Personagens, santos e cultura brasileira são desenhados na peça de barro.
Material que era feito nas coxas dos escravos traz inspiração, diz artesão.
Do G1 Sul de Minas
As telhas que cobrem as casas se transformam em arte nas mãos do artesão Vítor Edson Correa, de Caxambu (MG). Rostos e personagens da nossa história, como Tiradentes, índios e santos, são desenhados em telhas de barro pelo artista. Além de fazer arte em uma "tela" alternativa, agora Correa trabalha para levar sua experiência para outros artesãos da cidade.
As mãos firmes que delineiam traços suaves do artista fazem surgir personagens deste e até de outro mundo. Entre as obras que o artesão produz está até o ET de Varginha (MG). Correa faz tudo usando apenas uma faca, água e a criatividade. "A minha inspiração é do dia a dia, é da fé, da natureza", comenta o artista. Mas entre todas as obras que faz, o rosto que o artesão mais tem produzido é o de Nhá Chica. Depois de presentear um amigo com o retrato da beata, as encomendas não pararam mais.
Correa completa 18 anos trabalhando com as telhas de barro em 2014. Antes disso, ele já trabalhava com outros tipos de artesanato, usando como matéria-prima jornais, palha de milho e cipó. Desde 1996, quando ele ainda dava aulas de artesanato na APAE de Caxambu, ele começou a fazer das telhas sua tela e foi no barro que ele se encontrou como artista.
"São telhas que são feitas nas coxas de escravos. Naquela época existia muito [de se conservar o material usado em tudo], hoje em dia as pessoas já não dão mais tanto valor àquilo. Vai trocar o telhado, já joga tudo fora. Então a cultura também está dentro do passado, dentro do que deixaram pra gente", conta sobre sua inspiração para o trabalho na peça.
O artesão que começou a fazer arte nas telhas de maneira intuitiva tem agora dois objetivos: quer fazer um curso de restauração e oferecer oficinas para crianças carentes de Caxambu. "Pra resgatar mais talentos, pra tirar crianças da rua e pra passar também um pouco do que eu sei para essas crianças. E quero me aprimorar mais, fazendo cursos, pra que eu consiga [deixar] fluir mais ideias e trazer mais perspectivas de trabalhos", completa.
Fonte: G1 Sul de Minas