AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

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domingo, 2 de fevereiro de 2014

O FIM E O PRINCÍPIO - EDUARDO COUTINHO
Por José Celestinho Teixeira


Foi nos ídos dos Anos 80 que conheci Eduardo Coutinho durante o 1º Festival de Cinema de Caxambu.


Primeiros anos pós Ditadura Militar. 
Em tudo havia esperança viva de mudança. 
Era como se a Felicidade ganhasse a Liberdade 
Estava Solta no Ar.
Havia festa e a cidade era pura alegria.
Na Política o MDB havia dado uma surra memorável na ARENA.


Caxambu estava prestes a eleger seu primeiro Prefeito, Pós-ditadura.
Foi nesse turbilhão que conheci Eduardo Coutinho.
"Eduardo Coutinho, um dos mais importantes nomes do documentário brasileiro, teve uma formação que passou pelo cinema, teatro e jornalismo, tendo inclusive cursado a faculdade de Direito em SP. Seu trabalho é caracterizado pela profundidade e sensibilidade com que aborda problemas e aspirações da grande maioria marginalizada, seja em favelas, no sertão ou na boca do lixo. Político, sem ser panfletário, traz a emoção humana sem sentimentalismo nem truques. Apenas expõe a realidade com um olhar atento e compreensivo, dando a voz (ao invés de manipular) e concedendo, na montagem, o tempo necessário em cada plano para que a verdade das "personagens" possa se desvelar para a lente."
Coutinho, o festejado Diretor de CABRA MARCADO PARA MORRER.


O enredo surge quando Eduardo coutinho conhece (em Sapé, Paraíba) Elisabeth Teixeira, viúva do líder de ligas camponesas João Pedro Teixeira, assassinado em uma manifestação. 
O cineasta impressionado com a estória ( que mais tarde se tornaria História) resolve filmar esta página negra , onde se inseria um Brasil Camponês. 
Um Filme embrionário de duas fases. 
Uma durante e outra após a Ditadura de 64.
História/documentário de um Líder Sindical camponês morto pelas forças da repressão militar.
Eduardo Coutinho havia interrompido as filmagens e continuado o filme longos anos depois.


Cabra Marcado Para Morrer - de Eduardo Coutinho

De volta do exílio, o Documentarista Coutinho vem a Caxambu apresentar seu Filme/documentário CABRA MARCADO. Aqui foi ovacionado pela crítica da imprensa que cobria o Festival.
Foi quando o conheci na FONTE DO ALEXANDRE. Ali nas proximidades do Hotel Glória, perto da Esquina com Palace Hotel.
Alí, logo ao lado , onde é hoje, o Fautinus Bar.


O Vascaíno Alexandre Ribeiro era um descendente de portugueses. 
Outrora empregado nos Cassinos, mestre do Baralho, da roleta e da campista.
Isso, quando o Jogo estava liberado.
Como poucos outros Sr. Alexandre soube tirar proveito da atividade vivida no Tempo dos Cassinos. Num tempo em que a ficha de madrepérola gravada com o nome do Cassino era moeda corrente todas Estâncias Hidrominerais.
Mas, isto foi antes que o Presidente Dutra decretasse o fechamento dos Cassinos. O Decreto Presidencial encerraria de vez, com uma das mais rendosas atividades para o turismo nas Estâncias Hidrominerais Mineiras e Paulistas.
Fim de um Ciclo de Ouro.


Depois, fechado o Jogo o Sr. Alexandre comprou um Bar (de nome sugestivo: Fonte do Alexandre) e o Hotel Alex, que hoje é dirigido pelo filho mais velho, também, vascaíno. O Alexandrinho. 
Naquele tempo a melhor caipirinha da cidade era da Fonte do Alexandre. Não era dessas que se bebe hoje, com todas as frutas possíveis e imagináveis. A caipirinha da Fonte era única: um copo pequeno, limão só o galego, bem amassado com um bastonete de madeira, cachaça “Itapura”,de Itamonte (reserva exclusiva para o Bar) e, muito pouco açúcar. 
Era servida em copo pequeno. 
E, não adiantava pedir em copo maior, que o Sr. Alexandre , não servia. 
 - Nem que a vaca tussa. Dizia ele com cara de bravo, mas, coração de menino.


