceu em Barbacena nos dias 29, 30 e 31 de julho de 2011. Tentem descrever o indescritível, porque como disse Jean Cocteau: “Não sabendo que era impossível ele foi lá e fez”.

¹ Essa crônica é dedicada aos oficiais generais (Brigadeiros) de nossa turma que dizem que quando lá chegam todos nós chegamos (sempre juntos) e ao Maranhão nosso Brigadeiro da música e General da sensibilidade.

² Paulo Roberto Guimarães Moreira hoje tem 59 anos e, de vez em quando, ainda vive o personagem Caxambu, quando seus colegas o convidam a voltar à adolescência.

³ Essa crônica fica melhor se lida com a música Smille tocando como fundo musical.