AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Águas de Caxambu - Opinião de Médicos Distintos

  

Série de Matérias publicadas no Jornal Gazeta de Notícias ( RJ ) com inicio em 17 de Março de 1886 até 11 de Abril de 1886.



Texto compilado por: Pepe e revisado e atualizado
pelo Médico Dr. Eugênio Mello





Dr. Manuel Joaquim Pereira de Magalhaes
A primeira cura

Alguns dias depois do exame ( na primeira nascente descoberta no ano de 1814 ), feito pelo referido viajante, que também era naturalista ( supõe alguns que fosse o Dr. C. F. von Martius, o ilustre autor da Flora Braziliense, e outros, porventura com melhor fundamento o sábio Dr. Lund falecido em 1875 na lagoa Santa, apresentou-se lhe um individuo sofrendo de uma hepatite e já com hidropisia consecutiva, pedindo que o curasse.
- Não é preciso ir á botica, respondeu: faça uso da agua santa, que o curará.
Obedeceu o doente, alcançando o mais feliz resultado. Foi esta a primeira cura obtida com o uso das aguas de Caxambu, de que temos conhecimento.
Depois daquela celebre cura, os habitantes de Baependi começaram a usar d’estas aguas como meio de ativar a digestão e também nos casos de afecções urinárias, visto que a experiência havia demonstrado serem bastante diuréticas.
Conhecemos uma nossa parenta , que em 1827 as tomara para aliviar as dores que lhe causara a presença de cálculos urinários. E na verdade ficara ela aliviada, depois de ter lançado abundantes cálculos, que tivemos ocasião de observar.
( Estes fatos referem-se á fonte hoje denominada D. Pedro, única que era então conhecida. )
Seria longo enumerar os casos de brilhante sucesso que se tem colhido no uso das águas de Caxambu !
As hepatites crônicas, gastrites, gastroenterites, nefrites, infecções ginecológicas, anemia, e outras enfermidades aqui tem encontrado o seu meio debelante. Vimos com surpresa resolverem-se completamente focos hemorroidários, assim como desaparecer uma glicosuria refratária, que havia resistido aos mais acertados tratamentos dos mestres da ciência !
As diversas afecções cutâneas também em muitos casos tem cedido ao emprego da agua Duque de Saxe,  embora a nobre comissão química aí só encontrasse traços de acido sulfídrico. Não querendo por modo algum contrariar os nossos distintos colegas, mas, ou porque a pequena quantidade baste ou porque a coadjunção dos outros princípios contidos na agua torne-a capaz para tanto, o fato dá-se e muitos pacientes podem atestá-lo.
Estes fatos e outros que se sabe quanto ao uso das aguas minerais, que não poucas vezes triunfam onde baqueiam as mais bem conhecidas formulas farmacêutica, devem animar os pacientes a procurar nas aguas de Caxambu alivio aos males.

As águas minerais de Caxambu se assemelham pela sua composição química as aguas de Baden, de Falkenhalde, de Spa ( na Bélgica ), de Plombières, de Vals ( Fonte Maria ), e pela natureza de seus elementos a muitas outras, como Selters, Contrexeville, etc.; podem, pois, supri-los em todos os casos em que são geralmente aconselhadas, com a vantagem de maior facilidade de seu uso nas condições naturais, e sem o inconveniente de serem vitimas de imitações frequentes de que são objeto as aguas estrangeiras, que chegam ao nosso país com o título e todas as aparências de naturais, sendo muitas delas preparadas artificialmente.
A estes inconvenientes ligados ao uso das aguas minerais estrangeiras se ajunta o que resulta das alterações, que elas experimentam no longo trajeto que tem que percorrer e no tempo que ficam guardadas, perdendo assim alguns princípios que se precipitam, tornando-se muito fracas e ás vezes mesmo putrefatas.

Dr. Meirelles Enout (Abalizado médico de Caxambu)
Há anos que as aguas minerais de Caxambu, tendo sido utilizadas pelas pessoas da vizinhança, começaram a produzir tais benefícios, que sua noticia, correndo de boca em boca, determinou, com o andar do tempo, uma concorrência, que não só de diversas províncias do império como do estrangeiro tem vindo doentes procurar aí alivio a seus males, como de deserto que há bem pouco o lugar em jazem, encontram-se hoje um núcleo de grande população, e tantos recursos como em qualquer das cidades importantes da província de Minas Gerais.

