A Travessa Nossa Senhora dos Remédios já foi nossa Rua da Alfândega.
Nela vendia-se de tudo. De verduras, carnes, ovos , queijos e frangos.
Roupas, sapatos e até carpete (novidade). Além disso tinha muita de
cachaça, pé de porco, fígado de galinha, beiço e focinho de porco . Tudo
muito quentinho. Além do giló frito. Naquele tempo a Moda Feminina era trabalhada do corte ao acabamento pelas MODISTAS. Em Caxambu conheci duas: Antonieta Sarkis e a Elza Dauany .
A primeira não tinha seu atelier na Travessa, mas, na Rua Dr. Viotti,
alí , onde é , hoje, a Garagem do Palace Hotel. Era maestrina na arte de
cortar, costurar, pliçar e bordar. Foi do tempo em que, ainda, se cobriam os botões das roupas femininas. No tempo das anáguas, das saias que davam forma aos corpos.
Mulher chic usava cotton shirts, sweaters, gabardie shirt, , jachet,
babados can-can, leathers , stoles , bolsa, chapéus e os famosos
corselets. No tempo sensuais das Meias de Liga, que já faziam muito sucesso. Muita gente chic passou por aquele endereço da Dr. Viotti. Era o point da Moda. Depois, na Travessa, aí, sim estava a Elza Dauany. Sempre a se preocupar em atrair clientes ao atelier/loja. Viajava a São Paulo só para trazer novidades. Ela Ditava Moda. Simpática e muito reservada, com traços de que havia sido uma bela Mulher. Se dedicava com exclusividade ao trabalho e à arte de comerciar. Do outro lado da calçada a Loja Gatão sempre com artigos em liquidação e a Casa Camílo. Nesta um particular, o dono. Um árabe baixinho de bigodinhos, pulôver e calças de algodão. Calçava sapatos muito engraxados. O Camilo fumava cigarros "Petit Londrinos" com Piteira comprida. Valente como um Leão. Andava, sempre armado com um baita 38 na cintura. O Revolver era um "Schmidt Wesson (cano longo - legítimo). O automóvel dele era um carrão do tipo Cadilac Rabo de Peixe. Depois, teve um Dodge Dart e um Landau de teto de vinil. Gostava de tomar uns tragos e, de vez passear em são Lourenço, pela estrada Federal. Era sério, mas, muito vivaldino. Um bom camarada foi o Camílo.
Depois, tinha o Hotel Moreira, o Açougue do Manôlo e Açougue do Lima
(que foi do Toninho dos Santos, onde o Paulo César Prefeito trabalhou). A Elza Dauany tinha um irmão, ainda vivo e muito meu amigo: O Hélio Dauany. Chauffer de Praça. Ensinou muita gente a dirigir, no tempo em que não havia auto-escola.
Por sua gentileza, amabilidade e paciência foi o professor preferido
das mulheres que queriam aprender a dirigir. Pois, nos tempos de outrora
marido não tinha paciência. Hélio era da turma do Paulo Barão
(aquele do Trenzinho), do Sr. Dias Cabelereiro, do Dr. Michel Jamal, do
Carneirinho (irmão da dna Léia) e, do famoso Edson Canaã (filho do
famoso fotógrafo Antônio João). E o Edson Canaã, quem era? Um cara forte, alto, careca e de pele clara como um alemão. Ele tinha a aparência do Mussolini (El Duce) . Edson era o diabo em pessoa. Nunca colocou uma gota de álcool na boca e nunca fumou. Um glutão que era capaz de comer uma bacia de tabule e 20 empadinhas. Subia (pelo lado da João Pinheiro) e descia (pelo Bairro do Bosque) o Morro Caxambu, correndo.
Era hipnotizador que fazia muito turista pastar no parque. Organizava
lutas de boxe e punha o respeitável Jandiro do Cartório de Registros
Públicos a lutar com o Runcôio ( um escuro de quase 02 metros). Hélio Dauany foi o mestre Cerimônia do Rancho das Acácias. No tempo do Sebastião cabeça branca, o Rancho foi o Restaurante coqueluche da Estância. Havia na casa comida boa e música. Lá servia o melhor Bife com Arroz da região. Depois, veio o Flávio, quando aos domingos de madrugada havia lá um Show Erótico. Todo mundo ficava esperando a hora do Show. De repente, uma bailarina mascarada aparecia no corredor e se dirigia ao Palco. Em strip tease ela se despia. E, na hora "H", o Hélio lançava sobre o corpo jovem e nu, a sua Capa protetora. Do tipo daquela capa do Sherlock Holmes. Era uma vaia geral. E, já tava na hora de encerrar o expediente da Casa. Antes , porém, uma voz locutor de rádio anunciava; domingo que vem, não percam: A Estonteante Madelaine in Strip Tease! Pena que a Casa em suas novas funções, não sobreviveu ao clamor da vizinhança estarrecida.
Lembrando, que naquele tempo havia muito pouca casa por aquelas bandas.
E, que tudo se passava em ambiente muito, muitíssimo familiar. Sempre, antes do Natal o Hélio Dauany ia ao Rio de Janeiro buscar a passarinhada do Edson Canaã, naquela kombi antiga.
Depois, antes do Carnaval levava a passarinhada engaiolada de volta
para de Copacabana, onde o Edson vivia com a Bela Crunner Dna. Isalita.
Edson foi um grande Tribuno do Juri no Rio de Janeiro, no tempo
dos grandes advogados como Sobral Pinto, Roberto Lira e outros . Como ele mesmo confessava: Do Código Penal só conheço o Art. 121. O resto leio nos Livros de Medicina. quando estava em Caxambu vivia travando altas discussões acadêmicas com o Dr. Michel Jamal.
Me contaram que quando o Dr. Edson morreu no Rio de Janeiro, já
prevendo o desfecho do Câncer foi à Quinta da Boa Vista e deu liberdade
aos pássaros. Um deles, uma Sábia Laranjeira se recusava a sair da gaiola.
Edson implorou à Sábia chorando, quando a tomou nas mãos e com os olhos
cheios de lágrimas falou ao ouvido dela: Voa, Sábia, sei que ainda
Voa..... Taí, o meu velho amigo Hélio Dauany, quem não me deixa mentir.