Talvez, tenha sido esta, a receita que me aproximou do Eduardo Coutinho. Quem naquela época eu nem conhecia, a não ser de nome. Por ouvir dizer.
Naqueles dias de Festival todos corriam atrás dos astros e atrizes (muitas das novelas globais) que estavam pela cidade .
Lembro-me bem, da Regina Casé (quando ainda, não era Global) subindo na Passarela de Madeira armada na Pça 16 de Setembro , bem em frente ao Cine Caxambu. 
Cinema que sobrevive, ainda, hoje, graças à abnegação do Fernando.
Embora, naquele tempo pouca gente na cidade dava importância ao diretor de documentários. Afinal, ninguém sabia do Cabra Marcado Para Morrer.
A atriz e diretora Ana Maria Magalhães era uma exceção. 
Afinal, era uma Linda Mulher.


Lembro-me que naquele dia estávamos numa mesa da fonte do Alexandre: Eu, Eustáquio Gorgone e Manoel Mata Machado. 
Falávamos justamente sobre o documentário do Coutinho exibido naquela tarde no Cine Caxambu. Naquele instante fomos abordados pelo próprio cineasta.
Indagou se podia sentar com a gente e, sem esperar a resposta puxou a cadeira. Foi logo pedindo uma caipirinha ao Alexandre da Fonte, que trazia ao ombro um pano de prato. 
Como num raio de foguete tava selada uma amizade de bar.
Amizade Curta, que dura o tempo certo da conversa fiada e de uma dose.
Conversamos sobre o filme. 
Ele até riu muito. Disse que não queria falar tanto, quanto nos havíamos acreditado que tivesse falado.
Disse que o filme era uma homenagem e um desagravo a pobre viúva do Líder Sindical.
Encantou-se com o Dono do Bar, que como todo bom português, não tinha muita paciência com o freguês. 


Ao que parece, aquele foi um ENCONTRO MARCADO, como contado pelo Fernando Sabino.
Se no princípio duvidássemos ser ele o Eduardo Coutinho, o episódio a seguir dissipou as duvidas.
Foi quando o ator Cláudio Marzo muito bêbado do outro lado da rua gritou: “Eduardo Coutinho, ainda quero um dia ser dirigido por Você!”
Pronto, foi desfeita a duvida.


Ainda, em Outubro de 2013 assisti pelo Canal Brasil, outro bom documentário do Coutinho: O PRINCÍPIO E O FIM.
Só pra lembrar: "Em 1975, Coutinho integrava à equipe do Globo Repórter, onde ficou durante nove anos e, segundo o próprio Coutinho, foi uma grande escola que o fez optar pela carreira de documentarista. A equipe (que contava com nomes como Paulo Gil Soares, João Batista de Andrade, Fernando Pacheco Jordão, Washington Novaes e colaboradores como Hermano Pena, Jorge Bodansky, Oswaldo Caldeira e Alberto Salvá) apesar da censura da época, tinha controle sobre todo o processo e trabalhava com relativa liberdade. Os médias documentários em 16mm eram o "sujo" que maculava o padrão Globo de qualidade, tornando-se um diferencial também pela abordagem aprofundada dos temas. Nessa época, realizou Seis Dias em Ouricuri (sobre a seca e a dificuldade de trabalho no sertão), O Pistoleiro de Serra Talhada (sobre o banditismo no nordeste), O Imperador do Sertão (sobre o coronel Teodorico Bezerra) e O Menino de Brodósqui (sobre o pintor Portinari).


Os três primeiros filmes realizados no nordeste foram uma preparação para a retomada de Cabra Marcado para Morrer, documentário que se tornou um dos marcos na história do cinema brasileiro, ganhando doze prêmios internacionais (Tucano de Ouro no Fest Rio/ 85, Coral de melhor documentário em Havana, Festival du Réel, em Paris, Festival de Berlim, Festival de Tróia/Portugal, Salso, na Itália, entre outros). 
Quando, hoje, atônito tenho notícias do Assassinato de Eduardo Coutinho tenho a impressão de que ele era então: O Cabra Marcado Para Morrer.





Assista aqui:

CABRA MARCADO PARA MORRER - completo