E, com efeito, sobre ser uma fonte perene de riqueza para o império e nomeadamente para a província que as possui, não é menos precioso recurso para a medicina, que em grande numero de moléstias as emprega, já como melhor meio terapêutico, já de preferencia a medicamentos que em idênticas circunstâncias não produzem os mesmos resultados. Assim é que doentes há, que não podem suportar preparações farmacêuticas ferruginosas e toleram perfeitamente esse elemento que as aguas contêm, sem dúvida pela influência combinada de outros princípios minerais que nelas se acham, notavelmente o ácido carbônico, e que tornam o ferro mais assimilável.
Na base do morro Caxambu, e como encravada no seio da florescente povoação do mesmo nome, está situada a praça que brotam várias fontes de águas minerais, cujas principiais são: D. Izabel, conde d’Eu, D. Thereza, D. Pedro, Duque de Saxe e D. Leopoldina.

Entre outros minerais que contém estas fontes, acha-se em proporção bastante notável o sesquióxido de ferro, que em seu gênero é uma das preparações mais importantes e nimiamente empregadas em medicina.

Dr. Polycarpo Rodrigues Viotti
As aguas minerais, que com mais propriedade se denominariam medicinais constituem hoje em todo o mundo sobretudo na Europa, um recurso terapêutico de máxima importância no tratamento de um variado número de moléstias.
Talvez possa o Brasil competir em riqueza hidrológica com os países mais bem dotados do mundo, como França, Alemanha, Itália, etc. Possui fontes de todas as classes, mais que aí jazem inexploradas; não por falta de pessoal habilitado para as mais complicadas análises, porem simplesmente por incúria do governo ...

Segundo a análise feita em 1875 as aguas de Caxambu são de uma constituição química mais ou menos idêntica, divergindo porém, entre si as seis fontes analisadas, pela quantidade respectiva de seus princípios mineralizadores.
Esta mineralização varia das fontes, privilégio raro em estações minerais, é de um valor inestimável para o bom êxito do tratamento, sobretudo quando ela se faz, como n’estas, por uma graduação quase insensível, como se vê das diversas analises publicadas.
Resumindo, temos:
Fonte D. Pedro, resíduo Fixo ..... 0,2650
Fonte Leopoldina, resíduo fixo .... 0,2680
Fonte Duque de Saxe, resíduo fixo ... 0,4780
Fonte Thereza, resíduo fixo ... 0, 6770
Fonte Conde d’Eu, resíduo fixo .... 0,8350
Fonte Isabel, resíduo fixo ... 1,2100

A simples inspeção d’este quadro basta para mostrar não só a proporcionalidade dos princípios fixos d’estas fontes, mas também o modo que ela se faz, constituindo uma verdadeira escala entre elas, a partir da fonte D. Pedro até a fonte Isabel.

Dr. Urias Antonio Silveira.
Dispepsias ( Distúrbios Gástricos ) – Os dispépticos, fracos e anêmicos, devem usar das fontes D. Thereza, D. Isabel e Conde d’Eu.
As pessoas afetadas de prisão de ventre devem prevenir este estado com purgativos neutros misturados com a fonte D. Leopoldina.
Não há moléstia que ceda mais prontamente ao uso das aguas alcalinas gasosas que sejam as dispepsias. O doente que até então acusava repugnância absoluta ás refeições, ou que sentia embaraço considerável nas digestões, começa logo, alguns dias depois a ter o apetite e as veze apetite famélico ou lobinho, as digestões se regularizam, a nutrição geral melhora rapidamente.
Os vômitos, quer ligados á prenhes, quer ligados a irritação gástrica em geral, cedem por encanto em 20  a 30 dias.
Conhecemos um pobre rapaz, que há mais de um ano sofria de gastrite crônica com vômitos tenazes á terapêutica mais racionalmente prescrita. O emagrecimento era considerável, quase tocara ao marasmo, débil, anémico, impossibilitado de fazer qualquer serviço, até a própria leitura o incomodava.
Nestas circunstâncias foram as aguas de Caxambu; três meses depois se achava completamente restabelecido e hoje ainda vive forte e robusto. No uso das aguas apenas usava de vesicatório sobre o epigastro, repetido até a cura.

Tivemos ocasião de verificar as melhoras obtidas por um escravo de um fazendeiro mineiro. Este doente tinha na região vizinha do piloro um núcleo canceroso bem pronunciado. Com esta alteração patológica todo o organismo sofria: emagrecimento com anemia, já bem pronunciada fraqueza geral, vômitos de alimentos e de uma substancia assemelhando-se á borra de café, outras vezes a café com leite, fenômenos gastralgicos intensos. Aconselhamos o uso das águas de Caxambu. Cinco meses depois tornamos a ver o mesmo doente e quase não o conhecemos. Estava médio satisfeito, já não vomitava e alimentava-se quase que de todos os alimentos mais comuns. Apenas conserva-se o tumor bem dolorido á apalpação.

