“Você é um encanto”: Mineira de BH comove internautas em conversa com mãe que tem Alzheimer
Anna Izabel Arnaut tem 93 anos e, há 11, foi diagnosticada com Síndrome de Alzheimer, uma doença que atinge cerca de 44 milhões de pessoas em todo o mundo. No último dia 25 de maio, a filha dela, Ana Heloisa Caldas Arnout, registrou um dos bate-papos que tem com a mãe todas a noites, antes de dormir. Algo corriqueiro na rotina da família. Apenas da família. Ana Heloísa decidiu postar o vídeo em seu perfil pessoal no Facebook, apenas para compartilhar o momento com amigos. A publicação despretensiosa vem comovendo internautas de todo o país e o bate-papo, uma conversa com a mãe repleta de brincadeiras, bom humor e carinho, já alcançou mais de 330 mil compartilhamentos na rede social, em apenas um mês.
A repercussão surpreendente fez com que duas amigas incentivassem a mulher de 55 anos a criar uma página na rede social, para contar a história da mãe e mostrar para outras pessoas que vivem momentos parecidos, que as coisas não são tão ruins como parecem. Outro susto: em apenas três dias, a página já conta com mais quase 50 mil curtidas. “Foi uma surpresa. Eu estava esperando a participação de amigos e alguns familiares, só de pessoas próximas mesmo. Quando eu vi que tinha milhares de curtidas, eu me surpreendi”, revelou a mulher, natural de Caxambú, no interior de Minas Gerais.
Atualmente, vivendo em Belo Horizonte, Ana contou em conversa com o Bhaz, que sempre esteve próxima da mãe. “Se ficamos quatro anos separadas, morando longe, foi muito. Vivi algum tempo no Rio de Janeiro, mas logo voltei para cá, para perto dela”, afirmou. E foi em 2003 que ela recebeu a notícia de que a mãe e grande amiga, na época com 82 anos, sofria com a Síndrome de Alzheimer. “Para um filho, é tudo muito difícil. É uma morte em vida. A doença vai roubando ela aos poucos de mim”, revelou.
Ao passo que muitas pessoas se deixariam abater com a situação e desistiriam de lutar para manter viva a relação com aqueles que amam, Ana se mostrou forte e, desde o diagnóstico, procurou dar à mãe uma vida mais digna possível. “Todas as noites a gente conversa, bate um papo, faz uma oração. Isto é muito importante para mim e para ela”, contou. “Mesmo ela não me reconhecendo as vezes, eu vejo que este momento é bom para ela. A gente brinca, sempre com muito amor e carinho”, completa.
Para criar a página “Alzheimer – Minha mãe tem”, o incentivo das amigas foi fundamental, mas a ideia ganhou força depois que ela leu recentes notícias de maus tratos a pacientes com a síndrome. “Só na última semana eu vi umas três notícias no Brasil de filhos maltratando pais com Alzheimer”, lamentou. Com isso, no último dia 22 de junho ela decidiu dar início ao espaço, onde pretende continuar contando histórias de sua mãe, compartilhando vídeos e fotos das duas, receptiva a trocar experiências com outros internautas.
“Meu objetivo é mostrar duas coisas. Primeiro que você tem que ter carinho com aquela pessoa que te criou, retribuir todo o possível para ela. E segundo é mostrar que você não precisa ter vergonha e que a vida continua, mesmo com a doença”, declara.
Ao contrário do que deixa transparecer, nem sempre tudo correu bem. Ana contou que houve um período em que a mãe sofreu com episódios de agressividade, algo normal entre os diagnosticados com a doença. “Eu percebi que esta agressividade era, na verdade, por medo. E com muita paciência e carinho a gente conseguiu contornar esta situação”, revelou.
Em outro momento, um dos médicos que cuidavam da mãe, recomendou que ela usasse uma sonda para se alimentar. Sabendo que ela era uma pessoa bastante agitada, Ana se recusou a prender a mãe em uma cama, porque, para ela, isso poderia piorar o quadro. Ao recusar o tratamento sugerido pelo nutricionista, Ana acabou se deparando com uma afirmação que a atingiu em cheio. “Ele falou para mim que eu estava matando minha mãe aos poucos de fome”, revelou. “Foi terrível para mim ouvir isso. Fiquei chorando durante umas duas semanas”, desabafou. Determinada, a filha dedicada procurou outra equipe médica, que encontrou uma solução alternativa à que havia sido proposta e que atendeu às necessidades da paciente.
Filha única, Ana Heloisa contou sempre com uma ajuda bastante importante. Segundo ela, o marido, Nelson Brandão, esteve ao seu lado em todos os momentos e sempre demonstrou imensa paciência e carinho com a sogra. “Quero dar uma vida em que ela possa continuar a fazer o que sempre fez”, finalizou.
E para enfrentar tudo isso, Ana não teve nenhuma preparação. “Nunca participei de grupos de apoio. Tudo que aprendi foi com o dia-a-dia”, afirmou. “Eu leio, li muito sobre a doença. E aprendi a lidar com tudo durante a rotina mesmo”, completou.
As atitudes, brincadeiras e carinho com a mãe vêm rendendo também elogios de pessoas do país inteiro. No Facebook é possível encontrar inúmeros comentários de internautas que enxergam em Ana um exemplo de pessoa. “Que existam mais humanos como você!! Eu tenho orgulho de pessoas como você… imagino que mesmo com tantas dificuldades e a doença em sua mãe, você jamais largou ela, que Deus te abençoe, e que Ele te dê forças cada dia mais e mais para viver parabéns!”, escreveu uma usuária. “Nosssa que lindo, chorei aqui lembrando de minha amada filhazinha cheirosinha que me deixou faz 1 ano e 4 meses, aos 93 aninhos.”, se emocionou outra.
A Síndrome de Alzheimer é uma doença neurológica que atinge mais de 44 milhões de pessoas no mundo inteiro. No Brasil, não existem dados oficiais precisos sobre o número de pacientes diagnosticados com a doença, mas segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente um milhão de brasileiros sofrem de Alzheimer no país.
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Todos os dias antes de dormir eu e minha mãe batemos um papo. Ai está um pedacinho de nossa conversa dia 20/05/14
Fonte: Bhaz