Dr. Urias Antonio da Silveira
 Um meu amigo, tendo contraído uma infecção paludosa ( relativo a malária ) nas margens do São Francisco, tendo negligenciado no tratamento d’essa infecção, em seis meses apresentava-se com uma caquexia paludosa bem pronunciada. Tendo chegado do sertão vimos pela vez, ás 10 horas da noite, para trata-lo de violentíssimos vômitos hemorrágicos. Este doente era magro, pálido de natureza, de 50 anos, caquético – diagnosticamos uma úlcera do estomago. Sustada a hemorragia sobrevieram vômitos que persistiram tenazmente, até a vinda ás águas. Aí chegado, disse-me ele, quatro dias depois do uso da fonte D. Pedro e D. Izabel, não vomitava mais. Este individuo está vivo e goza saúde.
É para mim um sinal prognóstico grave quando um doente, sofrendo do estomago, passar 30 ou mais dias nas águas de Caxambu e não melhorar muito, pelo menos.
As afecções intestinais, enterites crônicas, diarreias, constipação, dores abdominais, obedecem prontamente ao uso das fontes ferruginosas umas e das alcalinas outras.
A constipação é uma moléstia muito comum, quase sempre adquirida pela profissão mais ou menos sedentária. N’este estado, deve o doente usar das fontes D. Pedro, D. Leopoldina ou Duque de Saxe;
Dr. Urias Antonio da Silveira
Apesar de ser a esterilidade efeito de muitas causas, todavia as aguas de Caxambu têm aproveitado muitas vezes.
Quando a esterilidade é ligada a afecções do útero ou á fraqueza inata ou adquirida, raras são as mulheres casadas que não abençoem o uso das fontes ferruginosas.
Conhecemos uma ilustre senhora, que oito anos, a datar do último filho, na idade de 45 anos, depois de uma estação nas águas, ainda teve a inaudita felicidade de ter um filhinho, que faz hoje o encanto de seu lar doméstico.
As pielonefrites crônicas, as cistites crônicas, curam-se ou melhoram sob a influência das fontes alcalinas gasosas.
Vimos um caso de moléstia de Bright pronunciada, no período de hidropisia, com abundante albuminuria, viver longos anos, graças ao uso das fontes férreas e do leite, bebidos copiosamente.
Os cálculos renais, bem como a tendência tenaz a litíase, modificam-se muito sob o uso prolongado das alcalinas.
As cólicas renais, que constituem a sombra dos cálculos, vão sucessivamente desparecendo.
Todas as moléstias ou afecções caracterizadas por uma natural diminuição dos glóbulos vermelhos do sangue, a própria caquexia tuberculosa, são modificadas favoravelmente pelas fontes ferruginosas. 
AGUAS MINERAIS DE CAXAMBU
Trechos do Relatório da Comissão nomeada pelo Governo para proceder a Analise das Águas Minerais de Minas
Não é mais permitido duvidas hoje das imensas vantagens que se podem colher do emprego das aguas minerais no tratamento de um grande número de enfermidades, sobretudo crônicas, quando tem muitas vezes resistido ás aplicações mais racionais dos meios ordinários.
E isto é tanto verdade que alguns clínicos, que antes não acreditaram nas virtudes terapêuticas das águas minerais, baseados apenas na pequena proporção de princípios medicinais que elas encerram, se tem tornado depois acérrimos apologistas d’este método de tratamento pela observação de inúmeros fatos de cura, bem averiguados devidos, se não exclusivamente, ao menos em grande parte ao uso d’elas.
Muitas curas de enfermidades rebeldes se tem observado com o uso das aguas, mesmo longe das fontes ...
Estabelecidas, pois, estas bases e de acordo sobretudo, com os fatos, não resta dúvida que as águas minerais constituem recursos preciosos, muitas vezes heroicos em terapêutica.
As águas minerais de Caxambu, aliás já conhecidas desde muitos anos pelos habitantes dos arredores e apregoadas como possuindo virtudes especiais e extraordinárias e que lhes valeram a denominação de aguas santas, despertaram mais seriamente a atenção geral, depois da visita de sua Alteza Imperial e seu augusto esposa o Sr. Conde d’Eu, na excursão que fizeram á província de Minas.
D’estas fontes, a mais procurada e concorrida é a quem o nome de Duque de Saxe, reputada sulfurosa e classificada de férreo-gasosa.
Esta água se assemelha inteiramente ás outras todas, que são mais ou menos ricas de gás ácido carbônico livre., bicarbonatos alcalinos e terrosos, e uma proporção variável de ferro, que se torna mais notável nas águas D. Thereza, Conde d’Eu e, mais do que n’estas, na água D. Izabel.